Sexta-feira, 25 de Julho de 2025

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Chama cada vez mais atenção a presença de robôs executando ações humanas. Humanoides, como que saídos diretamente de filmes de ficção, passam a conviver com humanos de verdade, num cenário ao mesmo tempo contagiante e assustador. Por trás desses avanços extraordinários, a Inteligência Artificial rapidamente redesenha o futuro das profissões e dos empregos, com previsões que vão do paraíso na terra ao apocalipse. Há imensas dúvidas, inquietações e também deslumbramento com esse novo momento da humanidade.

Num mundo cada vez mais moldado pela inteligência artificial, é inevitável a sensação de que estamos caminhando para um futuro no qual máquinas pensam, escrevem, diagnosticam, compõem e até amam, ou ao menos imitam o amor. A IA não apenas executa tarefas com eficiência inigualável, mas o faz com uma perfeição asséptica que contrasta, em tudo, com a complexidade humana. Paradoxalmente, são os traços essencialmente humanos que poderão ser nossa salvação, e nossa originalidade. Em vez de competir, temos que nos singularizar por aquilo que temos de mais humano: nossas imperfeições.

A história do progresso humano sempre foi, também, a história de suas limitações. Erramos, caímos, duvidamos, choramos, e é justamente aí que reside nossa humanidade. A IA pode prever padrões, mas não tropeça no inesperado com a mesma dramaticidade criativa que um ser humano. Pode produzir poemas com métrica impecável, mas não sente angústia ao escrevê-los. Pode montar estratégias brilhantes, mas não hesita diante da dúvida moral. Não carrega culpa, nem vergonha, nem orgulho. Não sente saudade de um amigo que está longe, tampouco a dor de um amor perdido. Somos nós que carregamos tudo isso, e é isso que nos diferencia. Pode ser atraente imaginar um mundo sem erros, mas pode ser igualmente dramático experimentá-lo.

Nietzsche já dizia: somos “humanos, demasiadamente humanos”. Essa frase, que poderia soar como uma crítica, transforma-se hoje numa espécie de manifesto existencial. Em um tempo em que algoritmos prometem respostas exatas, o ser humano continuará sendo aquele que vive bem entre as incertezas. Onde há perfeição matemática, há também a previsibilidade. Onde há erro, há surpresa, intuição, empatia. Nenhum algoritmo saberá, com plena consciência, o que é perdoar, hesitar, escolher o pior caminho e, ainda assim, encontrar sentido no erro. Talvez seja presunçoso dizer isso, mas também nenhum algoritmo produzirá a magia da fé, da comunhão entre as pessoas, do êxtase de uma multidão em festa.

A IA será uma aliada poderosa. Mas não será um substituto pleno. Porque a vida não é um cálculo. A ética não é uma equação. O afeto não é um código. E o futuro, por mais que queiram automatizá-lo, será sempre construído a partir de escolhas humanas, com todos os seus desvios, contradições e imperfeições. Esse apelo ao humano, ao falho, ao imprevisível, mesmo em termos parecer paradoxal, é de fato uma posição de autonomia, de posicionamento consciente diante de uma ferramenta que insinua poder também pensar, mas não sentir, pelo menos não até este momento.

Numa realidade onde tudo tende ao algoritmo, ser humano pode ser o mais radical dos atos. E é nesse ato que reside nossa esperança de futuro. Não porque sejamos perfeitos. Mas porque não somos. É na dúvida, na emoção, no fracasso e na capacidade de recomeçar que está nossa vantagem competitiva mais inimitável. A inteligência artificial será cada vez mais inteligente. Cabe a nós sermos, cada vez mais, humanos.

Instagram: @edsonbundchen

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