Segunda-feira, 12 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 11 de maio de 2025
Todos os dias, milhões de pessoas ao redor do mundo descascam frutas e vegetais antes de comê-los. É um gesto automático, herdado de costumes familiares ou apoiado pela ideia de que faz você comer de forma “mais limpa”. Mas esse ato aparentemente inocente é mais controverso do que parece. Embora isso possa parecer mais higiênico, a verdade é que a casca das frutas e vegetais é cheia de nutrientes.
No entanto, e aqui está o dilema, a casca também pode conter vestígios de pesticidas. A questão é: ao que devemos prestar mais atenção, aos nutrientes que perdemos ou aos pesticidas que evitamos? Um estudo publicado na Current Research in Food Science aborda o dilema e conclui que a resposta, como acontece com muitas questões relacionadas à alimentação, está longe de ser simples.
Carências
A casca da maçã contém quase o dobro de fibras que a polpa e uma alta concentração de compostos fenólicos que atuam como antioxidantes. Sua presença ajuda a manter o equilíbrio celular e a prevenir ou retardar danos celulares causado por radicais livres, e a exposição à poluição, à fumaça do tabaco ou à radiação UV produz estresse oxidativo. Esses elementos estão ligados ao envelhecimento celular e a doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, certos tipos de câncer e diabetes tipo 2.
Por outro lado, propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas também foram identificadas em frutas como peras, uvas e frutas cítricas, cujas cascas são uma fonte valiosa de vitamina C, flavonoides e óleos essenciais. A casca de alguns vegetais também oferece fontes importantes de fibras, potássio e antioxidantes, como polifenóis. É o caso das batatas, cenouras e pepinos. Outro exemplo é a casca de berinjela, rica em nasunina, um poderoso antioxidante que protege as membranas celulares dos danos oxidativos.
Presença de pesticidas
Em vista de tantas propriedades valiosas associadas à casca, parece que a balança penderia em favor do consumo de frutas e vegetais com casca. Contudo, descascá-los também tem suas justificativas. O mais óbvio, como mencionado, é a presença de resíduos de pesticidas na superfície. Embora os níveis sejam regulamentados por organizações como a EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar), alguns estudos encontraram traços dessas substâncias mesmo após a lavagem.
A boa notícia é que existem maneiras eficazes de reduzir a carga de pesticidas sem precisar sacrificar sua casca. Lavá-los em água corrente, esfregá-los com uma escova própria para alimentos ou deixá-los de molho brevemente em uma mistura de água, bicarbonato de sódio ou vinagre pode remover até 80/90% dos resíduos. Uma alternativa ideal é consumir produtos orgânicos ou produzidos localmente, onde o uso de pesticidas é mínimo ou inexistente.
Impacto ambiental
Segundo um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), 14% dos alimentos produzidos no mundo são perdidos antes de chegar ao consumidor. Uma parcela significativa desses resíduos vem de cascas descartadas.
Essas cascas, que poderiam ser usadas como alimento, acabam em aterros sanitários onde se decompõem e geram metano, um gás de efeito estufa muito mais potente que o dióxido de carbono. Vários estudos estimam que se o desperdício de frutas e vegetais fosse reduzido nas casas, as emissões globais de gases de efeito estufa diminuiriam significativamente. Além disso, alguns países já estão pesquisando maneiras de converter cascas em produtos úteis: de farinhas enriquecidas a bioplásticos, fertilizantes e ração animal.
O que fazer?
Descascar ou não descascar não deve ser uma decisão automática, mas sim informada. Se a fruta ou vegetal estiver bem lavado e vier de uma fonte confiável, é melhor, do ponto de vista nutricional e ecológico, consumi-lo com casca. Há exceções. Algumas cascas são muito duras, amargas ou contêm compostos indesejáveis, como é o caso da solanina nas cascas verdes da batata.
A solanina é um glicoalcaloide natural que as batatas produzem como defesa contra insetos e doenças. Ela se concentra principalmente na casca e nas áreas verdes do tubérculo. Embora a clorofila que dá a cor verde seja inofensiva, sua presença indica um potencial aumento de solanina. Comer batatas com altos níveis de solanina pode causar sintomas como náusea, diarreia, dor abdominal, dores de cabeça e, em casos graves, paralisia e alucinações.
Estudos recentes indicam que doses de solanina de 2 a 5 mg por quilo de peso corporal podem causar sintomas tóxicos, e doses acima de 6 mg/kg podem ser letais. Em última análise, é uma questão de avaliar cada caso individualmente, ponderando benefícios e riscos. A ciência nos convida a ver as conchas não como resíduos, mas como mais uma parte do alimento: nutritiva, versátil e, de muitas maneiras, subvalorizada.
No Ar: Pampa Na Madrugada