Quarta-feira, 13 de Novembro de 2024

Home em foco Lula diz que a ministra da Saúde permanece no cargo, mas aliados do presidente da Câmara dos Deputados reivindicam o ministério

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O interesse do Centrão pelo Ministério da Saúde virou a insígnia da cobiça do grupo e da constante medição de forças entre Palácio do Planalto e Congresso no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reivindicam o controle da pasta chefiada por Nísia Trindade em troca de apoio nas pautas do governo petista. Com orçamento de R$ 189 bilhões, o ministério é alvo do desejo dos parlamentares que vislumbram emendas, cargos e projeção eleitoral.

A atual titular da pasta é um dos poucos integrantes da Esplanada com perfil puramente técnico. Cientista social de formação, não tem filiação partidária. É a primeira mulher a chefiar o ministério desde a sua criação, em 1953, no governo de Getúlio Vargas. Desde então, passaram pelo cargo 50 homens. Ela já havia sido a primeira mulher a ocupar a presidência da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – em 120 anos de instituição –, em 2017.

Nas redes sociais, a hashtag “Nísia Trindade fica”, por meio da qual os internautas pedem a manutenção dela na chefia da Saúde, ganhou destaque nas últimas semanas. Em paralelo, parlamentares do Centrão cogitam o nome do deputado federal licenciado e atual secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Doutor Luizinho (PPRJ), para ocupar o cargo.

Recursos

A demora na liberação de emendas e na distribuição de cargos nos Estados é a principal reclamação dos congressistas em relação à Saúde, de acordo com lideranças. A divisão de recursos e a entrega de postos regionais estariam condicionadas a decisões da chefe do ministério. Uma das queixas é sobre o fato de a pasta da Saúde exigir “projetos detalhados” para liberar verba aos deputados.

A destinação de dinheiro da Saúde para Estados e municípios é um tema caro aos parlamentares, pela capilaridade que o ministério tem no País. Eles veem nos recursos para a área a possibilidade de ampliar a interlocução com governadores e prefeitos e de angariar apoio popular em seus redutos de olho nas próximas eleições.

Poder

Para o doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB) Leandro Gabiati, o antigo vínculo da sigla com a área motiva o presidente da Câmara a tentar recuperar a Saúde, no momento em que o Planalto mostra ter dificuldades para agradar ao Legislativo com quadros ministeriais.

Gabiati ressaltou que ter o controle do ministério atende a interesses do próprio Lira. Ao lado de Lula, o líder do Centrão fala hoje “de igual para igual” com o chefe do Executivo, que não consegue aprovar nenhum projeto se não tiver apoio do bloco de partidos controlado pelo deputado. Em fevereiro, o presidente da Câmara foi reeleito para mais dois anos no cargo com a maior quantidade de votos – 464 – desde a promulgação da Constituição, o que reforçou o poder do Centrão.

Lula resiste a trocar o comando da pasta. Ele pediu que interlocutores informassem aos parlamentares que “de jeito nenhum” tiraria Nísia. Em entrevista recente, o titular da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, negou a possibilidade de saída da ministra, que, por enquanto, tem também a proteção de Alexandre Padilha, que comanda a pasta encarregada de fazer a “ponte” entre Planalto e Legislativo.

Desde que a medida provisória que reorganizou os ministérios na gestão Lula foi aprovada em cima da hora – mediante o repasse de emendas –, Lula entrou na articulação política para tentar melhorar a relação com os deputados, que têm reclamado da demora na liberação de recursos e da falta de nomeações em cargos regionais.

Mas Lira marca de perto seus interesses. Também antes de viagem oficial a Portugal, em 21 de junho, ele se reuniu com Nísia. Por trás do encontro havia o que alguns parlamentares tem chamado de “insatisfação generalizada” de deputados com o ritmo na liberação de emendas, sobretudo da Saúde. Lira nega que esteja reivindicando a pasta.

Perfil técnico

Nas últimas semanas, o PP fez chegar ao governo que poderia apadrinhar um nome “técnico” para o Ministério da Saúde. Uma ala da bancada de parlamentares do Centrão passou então a defender o nome de Doutor Luizinho.

Não é a primeira vez que ele é cotado para o cargo. Em março de 2021, quando o então titular da pasta, general Eduardo Pazuello, enfrentava seu pior momento no ministério, o nome de Luizinho surgiu como opção. À época, Luizinho era deputado e presidia a Comissão Externa de Enfrentamento da Covid na Câmara.

Luizinho era um dos nomes defendidos pelo Centrão, que o apresentava como um candidato de perfil misto: político, mas também técnico – um médico, como convinha para combater uma emergência sanitária. O escolhido, porém, acabou sendo Marcelo Queiroga, então presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

 

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