Quarta-feira, 22 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 8 de novembro de 2022
Alexsander Felipe Matos Mendes, filho afetivo da ex-deputada Flordelis, contou em depoimento que ela afirmou, após o enterro do pastor Anderson do Carmo, que estava “livre”. Ouvido no segundo dia do julgamento dos réus pelo assassinato do pastor, Alexsander, uma das testemunhas, disse que foi até a casa da família em Niterói após o sepultamento.
Ele contou que, Flordelis disse, abrindo os braços: “Estou livre”. Alexander pediu para ser ouvido por videoconferência e evitar ficar frente à frente com a ex-deputada federal e os réus.
“Eu não sei qual seria minha reação”, disse ele, que também explicou o motivo de não se referir mais a si mesmo como Luan Santos, um nome que, segundo ele, foi dado por Flordelis.
“Porque eu não quero mais nada que me lembre esse passado. Porque Luan foi ela quem colocou (Flordelis). Eu era o único que estava sem um nome, artístico, digamos. E o Santos eu coloquei em homenagem a ela”, afirmou.
Alexsander reforçou que havia facções diversas dentro da casa de Flordelis. Segundo ele, havia um bom tratamento se a pessoa concordasse com ela. Porém, em caso contrário, a situação era bem diferente.
“Quando você era contra Flordelis e quem estava com ela, você era o próprio demônio. Era Time A e Time B, time do bem e time do mal”, disse ele.
Além de Flordelis e seu filho afetivo, André Luiz, outras três pessoas também participam do júri popular por envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo, no dia 16 de junho de 2019. São elas: Simone dos Santos, que é filha biológica de Flordelis; a neta Rayane dos Santos; e Marzy Teixeira, que é filha adotiva.
As tentativas de envenenamento de Anderson foram citadas por Alexsander. Ele contou que teve um diálogo com Simone, uma das rés do caso, em que ela citou ordens de procurar Marzy:
“A Flordelis ficou com raiva da Simone. Porque ela disse que não tinha condição de fazer. A Simone me contou que a Flordelis disse: ‘Já que você não vai fazer, então procura a Marzy para ela fazer isso’”, relatou Alexsander.
Atraso
O julgamento começou com mais de uma hora e meia de atraso porque André Luiz, um dos réus, não foi listado pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), o que fez com que o processo demorasse mais do que o previsto.
André Luiz passou a noite na Cadeia Pública Patrícia Acioli, em São Gonçalo, na Região Metropolitana. Os outros presos vieram do Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.
Em nota, a Seap afirmou que o problema ocorreu por uma falha individual.
Início do julgamento
O primeiro a depor foi Tiago Vaz de Souza, policial civil da equipe de Allan Duarte na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. O depoimento durou pouco mais de duas horas.
Desde os primeiros momentos do segundo dia, Flordelis cobriu o rosto com um pano xadrez, que só deixava seus olhos à vista.
O inspetor relembrou os relatos de que teriam “dado fim” no celular do pastor Anderson do Carmo após sua morte. Mesmo assim, a equipe de policiais conseguiu acesso aos dados do celular da vítima.
“Eles obtiveram autorização judicial para que se baixasse o conteúdo na nuvem, e isso está nos autos”, afirmou Tiago.
O agente lembrou que Luan e Daniel, que testemunharam contra Flordelis na Delegacia de Homicídios, teriam recebido ofertas suspeitas após o crime.
Luan, segundo ele, ouviu de Flordelis que ela pagaria uma passagem para os Estados Unidos, onde gostaria de estudar.
“Foi visto por nós como uma tentativa de eliminar, de afastar uma testemunha. Daniel afirma que recebeu uma oferta em dinheiro”, disse o policial.
O inspetor também citou privilégios que existiriam dentro da casa entre os filhos e citou tentativas anteriores para tentar matar Anderson, que incluem envenenamento e até a tentativa de contratação de um pistoleiro.
Duas pessoas, segundo Tiago, chegaram a ser envenenadas nessas tentativas dentro da casa.
As informações também foram citadas no primeiro dia de julgamento pelo delegado Allan Duarte, que indiciou Flordelis pelo crime em 2020.
“Inclusive, a própria Rayane teria contatado Erica e perguntado se ela não conhecia nenhum bandido. Em determinado momento, apareceu na igreja um pistoleiro, mas ele estava lá e cobrou R$ 2 mil que teriam sido combinados, segundo ele por Rayane. Só não efetuou por motivos alheios à sua vontade”, disse Tiago.
O policial também especificou que, segundo a investigação, Flávio dos Santos Rodrigues, filho de Flordelis, pagou R$ 8,5 mil pela arma utilizada para matar o pastor Anderson.
“Você junta testemunhas, informações. Ele era dependente de Flordelis. Todas as circunstâncias apontam que Flordelis deu esse dinheiro. Lucas e Flávio foram para a Nova Holanda comprar essa pistola”, explicou o inspetor, ao ser questionado pela defesa de Flordelis sobre o que indicava que ela teria dado esse dinheiro para a compra da ara.
Em novembro de 2021, ele foi condenado a 33 anos e dois meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, porte ilegal de arma, uso de documento ilegal e associação criminosa armada.
Questionado pela defesa de Flordelis se a investigação “deduziu” que ela tinha participação nos planos para matar Anderson, Tiago lembrou dos planos encontrados em documento no bloco de notas de um dos envolvidos no crime. Em 2020, a própria Flordelis alegou saber da existência deste plano.
“Não é dedução, é investigação. Quando você lê o conteúdo, você percebe a cadeia de comando da família”, afirmou.