Quarta-feira, 26 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de setembro de 2023
O G20 chegou a um consenso para a “Declaração dos Líderes de Nova Déli”, ultrapassando o embate em torno da guerra da Ucrânia com condenação ao “uso de força contra a integridade territorial, a soberania e a integridade de qualquer estado” e com a consideração de que “o uso ou a ameaça de uso de armas nucleares é inadmissível”.
É um texto mais moderado e genérico do que aquele aprovado na cúpula do ano passado quando se declarou que o G20 “deplora nos mais fortes termos a agressão da Rússia e exige sua completa e incondicional retirada do território ucraniano”.
O documento, no entanto, reitera as considerações já feitas no ano passado sobre o “sofrimento humano” provocado pelos “impactos da guerra da Ucrânia sobre a segurança energética e alimentar, sobre as cadeias de suprimento, sobre a estabilidade financeira, a inflação e o crescimento”. E acrescentou que este impacto afetou, especialmente, “países em desenvolvimento e subdesenvolvidos que ainda estão se recuperando da pandemia da covid-19”.
O consenso foi anunciado pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no início da segunda sessão do G20. No vídeo divulgado, os líderes presentes comemoram batendo à mesa e aplaudindo o anúncio. A ponte entre China e Índia, de um lado, e os países do G7, do outro, foi feita por um esforço conjunto da diplomacia indiana, sul-africana e brasileira, o que reforça a atuação do IBAS, grupo que reúne os três países.
O consenso poupa a Índia de encerrar esta conferência sem uma declaração final, como chegou a se imaginar até o início da cúpula. Seria a primeira vez que uma reunião do G20 chegaria ao fim sem consenso.
Declaração final
O documento havia chegado às mãos dos líderes no início da conferência com uma outra questão em aberto: a da presidência americana da cúpula, em 2026. Este item era a carta na manga da negociação. A esta barganha a diplomacia dá o nome de “questão mantida em reserva”. Como o texto mais genérico sobre a Ucrânia foi acatado pelos países do G7, este item também acabou sendo aceito.
A Rússia e, principalmente, a China, mantinham o tema da presidência americana do G20 de 2026 como um recurso da negociação. Em 2025 os países terão feito o rodízio completo na presidência do grupo, excetuando a União Europeia que entrou como membro sem direito a presidir a cúpula, e os Estados Unidos retomariam a presidência que ocuparam na primeira reunião do grupo, em 2008
Chineses e russos argumentavam que não tinham como aceitar a presidência americana, enquanto vigorassem sanções contra o ingresso de autoridades de ambos os países nos Estados Unidos, sob pena de seus representantes ficarem impedidos de participar presencialmente das negociações que se desenrolarem em território americano. O que ainda não se sabe é como esse tema das sanções foi acordado.
Oposição inamovível
Depois de terem endossado a contragosto a dura declaração de 2022, Rússia e China já não estavam mais dispostos a fazê-lo. Na avaliação de um diplomata brasileiro, além da oposição inamovível dos dois países, esses termos passaram a ser considerados excessivamente duros por Índia, China e Brasil, que passaram a atuar conjuntamente para demover o G7 de um repeteco.
Quando os chefes de Estado tomaram conhecimento do texto, no início da cúpula, o trecho ainda permanecia travado. Os sherpas continuaram discutindo os termos nos corredores da cúpula e no grupo de WhatsApp que mantêm.
O tema não chegou a provocar situações como aquela de 2022, quando o chanceler russo Sergei Lavrov, depois que o presidente da Ucrânia, Volodymyir Zelensky, entrou na reunião por videoconferência, levantou-se e deixou o encontro. O risco maior, porém, o de o G20, pela primeira vez na história, terminar sem uma declaração final, permanecia até a hora do almoço em Nova Déli.
A ausência de Xi Jiping, na avaliação de um diplomata brasileiro, dificultou a negociação porque desobrigou sua chancelaria a buscar, com mais afinco, um acordo que viesse a justificar seu deslocamento até Déli.