Quarta-feira, 05 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de maio de 2023
Na semana em que o governo amargou derrotas em série no Congresso e ministros foram alvos de críticas e esvaziamentos em suas pastas, Fernando Haddad viu o projeto do novo arcabouço fiscal, prioritário para o Palácio do Planalto e capitaneado por ele, passar com folga no plenário da Câmara, que aprovou a proposta por 372 votos a 108. O resultado, além de contrastar com o desempenho recente do governo na Casa, alçou um petista tido por colegas como um personagem de pouco traquejo político ao posto de articulador eficiente e interlocutor do Executivo junto ao Centrão — ponto sensível do governo neste início de Lula 3.
Além do empenho do ministro nas negociações, pesou em favor de Haddad o fato de a maioria dos congressistas da nova legislatura apresentar perfil mais liberal. Desde o início, o Parlamento emite sinais de que seria preciso o governo apresentar um pacote de compromissos com responsabilidade nos gastos públicos. À frente da Fazenda, o petista também vem se mostrando mais flexível. Ele abandonou antigas ideias, como a de promover uma reforma bancária proposta na campanha presidencial de 2018, e conseguiu se aproximar do mercado.
Haddad soube entregar o produto que o Congresso estava disposto a comprar, mas não sem sustos. O ministro foi alertado de que o União Brasil, partido da base que indicou três ministros, apoiaria uma proposta do PL, de Jair Bolsonaro, que limitava o crescimento das despesas em 2024. A crise se instalou no gabinete. O texto principal do arcabouço havia sido aprovado na noite anterior e faltavam ser apreciados apenas destaques apresentados pela oposição.
Se o acréscimo fosse aprovado, o ministério previa no próximo ano um colapso nas áreas de saúde e educação e a paralisação de obras pelo país. Diante do risco de revés, Haddad imediatamente começou a fazer ligações para os seus “parças” — forma como o ministro se refere nas conversas internas às lideranças do Legislativo com quem estreitou a relação nos últimos meses de intensa articulação.
Com o apoio maciço de PP e Republicanos, dois partidos que não fazem parte da base, o governo garantiu 309 votos e conseguiu barrar a iniciativa. No momento em que os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o responsável pela negociação com o Congresso, e o da Casa Civil, Rui Costa, são alvos de queixas cotidianas, Haddad tem construído canais de diálogos com lideranças hostis aos seus colegas.
Relação com Lira
O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que em abril definiu Padilha como “um sujeito fino e educado, mas com dificuldades”, elogiou nesta semana a “sensibilidade gigantesca” do ministro da Fazenda com o Congresso. Em outra ocasião, contudo, pontuou que o arcabouço não deveria ser encarado como termômetro da relação entre Planalto e Parlamento.
“Essa não é uma matéria de governo, de oposição. É uma matéria de país. Mas essa, tanto quanto a (reforma) tributária, vão ser tratadas absolutamente à margem de todo o problema ainda de articulação, formação de base que o governo tenha no Congresso”, definiu.
A relação entre Haddad e Lira é recente. Eles só se conheceram em dezembro do ano passado, quando se reuniram para discutir os termos da PEC da Transição — a proposta garantiu dinheiro extra para o governo implantar as promessas de campanha. As discussões, na época, estavam travadas. Uma ala da equipe de transição petista defendia que o futuro governo não precisava da PEC. Alegava que poderia garantir a regularidade fiscal com uma liminar (decisão provisória) do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinava que as despesas com o Bolsa Família estavam fora do teto de gastos. A posição de Haddad, a favor da PEC, porém, prevaleceu, o que lhe deu cacife tanto com Lira quanto com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Neste ano, os diálogos se intensificaram. Nos últimos dois meses, Haddad e Lira mantiveram conversas quase diárias. Segundo aliados, um dos trunfos do ministro da Fazenda tem sido só prometer o que pode realmente cumprir. A fidelidade aos acordos vem do tempo em que ajudava o pai na loja de tecidos da família na 25 de Março, rua de comércio popular em São Paulo.
O princípio é seguido no pagamento de emendas parlamentares. Com as chaves do cofre do governo, a ordem dada pela Fazenda ao Tesouro Nacional é que os recursos acordados devem ser liberados para que a Secretaria das Relações Institucionais faça os pagamentos.
As críticas a Padilha no Congresso se dão justamente porque ele não consegue, dentro do governo, fazer valer acordos que fecha, principalmente para nomeações que dependem de outras pastas.