Sábado, 05 de Outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 30 de setembro de 2024
O investidor Naji Nahas e sua mulher, Suely, estão com suas contas-correntes e de investimentos bloqueadas até o valor de R$ 98,6 milhões por decisão tomada na semana passada pela juíza Lais Lang, da 4ª Vara Cível de São Paulo.
A sentença é resultado da ação movida pela pela corretora Novinvest e tem origem ainda no episódio que Naji protagonizou e resultou na quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 1989:
“Trata-se de execução iniciada em 2007, de valor vultoso, sem que até o momento a exequente tenha conseguido ao menos amortizar o valor do crédito a que faz jus”.
Foi a Novinvest que intermediou a compra de ações naquele episódio.
Na decisão, a juíza cita “indícios de ocultação do patrimônio, por parte do requerido [Naji Nahas], com reconhecimento, pelo Tribunal de Justiça, em demanda diversa, de alocação de ativos em estruturas corporativas nacionais e offshores, além da dívida bilionária (…)”.
Quebra da Bolsa
Naji Nahas é um empresário libanês que atuou como especulador no mercado financeiro. Foi até então tido como o responsável pela quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em 1989. Devido à acusação, ele ficou preso por um ano em prisão domiciliar e, posteriormente, foi absolvido das acusações.
Nahas mudou-se para o Brasil em busca de melhores oportunidades. Veio para cá em 1969, quando tinha 22 anos. Na mudança, trouxe consigo alguns milhões que herdou da família para começar sua vida nova.
Com a fortuna de Naji Nahas construiu um império que envolvia fábricas, fazendas de produção de coelhos, banco, seguradora, entre outros negócios. Posteriormente, antes dos 40 anos de idade, já era dono de um conglomerado multimilionário.
Na década de 1980, o empresário começou a investir em ações na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Além disso, ele era dono também de ações em estatais como Vale e Petrobras. Assim, em 1988, o nome de Naji Nahas tomou as manchetes dos jornais. Na época, ele comprou quantidades enormes de opções de compra de ações da Petrobras no momento que o valor estava baixo.
O investimento de Nahas teria sido feito por laranjas. Com a ajuda de empréstimos bancários, ele contabilizaria cada vez mais lucros comprando ações e negociando com ele mesmo, numa forma de manipulação.
Nahas teria mantido esse tipo de ação por meses, até que o presidente e diretores da Bovespa, insatisfeitos com o jogo de manipulação de Nahas que inflacionava as ações, convenceram credores a pararem de emprestar dinheiro para o investidor.
Os receios do presidente da Bovespa na época, Eduardo da Rocha Azevedo, estava sobre uma possível bolha especulativa e suas consequências dali em diante. Nesse caso, em 9 de junho de 1989, o Planibanc negou o pedido de financiamento de Nahas, assim como outros bancos.
Com isso, Naji Nahas tentou ir pelo seu plano B. A empresa que ele controlava, a Selecta, realizou a emissão de um cheque sem fundos no valor de NCz$ 39 milhões para pagar a compra de ações.
Sem dinheiro, os cheques sem fundos começaram a aparecer e as corretoras que intermediaram os negócios ficaram com a dívida. A Bovespa então confiscou a carteira de ações de US$ 500 milhões de Nahas, compensando o prejuízo.
Após esse episódio, corretoras saíram com prejuízos milionários, de modo que 5 delas faliram.
O pânico se instaurou no mercado assim que a notícia se espalhou. Como naquela ocasião ainda não tinha o “circuit breaker” como mecanismo de segurança, as negociações da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro foram simplesmente suspensas.
Quando o mercado reabriu, ocorreu uma queda generalizada no mercado de ações, com ativos perdendo cerca de 1/3 do seu valor.
Esse evento levou a quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro em 1989 e causou fragilidade no órgão, que nunca mais se recuperou.
No Ar: Pampa Na Tarde