Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Home Estilo de Vida Como deixar os exercícios físicos mais fáceis, segundo a ciência

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“Olhe por onde anda!” Você já deve ter ouvido alguém lhe dizer essa frase, talvez quando você, distraído por uma mensagem no telefone celular ou pela vitrine de uma loja, acabou trombando em alguém na rua. O que talvez você não saiba é que olhar para onde andamos pode também ter outra grande utilidade, além de evitar acidentes. Pode ajudar nos exercícios físicos.

A cientista comportamental americana Emily Balcetis, da New York University (EUA), diz que, ao longo dos últimos 20 anos, pesquisou por que é tão difícil para nós cumprir nossos objetivos com sucesso. “Por que em todo dia 1º de janeiro nós estabelecemos novos objetivos? E muitos desses objetivos, para a maioria das pessoas, estão ligados a saúde e ao condicionamento físico”, afirma Balcetis.

Segundo a cientista, a dificuldade em implementar tais objetivos, levando muitos de nós a repetir anualmente o mesmo ritual de resoluções de início de ano novo, não está ligada à falta de determinação ou incentivo. “O problema não é necessariamente nossa motivação, porque, mesmo quando estamos motivados, nós ainda temos dificuldades.”

As pesquisas de Balcetis indicam que, em grande medida, a solução não está no corpo ou em alguma parte misteriosa do cérebro, mas sim na nossa vista. Muitos de nós não estamos olhando para onde andamos.

“Descobrimos que parte do problema é a maneira como olhamos para o mundo à nossa volta – e nós não nos damos conta disso”, diz ela. “Nós não percebemos que nossos olhos, que pensamos estarem nos dizendo a verdade sobre como é o mundo, são na verdade parte do problema de por que não estamos caminhando o suficiente ou não estamos correndo toda a distância que gostaríamos ou estamos abandonando nossos objetivos antes de atingi-los.”

Pontos de vista

Em sua jornada para desvendar o mistério por trás da relação entre a nossa vista e as metas de exercício físico, Emily Balcetis conversou com aqueles que fizeram dessas metas seu ganha-pão: atletas olímpicos.

“Eu perguntei a esses atletas olímpicos, alguns dos melhores corredores do mundo, ‘Para onde você está olhando quando você está correndo até a linha de chegada?’” Balcetis disse que esperava respostas elaboradas, cheias de estratégias ligadas ao ambiente competitivo da prova.

“Eu achei que eles fossem tipo consumidores mestres de seu mundo visual, realmente prestando atenção nas pessoas contra quem estavam competindo, olhando para frente, olhando para trás. Mas eu estava errada”, afirma a cientista. “O que eles fazem é ficar focado na linha de chegada. E eu pensei, ‘Será que podemos ensinar nós todos, que não somos atletas olímpicos, a fazer o que esses especialistas fazem? E será que isso pode ajudar a melhorar a qualidade dos nossos exercícios?’.”

Emily Balcetis desenhou então um estudo em que dois grupos de pessoas tinham que andar, num passo rápido, na direção de uma linha de chegada, usando pesos amarrados a seus tornozelos. Os integrantes do primeiro – grupo de base – foram orientados a caminhar como caminhariam normalmente.

O segundo foi o grupo de intervenção, em que as pessoas foram orientadas a manter seus olhos fixos na linha de chegada. “Nós dissemos: ‘Tentem não olhar à sua volta. Imaginem que tenha uma luz brilhante nessa linha de chegada, como se vocês estivessem usando viseiras de cavalo, e agora tudo que vocês conseguem ver é aonde vocês estão tentando ir’.”

Antes da tarefa, as pessoas de ambos os grupos tiveram de dar suas estimativas de distância até a linha de chegada. O grupo de intervenção considerava que a linha de chegada estava 30% mais próxima que o grupo de base. Ao final do teste, o grupo de intervenção também alcançou a linha de chegada mais rapidamente. Segundo a cientista, o ritmo do segundo grupo foi 23% mais acelerado. “O que foi importante: eles disseram que não foi tão doloroso.”

Segundo ela, ao usar uma escala médica em que as pessoas podem relatar quanto esforço o exercício exigiu de seu corpo, o grupo de intervenção relatou 17% a menos que o outro. “Nós não mudamos nada a respeito da pista, nós não fizemos nada de diferente em relação ao exercício em si, mas mudou o estado mental.”

Foco visual e foco mental

O estudo realizado por Emily Balcetis sugere que o foco visual e o foco mental estão conectados. Isso significa que a nossa percepção sobre o exercício físico pode ser mudada, para que ele pareça e seja mais fácil de fazer.

“Ao tornar a atenção visual mais focada e estreita, as pessoas agora pensaram: ‘Ah, esse exercício não vai ser tão difícil. Eu acho que eu tenho condição de ir até a linha de chegada rapidamente. Eu acredito em mim mesmo’”, afirma.

Segundo a cientista, trata-se do impacto da visão sobre a mente. “Essa mudança no foco visual causou uma mudança no foco mental e na autoavaliação das pessoas sobre sua capacidade de concluir o exercício.” Ela diz que essa tática pode ser adotada independentemente de a pessoa aparecer para o exercício já em forma ou não.

Você pode já ter usado a tática de foco visual estreito sem perceber. Segundo Balcetis, atividades como balé ou ioga utilizam essa habilidade dos olhos para permitir que o corpo desempenhe tarefas exigidas por elas. O equilíbrio do corpo não seria obtido se os praticantes não concentrassem sua vista num alvo específico, um ponto de referência.

É preciso querer

Para essa ferramenta funcionar, porém, você precisa querer se exercitar. Segundo a cientista americana, nas pessoas que não têm objetivos, cuja motivação estava muito baixa, essa tática não funcionou. “Não é uma mágica”, diz ela. “Se você não quiser se exercitar, isso não criará para você um objetivo que você não tem.”

Trata-se, explica Balcetis, de uma tática que pode ajudar você a alcançar aquilo que você talvez esteja apenas começando a fazer ou em que esteja apenas começando a se interessar. “Ou algo em que você esteja se esforçando faz tempo, mas você precisava de um empurrãozinho extra para atingir um outro nível”, acrescenta ela.

Quando se trata de ficar em forma, sua mente pode ser tão importante quanto seus músculos. “Estudos feitos por colegas meus, da New York University, mostram que, quando achamos que algo é impossível, há verdadeiras mudanças no nosso corpo”, diz. “A pressão sanguínea sistólica cai.”

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