Sexta-feira, 04 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 3 de julho de 2025
O ex-assessor especial de Jair Bolsonaro (PL), Tércio Arnaud Tomaz, prestou depoimento à Polícia Federal (PF) nessa quinta-feira (3), em Brasília, no âmbito das investigações sobre o chamado “gabinete do ódio”.
Durante o depoimento, Tércio foi questionado sobre a suposta atuação de cerca de 11 pessoas ligadas ao grupo. Entre os nomes mencionados pelos investigadores estão o do escritor e ideólogo Olavo de Carvalho, falecido em 2022; das deputadas federais Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF); e do empresário Luciano Hang, conhecido apoiador do bolsonarismo.
Tércio negou a existência do núcleo estruturado para coordenar campanhas de desinformação e ataques virtuais. Também afirmou não reconhecer parte dos nomes mencionados pelos investigadores. Ele trabalhou próximo a Bolsonaro durante quase toda a gestão do ex-presidente, tendo atuado diretamente no Palácio do Planalto, e atualmente ocupa um cargo no Partido Liberal (PL).
O depoimento ocorreu na sede da PF e teve duração de aproximadamente uma hora. A oitiva faz parte das diligências realizadas no âmbito do inquérito das fake news, instaurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019, que investiga a existência de milícias digitais com o objetivo de minar as instituições democráticas.
Na saída da oitiva, o advogado de Tércio, Eduardo Kuntz, destacou a disposição do seu cliente em colaborar com as investigações e reforçou que o chamado foi para prestar esclarecimentos como investigado.
“Ele foi chamado hoje como investigado, não como testemunha, para explicar principalmente sobre o gabinete do ódio. Assim como fez na CPI (das fake news), se colocou à disposição para novos esclarecimentos. Parece que é por conta das novas diligências que foram abertas no próprio inquérito das fake news e faz parte disso ouvir os investigados, entre eles agora o Tércio”, comentou.
A investigação segue sob sigilo, mas deve se aprofundar nas ligações entre figuras públicas, parlamentares, influenciadores digitais e empresários que apoiaram o governo Bolsonaro. A expectativa é de que novos depoimentos sejam colhidos nas próximas semanas como parte da ampliação das apurações determinadas pelo STF.
Entenda
O chamado “gabinete do ódio” é o nome atribuído a um grupo de assessores ligados ao então presidente Jair Bolsonaro que atuavam diretamente no Palácio do Planalto. Segundo investigações e depoimentos, essa equipe era coordenada por Bolsonaro e por um dos seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, com o objetivo de gerenciar as redes sociais do ex-presidente e promover estratégias de comunicação digital de cunho político. A origem do grupo remonta à campanha eleitoral de 2018 e suas atividades teriam se estendido até o fim do mandato presidencial, em 2022.
As primeiras denúncias sobre a existência de uma estrutura informal voltada à disseminação de desinformação e ataques virtuais surgiram em 2019, quando a então deputada federal Joice Hasselmann, que à época havia rompido com o governo, acusou publicamente o grupo de operar uma “milícia virtual”. De acordo com ela, o núcleo seria responsável por gerenciar perfis falsos em redes sociais, promover campanhas de desinformação e espalhar fake news contra opositores políticos.
Entre os episódios mencionados por Joice, está a atuação do grupo na eleição presidencial de 2018, com a disseminação de conteúdos falsos vinculando Fernando Haddad (hoje ministro da Fazenda) a temas polêmicos para desestabilizá-lo politicamente. Ela também afirmou que os integrantes do “gabinete do ódio” propagaram notícias falsas sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em março de 2018, alegando de forma infundada que ela seria casada com um traficante e apoiadora da facção criminosa Comando Vermelho.
A existência do grupo foi revelada pela primeira vez pela imprensa em setembro de 2019, por meio de uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo. A repercussão levou à criação da CPMI das Fake News no Congresso Nacional, onde diversos parlamentares, inclusive ex-aliados do bolsonarismo, como Alexandre Frota e Heitor Freire, confirmaram a existência da estrutura. Os relatos descrevem o uso sistemático de redes sociais, perfis falsos e ferramentas de disparo em massa, especialmente via WhatsApp, para influenciar a opinião pública e atacar adversários políticos do governo. (Com informações da CNN Brasil)
No Ar: Pampa Na Tarde