Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2025

Home Economia Crise econômica argentina trava operações e complica negócios de empresas brasileiras no país

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A saída do Itaú Unibanco da Argentina, onde operava há mais de 40 anos, reflete os efeitos da crise do país vizinho — com inflação acima de 100%, falta de divisas e a recente instabilidade política — nas empresas estrangeiras. O Itaú se junta a outras multinacionais que deixaram a Argentina nos últimos anos, como a farmacêutica americana Eli Lilly, a empresa de entregas colombiana Glovo e a rede chilena de lojas de departamentos Falabella.

A saída da Argentina ocorre às vésperas da eleição presidencial, que será em outubro, e em um cenário de inflação anual de 115% e desaceleração da economia.

Os motivos, dizem analistas, são falta de previsibilidade, insegurança jurídica, inflação elevada, restrições às importações e dificuldades na transferência de moeda estrangeira para o exterior.

O Itaú informou que vendeu a totalidade de sua operação na Argentina, onde estava desde 1979, para o Banco Macro por R$ 250 milhões. Em comunicado, o Itaú informa que manterá no país um escritório de representação. Em fato relevante, o banco informou que reconhecerá perdas não recorrentes próximas a R$ 1,2 bilhão quando a transação for concluída.

Para João Augusto Salles, analista da Senso Investimentos e especialista em bancos, embora a operação do Itaú seja pequena na Argentina, ela tem um significado regional importante:

“Eu acho que o Itaú acaba perdendo. Um escritório de representação é pouco, até porque a operação é rentável para o banco. Em termos de estratégia de região geográfica, acho que não é bom. Poderia ter segurado um pouco mais para ver em qual direção do vento a economia argentina tende a soprar”, explica o analista.

Três meses

Para as empresas brasileiras que exportam para a Argentina, o maior problema é cambial. Sem reservas, o governo argentino vem criando barreiras à obtenção de dólares, inclusive para pagar exportações.

“Os calçadistas vêm tendo problemas, especialmente em função das dificuldades no acesso ao mercado de câmbio e do dilatado prazo para pagamento das importações, que chega a seis meses”, diz o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira.

Ele observa que após a criação do imposto Pais (sigla de “Por uma Argentina Inclusiva e Solidária”) sobre produtos importados, em julho, a situação ficou mais complicada e já se reflete na redução das vendas aos argentinos.

O diretor financeiro da Agrale, Leonardo Moroziuk, conta que a filial argentina está amargando mais de 90 dias para obter autorização para pagar fornecedores no Brasil, que já avisaram que estão no limite da tolerância.

“Somos uma empresa binacional e compramos 90% de nossos insumos no Brasil. Até julho, a demora para ter acesso a dólares para pagar nossos fornecedores brasileiros era de 90 dias, mas foi ampliada em mais 45 ou até 60 dias”, diz Moroziuk, que é vice-presidente da Câmara de Comércio Indústria e Serviços Argentino-brasileira.

A Agrale, cuja sede é em Caxias do Sul, produz chassis na Argentina há 20 anos.

Pagamento à vista

Já Giovanni Cardoso, fundador e CEO da fabricante de eletroportáteis Mondial, conta que exporta ao país vizinho apenas 10% do que poderia:

“A Argentina é um mercado consumidor muito importante, com mais de 40 milhões de pessoas. Eles têm boa vontade, mas não têm divisas para pagar pelas importações”, diz Cardoso, acrescentando que “se a Argentina tivesse dólares, as exportações seriam feitas normalmente”.

Outro empresário brasileiro, este do setor de eletrônicos, disse, sob a condição de anonimato, que o pouco que vende a Argentina é feito “à vista e de forma antecipada” justamente por conta das incertezas de pagamento.

Ele vê com bons olhos a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que pode ser criada uma linha no Banco do Brasil para permitir o pagamento em yuans para exportações brasileiras à Argentina.

 

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