Quarta-feira, 19 de Março de 2025

Home em foco Desconfiança de Lula amplia crise com Forças Armadas

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A desconfiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a atuação das Forças Armadas é vista na caserna como um pedido de divórcio litigioso. Embora a relação entre Lula, o PT e os militares nunca tenha sido boa, deteriorando-se ainda mais no governo de Dilma Rousseff, a invasão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF) por pouco não fez com que o antigo estremecimento virasse ruptura.

Em conversas reservadas, conselheiros de Lula com trânsito nas Forças Armadas dizem que a hora é de virar a página, e não de “caça às bruxas”. Argumentam que isso não significa o arquivamento de punições aos atos de vandalismo praticados no domingo, 8, na Praça dos Três Poderes. Ao contrário: na visão de ex-ministros da Defesa, como Nelson Jobim, Raul Jungmann e Aldo Rebelo, as penas para quem cometeu crimes precisam ser duras e exemplares, mas o discurso de Lula deve promover o distensionamento.

A pressão da cúpula do PT para Lula demitir o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, contraria as Forças Armadas, que hoje o veem como único nome capaz de apaziguar a relação dos militares com o Planalto. Se antes a caserna encarava o político Múcio com pé atrás, hoje ele é considerado como uma espécie de fiador da estabilidade. A portas fechadas, oficiais dizem que a eventual saída de Múcio pode agravar a crise. Na outra ponta, dirigentes do PT afirmam que, se Lula não desbolsonarizar as Forças Armadas, os militares tentarão “tutelar” o governo.

Rusgas

Três generais ouvidos sob a condição de anonimato se mostraram preocupados com a insistência do PT em mudar o currículo das academias militares para introduzir ali temas referentes a direitos humanos. Além disso, o partido quer que a expressão “revolução de 1964″ seja substituída por “golpe” no material escolar.

Na economia, as Forças Armadas são contra a criação de uma moeda comum do Mercosul. A discussão já provocou ruídos. O governo alega que a ideia não diz respeito à adoção de uma cédula única, como o euro. As conversas giram em torno da possibilidade de se estabelecer uma moeda comum, que seria usada em negociações comerciais entre integrantes do bloco sul-americano. Mesmo assim, militares acham que a proposta fere a soberania nacional.

Caso Pazuello

As queixas não param aí. Há um mal-estar na caserna com o possível levantamento de sigilo do processo administrativo aberto pelo Exército contra o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que fez uma gestão desastrosa à frente da pasta. O ministro do STF Gilmar Mendes chegou a dizer, à época, que o Exército estava se associando a um “genocídio” ao aceitar teses negacionistas na condução da pandemia de covid.

Agora, a Controladoria Geral da União (CGU) deve determinar a divulgação, na íntegra, do processo que apurou a participação de Pazuello – hoje deputado federal eleito – em ato político no Rio, em 2021.

A tendência do governo de autorizar a abertura desse sigilo é encarada pelas Forças Armadas como sinal de que existe um “terceiro turno” em vigor, com consequências imprevisíveis.

Falta de confiança

Na prática, desde que Dilma abriu a Comissão da Verdade, em 2011, para investigar abusos cometidos contra direitos humanos na ditadura, o relacionamento dos militares com o PT parece caminhar para um acerto de contas. Agora, o retorno da presidente cassada a cerimônias do novo governo é motivo de desconforto entre oficiais de alta patente, que temem sua influência sobre Lula.

A relação entre Lula, PT e Forças Armadas dá sinais cada vez mais claros de desgaste, que muitos consideram incontornável. O endurecimento do presidente com os militares, após as depredações de domingo, foi comemorado pela cúpula do partido e visto com apreensão por algumas alas da caserna. “As Forças Armadas não são poder moderador, como pensam que são”, disse Lula em café da manhã com jornalistas.

Sem fazer distinções, o presidente admitiu não querer a seu lado nem mesmo um ajudante de ordens militar, por absoluta falta de confiança. “Como vou ter uma pessoa, na porta da minha sala, que pode me dar um tiro?”, perguntou.

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