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Por Redação Rádio Pampa | 7 de janeiro de 2022
A população já pode comprar ou conseguir gratuitamente testes de covid-19 para serem feitos em casa. Pelo menos, nos EUA e na Europa. Enquanto isso, no Brasil, a testagem continua centrada em clínicas, farmácias e serviços públicos.
Os autotestes caseiros são exames de antígeno. A própria pessoa coleta material (com auxílio de um swab, como em um PCR normal) e o deposita sobre uma superfície que aponta se está infectada ou não.
Os testes de antígeno, que procuram partículas do Sars-CoV-2, ganharam importância na pandemia por serem mais simples, em geral mais rápidos e também mais baratos que os PCR, que detectam material genético do vírus. Assim como os PCR, podem apresentar elevada capacidade de detecção do vírus.
O artigo 15 da resolução 36 da Anvisa diz que não podem ser fornecidos para leigos produtos que tenham a finalidade de diagnóstico de presença ou exposição a agente transmissível, “incluindo agentes que causam doenças infecciosas passíveis de notificação compulsória”.
Isso inviabilizaria os autotestes para covid no País, se não fosse por uma exceção. O parágrafo único do mesmo artigo estabelece que a proibição “poderá ser afastada por Resolução da Diretoria Colegiada, tendo em vista políticas públicas e ações estratégicas formalmente instituídas pelo Ministério da Saúde”.
E uma exceção para isso já ocorreu. Há alguns anos, após iniciativa do Ministério da Saúde, foram liberados os autotestes para HIV, que têm o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Antes disso, porém, havia temores quanto à liberação. Segundo Claudio Maierovitch Henriques, sanitarista da Fiocruz e presidente da Anvisa de 2003 a 2005, um deles era quanto a possíveis erros de uso do exame, o que poderia levar a resultados incorretos. Outra preocupação era com o impacto que o resultado poderia ter sobre a pessoa, principalmente se pensar em uma contaminação grave como a por HIV.
Mas, com o início da disponibilização de autotestes, vários desses mitos acabaram caindo, diz Henriques.
Apesar disso, procurada pela reportagem, a Anvisa relata algumas dessas questões para argumentar sobre não disponibilização dos autotestes para covid.
Segundo a agência, instrumentos de diagnóstico desse tipo envolvem riscos que precisam ser mitigados. A entidade afirma que é necessário levar em conta “o impacto relacionado a possíveis erros de execução de ensaios, que além de reverberar na qualidade de vida dos usuários, podem afetar os programas de saúde pública”.
“Portanto, a ampliação de acesso, inclusive ao público leigo, deve ser estudada com critério quanto aos riscos, benefícios e possíveis efeitos”, diz a Anvisa.
O sanitarista da Fiocruz, porém, não vê grandes riscos envolvidos na disponibilização de mais testes. Segundo ele, os autotestes fariam parte de uma política complementar e seriam importantes para atingir mais pessoas.
Algo que tanto o sanitarista quanto a Anvisa destacam é que a introdução dos autotestes deveria ser uma política pública.
No Reino Unido, por exemplo, o governo disponibiliza gratuitamente autotestes, manual de utilização e indica as situações adequadas para o uso, como em dias em que a pessoa estará em contextos de alto de risco de transmissão.
Na plaquinha onde se deposita a amostra para testagem, há ainda um QR Code para notificação ao National Health Service (NHS), o sistema britânico de saúde.
Segundo a Anvisa, os autotestes teriam que ser associados “ao atendimento e apoio clínico adequados e, conforme o caso, rastreamento de contatos para quebrar a cadeia de transmissão”.
Os testes em casa também devem começar a ser usados como instrumento de saúde pública na Dinamarca. No país, haverá uma maior disponibilização do exame caseiro para crianças e trabalhadores de escola, com incentivo a dois testes por semana, segundo a imprensa local, em uma tentativa de manter as unidades de ensino abertas, apesar do crescimento de casos.
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