Segunda-feira, 04 de Novembro de 2024

Home em foco Joe Biden diz que mortes em entrega de ajuda em Gaza complicam negociações de cessar-fogo

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que a morte de dezenas de pessoas durante a caótica entrega de alimentos na Faixa de Gaza vai complicar as negociações sobre um cessar-fogo no território palestino, que, segundo ele, poderia ser anunciado já na próxima segunda-feira. Biden não quis apontar responsabilidades pelas mortes, afirmando apenas que “há duas versões” diferentes para o que aconteceu, vindas do governo de Israel e do grupo terrorista Hamas.

“Nós estamos verificando isso agora mesmo, há duas versões diferentes sobre o que aconteceu. Não tenho uma resposta ainda”, disse Biden a jornalistas na Casa Branca.

Quando questionado se as mortes, que segundo as fontes do Hamas poderiam passar de 100, afetariam as negociações sobre um cessar-fogo, ele foi sucinto, dias depois de afirmar que uma pausa nos combates ocorreria até o começo da próxima semana.

“Eu sei que elas vão”, respondeu a uma jornalista da CNN. “Mas as esperanças ainda são eternas. Eu estava conversando pelo telefone com pessoas da região. E ainda estou. Provavelmente [não haverá um cessar-fogo] na segunda-feira, mas sigo esperançoso.”

Na madrugada desta quinta-feira (29), dezenas de pessoas morreram durante uma caótica entrega de alimentos nos arredores da Cidade de Gaza, antes da guerra a maior do território palestino. Segundo as autoridades do Hamas e da Autoridade Nacional Palestina, os militares israelenses dispararam contra a multidão que tentava se aproximar dos caminhões com ajuda humanitária que haviam atravessado o posto de fronteira de Kerem Shalom, deixando 112 mortos e mais de 700 feridos.

Já o Exército israelense afirmou que os soldados fizeram disparos para o ar e contra as pernas de alguns dos palestinos que tentavam se aproximar, em “legítima defesa”. Em uma publicação no X, o antigo Twitter, os militares afirmaram que as mortes, chamadas pelo governo de “tragédia”, foram provocadas pelo “empurra empurra” e pelos caminhões, que atropelaram dezenas de pessoas ao tentar fugir da confusão.

“Nós lamentamos a perda de vidas inocentes e reconhecemos a dura situação humanitária em Gaza, onde palestinos inocentes apenas tentam alimentar suas famílias”, disse, em comunicado, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. “Isso reforça a importância da expansão e da manutenção do fluxo de assistência humanitária para Gaza, incluindo através de um potencial cessar-fogo temporário.”

Em entrevista coletiva, Matthew Miller afimou que “muitas pessoas morreram hoje”, e que isso mostra o grau de desespero na Faixa de Gaza.

“Apenas com as imagens aéreas você pode olhar e concluir que a situação é incrivelmente desesperadora. As pessoas estão cercando esses caminhões porque estão famintas, porque precisam de comida, porque precisam de remédios e outras assistências. E isso mostra que precisamos fazer mais para levar ajuda humanitária”, disse Miller.

Condenações

As mortes causaram uma onda de condenações pelo mundo, além dos pedidos para que um cessar-fogo imediato, que permita o envio de ajuda humanitária à população de Gaza, seja adotado.

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita emitiu um comunicado no qual “expressa a forte condenação e denúncia aos ataques contra civis indefesos no Norte da Faixa de Gaza, que resultaram na morte de dezenas e em centenas de feridos, em resultado do ataque pelas forças de ocupação (Israel)”.

O texto defende ainda o cumprimento das leis internacionais e a necessidade de um cessar-fogo imediato.

No X, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou que, após as mortes desta quinta-feira, vai suspender todas as compras de armas de Israel, e ainda acusou o país de “genocídio” e fez referência ao Holocausto nazista de judeus na Segunda Guerra Mundial.

“Pedindo comida, mais de 100 palestinos foram assassinados por Netanyahu. Isso se chama genocídio e lembra o Holocausto, mesmo que os poderes mundiais não gostem de reconhecer isso. O mundo deve bloquear [Benjamin] Netanyahu [premier de Israel]. A Colômbia suspende toda a compra de armas de Israel”, escreveu Petro, que desde o início da guerra em Gaza não tem economizado nas críticas a Israel. Não se sabe até que ponto a decisão do presidente colombiano terá algum efeito, uma vez que em outubro do ano passado Israel havia suspendido as “exportações de segurança” à Colômbia, em resposta a declarações de Petro.

Em comunicado, o governo da Turquia acusou Israel de “cometer mais um crime contra a Humanidade” em Gaza, e de “usar a fome como uma arma de guerra”.

“O fato de Israel, que condenou a população de Gaza à fome, desta fez mira em civis inocentes em uma fila de ajuda humanitária, é a prova de que [Israel] tem como objetivo consciente destruir o povo palestino de forma coletiva”, diz o texto da Chancelaria. “O mundo todo precisa perceber que a atrocidade em Gaza está prestes a se tornar uma catástrofe global, com repercussões além da região.”

A Chancelaria da França, em comunicado, declara que “os disparos dos militares israelenses contra os civis tentando acessar alimentos são injustificáveis”, e diz “esperar que todos esclarecimentos sejam feitos sobre os atos mencionados, que são muito graves”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou as mortes, e citou a situação desesperadora de centenas de milhares de civis no território palestino.

Já o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA), Philippe Lazarini, resumiu a situação como “mais um dia do inferno”.

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