Sábado, 27 de Julho de 2024

Home Economia Com preços a partir de 47 mil reais, carros básicos não são mais populares

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Fiat Uno 2015

Em 1980, o Gol nasceu com a missão de ser o sucessor do Fusca. Logo que as unidades começaram a sair das concessionárias, a primeira versão do carro da Volkswagen ganhou o apelido de “batedeira” por causa do motor carburado e arrefecido a ar. As versões seguintes foram modificadas, e o carro caiu no gosto do brasileiro.

Em 1994, o Gol bolinha, com maior espaço interno, porta-malas amplo e menos barulho, consolidou o sucesso. Calcula-se que, em quatro décadas, cerca de 5 milhões de unidades do Gol foram vendidas, mas a sua aposentadoria já foi decidida pela montadora alemã. O mesmo deve acontecer em breve com o Fiat Uno.

A saída de cena deles marca o fim de uma era. Quem sonha com um zero quilômetro já percebeu: não há mais carros populares no Brasil.

Os modelos de entrada estão sumindo das linhas de produção, e os disponíveis nas concessionárias vêm com preços nada populares, a partir de R$ 47 mil. E com vários modelos acima dos R$ 60 mil.

Esse quadro, segundo especialistas e a própria indústria, não está relacionado apenas à escassez global de semicondutores provocada pela pandemia, que tem limitado a produção das montadoras. A conjuntura intensificou o foco das marcas nos modelos premium, mas quem entende do mercado é taxativo: os preços populares não voltarão mais.

Padrões

Os dois carros zero quilômetro mais baratos do País atualmente são o Fiat Mobi e o Renault Kwid, cujos modelos mais básicos custam, respectivamente, R$ 47.301 e R$ 47.562, segundo a tabela Fipe.

O carro mais vendido do país neste ano é o Fiat Argo, segundo dados da Federação Nacional Distribuição Veículos Automotores (Fenabrave). A versão 2022 sai por nada menos que R$ 66.260, o equivalente a 55 salários mínimos, considerando o piso aprovado pelo Congresso para 2022.

As crescentes exigências regulatórias no Brasil, seguindo padrões de segurança de países desenvolvidos como a obrigatoriedade de airbags, encarecem os populares, dizem as montadoras. A partir de 2022, esses modelos também terão de contar com controle de vapores emitidos durante o abastecimento, mais um item no custo de produção.

Além disso, demandas do motorista brasileiro tornaram praticamente obrigatórias amenidades como ar-condicionado e sistema de entretenimento, mesmo no carro mais básico.

O diretor técnico da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Jr., diz que o carro “despojado e com o mínimo necessário” para pessoas de menor poder aquisitivo não existirá mais. Segundo ele, é uma tendência global iniciada nos EUA e na Europa:

“As exigências regulatórias são cada vez maiores e tornam os carros mais seguros e tecnológicos. Há regulamentos de controle de poluição, que exigem níveis cada vez menores de emissões. A régua sobe e traz um custo”, afirma.

As exigências mais conhecidas não são recentes: a obrigatoriedade do airbag e de freios ABS, por exemplo, é de 2014. Porém, Joseph Jr. diz que os padrões têm se elevado constantemente. Mais itens obrigatórios estão previstos: até janeiro de 2024, chega o controle eletrônico de estabilidade, que avalia condições de rodagem e freia rodas individualmente para corrigir instabilidades.

“Não é mais apenas o freio ABS, é um sistema mais complexo”, diz Joseph Jr.

Consumidor

Em 2024, o sensor de ré ou a câmera traseira também passará a ser de fábrica em todos os carros brasileiros. Além disso, há metas de eficiência energética a serem cumpridas pelos novos motores, o que exigirá mais investimento em pesquisa e desenvolvimento, observa o executivo da Anfavea.

Todas essas exigências entram na conta sobre tirar ou não de linha populares icônicos como o Gol e o Fiat Uno.

Também pesam mudanças no padrão de consumo do brasileiro. Pesquisas mostram menor interesse de jovens por automóveis. Para agradar aos consumidores mais exigentes, itens antes tidos como opcionais, como direção hidráulica ou elétrica, estão em quase todos os modelos à venda.

“O fim do carro popular não se dá só por exigências regulatórias, mas pela alta dos preços. A escassez de semicondutores não vai se resolver até 2023 e provoca, mês a mês, aumento de custos de matérias-primas e restrições de produção. O real desvalorizado também influencia os preços”, ressalta Milad Kalume, diretor de Desenvolvimento de Negócios da consultoria Jato. Ele continua: “Há itens incorporados pelas montadoras porque, se não colocar, o carro não é vendido, como o trio elétrico (alarme, vidro elétrico e travamento de portas) e o ar-condicionado.”

A escassez de semicondutores que paralisou linhas de montagem também trouxe uma mudança pontual na estratégia dos fabricantes, pontua Kalume. Historicamente, o Brasil sempre foi um mercado sensível a preço, com venda mais forte de carros menores e mais baratos. Mas, na falta de semicondutores, a prioridade é dos carros de maior valor.

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