Quinta-feira, 22 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 21 de maio de 2025
No que parece ter se tornado uma nova rotina da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se envolveu em uma áspera discussão, pontuada por acusações sem comprovação, com seu convidado no Salão Oval, o líder da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Ali, ele repetiu, com a ajuda de um suposto vídeo, alegações de que há um “genocídio branco” no país, que nas últimas semanas motivaram até a suspensão de ajuda aos sul-africanos.
O tema era o grande elefante na sala deste encontro na Casa Branca. O governo americano recebeu em 12 de maio, 49 africâneres como refugiados – apesar de ter congelado a política de acolhimento aos demais refugiados – alegando que eles eram perseguidos na África do Sul. Uma alegação defendida pelo seu conselheiro Elon Musk, que é sul-africano. Não há, no entanto, qualquer prova de perseguição política aos sul-africanos brancos.
Ramaphosa chegou para o encontro decido a focar em temas econômicos. Eles começaram a conversa aberta com a imprensa com amenidades sobre golfe e política externa. Contudo, o clima no Salão Oval foi ficando angustiante para o presidente da África do Sul quando Trump abaixou as luzes para exibir uma série de vídeos que “provariam” que há “um banho de sangue” contra africâneres no país.
A delegação sul-africana assistiu ao vídeo sentada em silêncio, observando, com um ar um tanto confuso e perplexo. Ramaphosa parecia desconfortável e sem saber como reagir. Ele esfregou as mãos no rosto algumas vezes e se remexeu na cadeira, olhando para o chão.
Embora Ramaphosa tenha se mantido calmo em todo o momento da reunião, jornais americanos compararam o momento com o bate-boca protagonizado por Trump e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, no mesmo local em fevereiro.
“Estes são locais de sepultamento, bem aqui”, diz Trump, apontando para a tela. O líder sul-africano se virou para encará-lo. “Gostaria de saber onde fica isso, porque nunca vi isso”, diz Ramaphosa, sugerindo, sem dizer diretamente, que Trump estava sendo enganado e que o vídeo é de outro lugar que não a África do Sul.
As imagens apontadas por Trump eram de cruzes e montes de terra que, segundo ele, representavam mais de 1.000 sepulturas de agricultores assassinados. Os montes eram, na verdade, parte de um protesto contra a violência, e não sepulturas propriamente ditas.
O americano também expôs artigos impressos que, segundo ele, eram sobre os assassinatos de brancos na África do Sul. Folheou-os, repetindo: “Morte, morte, morte”.
Resposta a Trump
Ramaphosa tentou argumentar calmante com o presidente americano, que se mostrava irredutível. O sul-africano pontuou que sim, houve assassinatos de agricultores brancos, mas dados policiais na África do Sul mostram que eles não são mortos em uma taxa maior do que outros sul-africanos.
Ele reconheceu que a África do Sul em geral tem um problema de criminalidade. De fato, de abril de 2020 a março de 2024, 225 pessoas foram mortas em fazendas na África do Sul, de acordo com autoridades policiais sul-africanas. Mas muitas das vítimas — 101 — eram trabalhadores que viviam em fazendas, que tendem a ser negros. 53 das vítimas eram agricultores, que geralmente são brancos.
Africanos brancos, dois jogadores de golfe e um magnata, acompanhavam a reunião e, também tentaram argumentar contra a tese de genocídio. Trump pareceu se acalmar apenas quando Johann Rupert, um bilionário sul-africano branco, implorou por ajuda e disse que o crime era generalizado, não apenas contra fazendeiros brancos.
Acusação sem provas
Entre os clipes exibidos por Trump, parecia haver um comício de um partido político pequeno. Nenhuma das imagens apresentadas pareciam trazer evidências de um suposto genocídio de fazendeiros brancos. Mas Trump continua insistindo que isso está acontecendo.
“Vocês estão tirando as terras das pessoas e, em muitos casos, essas pessoas estão sendo executadas”, afirmou Trump sem provas. Embora o governo sul-africano tenha aprovado uma lei que permite a tomada de terras sem indenização, nenhuma desapropriação foi feita até o momento e o processo está sujeito a revisão judicial.
Avião do Qatar
Trump ficou irritado durante a reunião quando um repórter perguntou sobre sua disposição em aceitar um avião de US$ 400 milhões do Catar, que ele quer adaptar para uso como um novo Air Force One.
“Desculpe, não tenho um avião para lhe dar”, disse Ramaphosa, provocando algumas risadas e quebrando temporariamente a tensão. “Gostaria que sim”, disse Trump. “Eu aceitaria.” Com informações de O Estado de S. Paulo
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