Quinta-feira, 02 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 1 de outubro de 2025
Um extrato específico de Cannabis pode aliviar dores lombares crônicas sem criar dependência, segundo um ensaio clínico publicado nesta segunda-feira (29), que, de acordo com alguns especialistas, demonstra pela primeira vez que essa substância, especialmente desenvolvida para esses testes, seria capaz de tratar a dor.
A dor lombar crônica é considerada um dos maiores problemas de saúde pública: afeta mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo e figura entre as principais causas de incapacidade e afastamento do trabalho. Os tratamentos disponíveis são limitados: os anti-inflamatórios não esteroides aumentam o risco de problemas cardiovasculares e gastrointestinais quando usados a longo prazo, e os opioides, embora eficazes, têm alto potencial de vício e efeitos colaterais graves.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), as dores lombares, que afetam mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo, são a principal causa de invalidez.
Os medicamentos usados para tratar esse tipo de dor se limitam a analgésicos comuns, como o ibuprofeno, que pode provocar efeitos colaterais graves em caso de uso prolongado, ou aos opioides, que criam forte dependência e podem ser perigosos.
O setor em plena expansão da produção de Cannabis afirma que uma gama de produtos à base de maconha ou de canabidiol (CBD) pode ajudar a aliviar as dores, mas, segundo os pesquisadores, não havia até agora estudos confiáveis que sustentassem essa hipótese.
Os resultados de um ensaio clínico de fase 3 controlado por placebo foram publicados na revista Nature Medicine.
Participantes
O estudo envolveu mais de 800 pessoas cujas dores lombares crônicas não eram aliviadas pelos medicamentos. Os participantes foram convidados a avaliar seu nível de dor em uma escala de 1 a 10, após terem tomado o extrato de Cannabis chamado VER-01, ou um placebo, durante um período de três meses a um ano.
Após 12 semanas, os que tomaram o extrato —uma dose de VER-01 com 2,5 miligramas de THC, o principal ingrediente ativo da maconha— relataram uma redução da dor de 1,9 ponto, em comparação a 0,6 ponto no grupo placebo.
Após seis meses, os participantes que consumiram o extrato afirmaram que sua dor diminuiu em mais 2,9 pontos. Eles também registraram melhora no sono, nas aptidões físicas e na qualidade de vida.
Segundo o estudo, o extrato tomado nessa dose não teria provocado dependência, nem efeitos colaterais graves.
Matthias Karst, autor principal do estudo e professor de medicina da dor na Faculdade de Medicina de Hanôver, na Alemanha, destalhou à AFP que “nenhum efeito euforizante” foi observado durante o ensaio.
Efeitos adversos e segurança
O tratamento foi considerado relativamente bem tolerado. Entre os 691 pacientes que receberam VER-01 ao longo das fases, 86% relataram algum efeito adverso, sendo a maioria leve ou moderado. Os mais comuns foram tontura (40,8%); náusea (15,6%) e sonolência (10,7%)
Em cerca de 5% dos casos, a tontura levou à interrupção do tratamento. Houve ainda 2,3% de eventos adversos graves relacionados à droga, incluindo episódios raros de síncope e alucinações.
Um ponto central é que não foram observados sinais de escalada de dose, abuso, dependência ou abstinência. Mesmo após a suspensão abrupta, os pacientes não apresentaram quadro compatível com síndrome de abstinência significativa.
Impacto e limitações
Os autores destacam que o extrato “mostra potencial para se tornar uma estratégia promissora de manejo da dor não aditiva”, especialmente em meio à crise global de opioides.
Ainda assim, há ressalvas importantes:
• O estudo foi restrito a Alemanha e Áustria;
• Profissionais que dirigem veículos ou operam máquinas foram excluídos; Pacientes com doenças graves, histórico de transtornos mentais ou uso prévio de cannabis também não participaram;
• A pesquisa foi financiada pela Vertanical GmbH, fabricante do extrato, o que reforça a necessidade de validação independente.
De acordo com a agência de notícias Associated Press (AP), a Vertanical entrou com um pedido para aprovação do seu medicamento junto aos órgãos reguladores europeus. Nos EUA, a empresa afirma estar “trabalhando em estreita colaboração” com os órgãos reguladores para elaborar um estudo que embase a aprovação do FDA. Com informações do g1 e Folha de S. Paulo.