Segunda-feira, 20 de Maio de 2024

Home em foco Morre Nelson Freire, gênio do piano e um dos brasileiros mais prestigiados no mundo

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Morreu nesta segunda-feira (1º) o pianista Nelson Freire, aos 77 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de uma concussão cerebral provocada por uma queda, em casa. Há dois anos, Nelson sofreu uma queda no calçadão da Barra da Tijuca e fraturou o úmero do braço direito. Ele foi operado, mas não voltou a tocar depois do acidente e, segundo amigos, passou a sofrer de depressão.

“Nelson queria voltar a tocar, mas ainda estava muito afetado por causa do acidente. E a pandemia da Covid-19 o deixou isolado em casa”, conta o diretor da Rádio MEC Thiago Regotto, que esteve com o pianista em março.

Ainda segundo amigos, a pianista argentina Martha Argerich, grande amiga de Nelson, estava no Rio ao seu lado até cerca de quatro dias atrás. Ela pediu ao pianista Arthur Moreira Lima para substituí-la na banca do Concurso Chopin, em Varsóvia, para poder ficar mais perto dele.

O velório do músico aconteceu no Theatro Municipal do Rio (onde ele se apresentou pela úlltima vez em julho de 2018). Ele foi enterrado no Memorial do Carmo, no cemitério do Caju.

Prodígio

Nascido em Boa Esperança, Minas Gerais, em 1944, Nelson era considerado um dos maiores pianistas do século XX. Descrito como ‘”tímido”, de “caráter discreto”, começou a dedilhar no piano aos 3 anos de idade, ao observar a irmã. Por isso, seus pais se mudaram para o Rio quando ele tinha 5 anos, em busca de professoras para o jovem prodígio, que começou a estudar com Nise Obino e Lúcia Branco.

Em 1957, em plenos anos da presidência de Juscelino Kubitschek, foi realizado no Rio de Janeiro um concurso internacional de piano. Nelson Freire, então com 12 anos, foi o mais jovem entre os 47 candidatos. Ele ficou em nono lugar (com uma interpretação do primeiro movimento do “Concerto Imperador” de Beethoven), mas revelou-se uma sensação, e ganhou uma bolsa do governo JK para estudar em Viena, na Áustria.

A partir daí, Freire fez carreira na Europa, conquistando, aos 19 anos, o primeiro lugar no Concurso Internacional Vianna da Motta, em Lisboa. Cinco anos depois, estreou com a Orquestra Filarmônica de Nova York. Chegou a ganhar da revista “Time” o título de “um dos maiores pianistas desta ou de qualquer outra geração”. Trabalhou em todas as grandes cidades da Europa e Estados Unidos, com os maiores regentes do século XX.

“Ainda tenho muito a conquistar. Progredir. Se um artista achar que conquistou tudo, parou”, disse ele, em entrevista ao jornal O Globo, em 2014.

Repercussão

Admiradores, amigos e colegas do pianista lamentaram a sua morte. Diretor da Sala Cecilia Meireles, João Guilherme Ripper disse: “Perdemos nosso grande pianista, um artista generoso e genial! Jamais esquecerei um recital no Teatro Châtelet em Paris, em que Nelson tocou um programa dedicado a Chopin. Ovacionado, retornou nove vezes ao palco para tocar de bis toda ‘A prole do bebê’, de Villa-Lobos. Com Nelson, desaparece mais um pedaço daquele Brasil que encantou o mundo.”

No Instagram, o produtor, jornalista e compositor Nelson Motta escreveu: “Menino prodígio de raro talento, não teve infância nem juventude nem tempo para nada com sua vida inteiramente dedicada ao piano – e à criação de beleza e arte para o mundo à custa de enorme sacrifício pessoal com horas e horas de estudo diário que não terminam nunca. Amo especialmente seus discos de Debussy e de Villa Lobos e autores brasileiros. Obrigadissimo, xará. Vai em paz.”

“Guardaremos as sua interpretações das obras de Chopin, Brahms. Ele impôs um Rachmaninoff e um Liszt transcendentes. Mas sempre houve volúpia, um jogo voluptuoso, como um grande vinho da Borgonha”, elogiou o pianista francês Philippe Cassard.

“Nelson Freire é alguém que deixou a sua marca, o seu estilo, a sua classe. Foi um artista de uma classe muito elevada, absolutamente não narcisista, desafiando todas as modas e egoísmos. destacou-se por sua pureza, sua integridade musical Uma extraordinária classe, humildade e maestria que fizeram de Nelson Freire um dos maiores pianistas da segunda metade do século XX.”

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