Domingo, 19 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 17 de setembro de 2023
O Irã lembrou o primeiro aniversário da morte da jovem Mahsa Amini com um enorme dispositivo de segurança e uma repressão que nem mesmo permitiu à família visitar seu túmulo. Seu pai, Amjad Amini, chegou a ser preso por algumas horas quando tentava prestar homenagem à filha no cemitério. Ativistas pelo mundo também lembraram a data.
A morte de Amini, de 22 anos, após ter sido presa pela Polícia da Moral por não usar o véu islâmico adequadamente, em 16 de setembro de 2022, gerou protestos que durante meses pediram o fim da República Islâmica e só desapareceram após uma repressão que causou 551 mortes e pelo menos 22 mil prisões.
Um ano depois, o Irã amanheceu blindado, com uma enorme presença policial nas ruas de cidades como Teerã, onde em algumas zonas havia grupos de tropa de choque a cada poucos metros. Policiais em motos percorriam a cidade.
No dia anterior, alguns gritaram das janelas dos edifícios contra o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, e entoaram o lema dos protestos: “Mulheres, vida, liberdade”.
Em Saqez, cidade natal de Amini, localizada no Curdistão iraniano, forças da Guarda Revolucionária foram destacadas dias atrás para evitar protestos, segundo ativistas.
As autoridades impediram a família de Amini de realizar uma cerimônia no cemitério de Aichi, onde está sepultada e onde os manifestantes começaram a gritar, durante o enterro, “mulheres, vida e liberdade”. As palavras foram incorporadas aos protestos depois.
O Irã intensificou a repressão aos dissidentes antes do aniversário da morte de Amini com uma nova onda de detenções. Pela manhã, o pai da jovem foi detido por algumas horas para adverti-lo a não participar de nenhum ato no primeiro aniversário da morte de sua filha, segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), sediada em Oslo. Ele já tinha sido interrogado várias vezes recentemente e pressionado a cancelar as celebrações planejadas para ontem. Um tio de Amini, Safa Aeili, foi detido numa operação a sua casa em Sanandaj na semana passada.
A agência oficial iraniana negou a detenção de Amjad Amini e afirmou que a notícia tinha como objetivo “incitar a população ao protesto”.
Kaveh Ghorieshi, um jornalista curdo da cidade-natal de Amini e amigo de sua família, disse que as forças de segurança tomaram medidas para intimidar os residentes, instalando câmeras de vigilância por toda a cidade e no cemitério onde ela está enterrada. Helicópteros sobrevoaram a cidade por vários dias, segundo o jornalista, que agora está em Berlim.
Dezenas de parentes dos mortos nas manifestações sofreram detenções arbitrárias, restrições a reuniões pacíficas em sepulturas e destruição de lápides, segundo a Anistia Internacional.
Milicianos
A agência oficial de notícias iraniana Irna afirmou, por outro lado, que o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, se reuniu na sexta-feira (15) com parentes de membros das forças de segurança que morreram durante os protestos, incluindo dois membros da milícia islâmica Basiji.
A morte dos dois milicianos foi atribuída ao jovem Majid Reza Rahnavard, condenado à morte e enforcado em público, em dezembro. Ele foi um dos sete manifestantes executados por participarem dos protestos.
O regime iraniano diz que Amini morreu sob custódia policial devido a problemas médicos já existentes. Sua família afirma que ela não tinha problemas de saúde e morreu porque a polícia a espancou. Uma foto de Amini em coma no hospital, com sangue escorrendo da orelha e tubos na boca, se tornou viral, minando ainda mais a narrativa do governo.
Saleh Nikbakht, advogado da família, disse que ninguém foi preso porque o gabinete do legista rejeita a afirmação da família e dos médicos de que ela foi morta devido a uma pancada na parte inferior do crânio.
Protesto global
Ativistas em vários países lembraram a data com marchas. Cerca de 100 manifestantes reuniramse em frente à Embaixada do Irã em Roma sob a bandeira “mulheres, vida, liberdade”.
Em Paris, a prefeita Anne Hidalgo anunciou que um jardim na capital francesa agora levava o nome de Amini. Em várias cidades da Turquia, feministas também foram às ruas.
No Ar: Pampa Na Tarde