Sábado, 08 de Fevereiro de 2025

Home em foco Lula e Toffoli selam a paz após seis anos de mágoa: ministro do Supremo fez o atual presidente da República perder o velório do irmão quando estava preso

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Depois de seis anos afastados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), retomaram o contato após se reunirem para uma conversa a sós. Em meados de setembro, Brasília estava esvaziada quando o presidente da República convidou o magistrado para um almoço no Palácio da Alvorada. O encontro, que não foi registrado na agenda presidencial, ocorreu durante a semana e serviu para que os dois selassem a paz, de acordo com uma pessoa próxima ao petista.

Os dois conversaram por cerca de duas horas, mas evitaram esmiuçar os episódios do passado que fizeram Lula querer distância de Toffoli nos últimos anos. O objetivo comum era “olhar para frente”, segundo um interlocutor do magistrado.

Lula já havia dito ao ministro, no início daquele mês, que gostaria de se reunir com ele. A mensagem foi transmitida rapidamente quando o presidente recebeu no Alvorada os integrantes do STF após o desfile de 7 de setembro. Pouco depois, veio o convite. Os dois combinaram manter contato e já houve gesto do mandatário para que se reúnam outra vez.

Para Toffoli, que há tempos desejava o encontro, foi importante retomar a relação com Lula, por quem tem “admiração e apreço”, conforme relatou a pessoas próximas. Para o presidente, além de se reconciliar com um aliado de longa data, foi uma forma de ampliar a relação com a Corte, um movimento que já o levara a se reaproximar dos ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, presidente do tribunal. Procurados, Lula e Toffoli não comentaram.

Toffoli chegou ao Supremo pelas mãos de Lula em 2009 após fazer carreira junto às hostes petistas. Advogado da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na década de 1990, ele se tornou assessor jurídico do PT na Câmara dos Deputados nos anos seguintes até assumir a defesa das campanhas de Lula à Presidência.

Logo depois de o petista vencer a sua primeira eleição, Toffoli ganhou um cargo no Palácio do Planalto, atuando na Casa Civil como secretário de assuntos jurídicos. A sua relação de confiança com o presidente o alçou ao posto de ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), de onde saiu para integrar o STF em 2009.

Uma decisão de Toffoli colocou os dois companheiros em lados opostos. Até pouco tempo atrás, o presidente não escondia a mágoa por ter perdido o velório de seu irmão Genival da Silva, o Vavá, enquanto estava preso em Curitiba por ter sido condenado em um processo da Operação Lava-Jato. O ministro do STF não impediu que Lula fosse ao encontro de sua família, mas limitou o acesso do petista ao local. A demora em proferir essa decisão acabou fazendo com que o presidente perdesse a despedida.

A pessoas próximas, o ministro dizia que nunca pretendeu atrapalhar a participação de Lula no velório do irmão, mas que havia preocupações quanto à segurança do petista. O presidente, no entanto, nunca esqueceu do episódio.

Relação com Bolsonaro

Além disso, Lula ficou ressabiado com a aproximação de Toffoli com Jair Bolsonaro durante o governo passado. O ministro do STF se tornou um dos interlocutores do ex-presidente e manteve contato frequente com ele até o fim de seu mandato. A aliados, o magistrado costuma justificar o movimento de aproximação do ex-mandatário por sua preocupação justamente com os arroubos antidemocráticos e suspeitas de articulações golpistas.

Durante a transição de governos, ainda na fase de montagem de equipe, irritou Lula o fato de ter chegado a ele a sugestão de Toffoli do nome de uma integrante de sua equipe para a AGU. O ministro havia falado de sua boa formação a pessoas próximas ao petista, que levaram o nome. Lula achou despropositada a indicação vinda de alguém com quem estava rompido.

Todos esses episódios vinham fazendo com que emissários interessados na reconciliação dos dois fossem malsucedidos na missão de promover o encontro até recentemente. Segundo um auxiliar do presidente, por vezes ele se mostrava até irritado quando ouvia a sugestão para retomar relações com Toffoli.

Ao longo dos dois anos de mandato, ministros como Cristiano Zanin, do STF, e Jorge Messias, da AGU, atuaram como emissários, tentando viabilizar a reconciliação.

Para aliados, Lula decidiu perdoar Toffoli com certa dose de pragmatismo — alguns apostam, inclusive, que ele não esqueceu o episódio de Vavá. Em seus primeiros mandatos, o petista tinha auxiliares, como o então ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que se ocupavam da relação entre o Planalto e STF. Agora, Lula tem trazido para si parte dessa interlocução, ciente que o protagonismo da Corte hoje também é muito maior.

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