Quinta-feira, 21 de Agosto de 2025

Home Colunistas Moeda fraca ou economia aberta? Dois caminhos para a economia brasileira

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O futuro da economia brasileira passa por escolhas importantes. De um lado, há quem defenda que o país precisa manter um câmbio competitivo, desvalorizando o real para estimular exportações e reforçar sua base produtiva. De outro, há quem argumente que a solução passa por uma maior abertura econômica, com menos protecionismo, tarifas mais baixas e integração às cadeias globais de valor. O fato é que não soubemos até agora executar bem nenhuma das duas estratégias.

O câmbio competitivo, que conta com apoio de parte importante de nossos economistas, possui inspiração asiática e acredita no diagnóstico de que o Brasil se desindustrializou cedo demais. Juros altos e câmbio valorizado favoreceram importações e sufocaram a produção nacional. Para corrigir essa distorção, seria preciso aceitar uma moeda mais fraca de forma estrutural, combinada com política industrial ativa, investimentos em tecnologia e fundos de estabilização para conter a volatilidade cambial provocada pelos ciclos de commodities. Haveria, nesse modelo, um papel mais proeminente do Estado. Essa foi a escolha de países como Japão no pós-guerra, Coreia do Sul e Taiwan a partir dos anos 1960 e, mais recentemente, a China. Todos eles mantiveram suas moedas artificialmente desvalorizadas durante longos períodos, protegeram setores estratégicos e direcionaram crédito e investimento público para indústrias de maior valor agregado. O resultado foi uma transformação radical que, em poucas décadas, transformou economias agrícolas e frágeis em potências exportadoras de automóveis, eletrônicos, navios e semicondutores.

A segunda visão, de corte liberal, enxerga que a indústria brasileira não perdeu espaço por falta de proteção ou por causa do câmbio, mas por ineficiências internas, tais como baixa produtividade, excesso de burocracia, complexidade tributária e infraestrutura precária. Nesse diagnóstico, a solução não seria manipular o câmbio, mas expor o Brasil a mais concorrência, forçando empresas locais a inovar e cortar custos. Esse caminho foi seguido por países como o Chile, que desde os anos 1980 adotou uma das economias mais abertas do mundo, reduzindo tarifas de importação e firmando dezenas de acordos de livre comércio. Outro exemplo é o México, que com o NAFTA, em 1994, integrou-se profundamente à economia norte-americana, transformando-se em um dos maiores polos de manufatura automotiva do planeta. Mais recentemente, países do Leste Europeu, como Polônia, República Tcheca e Eslováquia, também apostaram na abertura e atraíram pesados investimentos estrangeiros ao se integrarem à União Europeia.

O câmbio competitivo pode dar fôlego imediato à indústria, mas traz consigo o temor de mais inflação e resistência política de setores financeiros e importadores. A abertura comercial pode aumentar a eficiência e reduzir custos, mas também provocar o fechamento de empresas incapazes de competir em curto prazo, ampliando o desemprego e a vulnerabilidade social. Talvez o ponto de equilíbrio esteja em combinar as duas visões, porém isso também não é simples. Um câmbio menos valorizado, que não sufoque exportadores, junto a uma abertura gradual e negociada, com prazos claros de adaptação, poderia evitar os extremos. Foi essa a escolha de países como Alemanha e Singapura, que, apesar de abertos ao comércio internacional, souberam calibrar sua política cambial e proteger setores estratégicos até que tivessem condições de competir globalmente.

No fundo, o dilema brasileiro não é escolher entre moeda fraca ou economia aberta. O verdadeiro desafio é ter uma política de desenvolvimento clara, com metas e prioridades de longo prazo. Pecamos por não planejar e por mal executar. Sem planejamento, qualquer estratégia, seja a asiática ou a liberal, será apenas uma reação conjuntural. O Brasil precisa decidir onde quer estar em vinte anos e não apenas na eleição seguinte. Recuperar o diálogo, hoje interditado por uma polarização que paralisa o País, deve ser a primeira providência.

Instagram: @edsonbundchen

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