Segunda-feira, 09 de Setembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 20 de maio de 2024
A tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul tem dominado as redes desde o fim de abril, quando as águas começaram a inundar as cidades do Estado. Mas à medida que a crise foi avançando, o debate a respeito do impacto do desastre e a solidariedade às vítimas deu lugar a discussões sobre circulação de fake news e desinformação.
É o que mostra um levantamento realizado pela Escola de Comunicação Digital da FGV Rio de Janeiro a partir de publicações no X (ex-Twitter), Instagram, TikTok, YouTube e mensagens em grupos de WhatsApp.
Somente no X, em um universo de 8 milhões de tuítes analisados, a média de menções diárias a termos relacionados ao assunto saltaram de 10.825 entre os dias 1º e 6 para 115.775 por dia entre os dias 7 e 10, um número dez vezes maior. Foram levados em conta conteúdos com termos como “fake news”, “notícias falsas”, “mentiras” e “desinformação”.
A mudança nos tipos de conteúdo relacionados à catástrofe no Sul – de informações sobre o que ocorria para uma onda de fake news — é reforçada pelos dados dos 200 grupos de debate político no WhatsApp monitorados pela FGV. O volume de mensagens contendo termos associados à desinformação nesses grupos aumentou 16 vezes na comparação entre os dois períodos pesquisados.
Nessa segunda fase, enquanto perfis oficiais do governo brasileiro e militantes buscavam denunciar conteúdos mentirosos, perfis fora da órbita do governo – especialmente os da direita – embarcaram em narrativas que misturavam críticas à uma suposta inação do estado com mentiras sobre falta de atendimento que em muitos casos levaram à revolta contra instituições que participavam dos trabalhos de resgate no Rio Grande do Sul.
O levantamento também elaborou uma nuvem de palavras – uma representação dos termos ou nomes mais citados pelas publicações sobre as chuvas no RS no X em um intervalo maior, de 1º a 15 deste mês. O recurso facilita a identificação dos assuntos que protagonizam o debate tipicamente fragmentado das redes.
Os três temas mais citados foram fake news, Paulo Pimenta, então chefe da Secom e atual ministro da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do RS, e Pablo Marçal – influencer apontado pelo governo Lula como responsável por iniciar a disseminação de fake news sobre o desastre gaúcho.
Marçal tem 10 milhões de seguidores no Instagram e 1,7 milhão no TikTok e esteve no centro da polêmica sobre desinformação após publicar no dia 5 de maio um vídeo acusando as Forças Armadas de inércia diante do trabalho de resgate às vítimas.
“Gente que tem Exército na mão, gente que tem navio de guerra, não dá conta de fazer nada”, dizia Marçal no vídeo. “O empresário, sozinho, um empresário, mandou mais aeronave do que a Força Aérea Brasileira. Tem alguma coisa errada acontecendo. É tipo assim, é civil salvando civil, então não vamos esperar esse povo, não”.
Depois da veiculação do vídeo, a Advocacia-Geral da União (AGU) de Lula cobrou o influenciador, que é pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo nanico PRTB, a se retratar e divulgar informações corretas – o que ainda não aconteceu. Marçal, porém, diminuiu os ataques ao governo federal.
Já Pimenta, que é gaúcho, assumiu o papel de porta-voz da gestão Lula durante os desdobramentos das chuvas e, como titular da Secom, acionou o Ministério da Justiça solicitando a investigação de autores de publicações apontadas como fake news – entre eles o próprio Marçal, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Cleitinho (Republicanos-MG). A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar o caso.
Para o sociólogo Marco Aurélio Ruediger, que coordenou o trabalho, o caso de Marçal é ilustrativo do impacto de redes onde predominam conteúdos visuais, como TikTok, Instagram e YouTube. Segundo ele, essas plataformas têm um potencial muito maior do que o X (ex-Twitter) ou o próprio WhatsApp de furar bolhas no ambiente de polarização política.
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No Ar: Pampa Na Madrugada