Home Saúde O que uma geriatra gostaria que todo mundo soubesse depois dos 30 anos

Aos 30 anos, muita gente ainda se considera jovem demais para pensar na velhice. Mas, segundo a médica geriatra Karla Giacomin, consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS) e eleita em 2022 uma das 50 lideranças mundiais na promoção do envelhecimento saudável, é exatamente nessa fase que as escolhas de vida começam a moldar o futuro.

“Os 30 anos te deixam a 30 anos da idade que atualmente define uma pessoa idosa no Brasil. Isso é importante porque, se você estiver disposto a rever seus hábitos para melhor, tomará uma decisão que trará reflexos diretos para você, para as pessoas que você ama e para a sociedade”, afirma.

Para ela, envelhecer bem não é obra do acaso, mas consequência de decisões conscientes ao longo da vida. “Bons hábitos vão se refletir em uma melhor saúde física, mental e social no presente e no futuro”.

Entre os principais cuidados, a especialista destaca a importância da alimentação. Uma dieta equilibrada deve priorizar frutas, verduras, legumes, grãos integrais e proteínas de qualidade, além de reduzir ultraprocessados, ricos em açúcar, sal e gordura saturada. Esses cuidados não influenciam apenas no peso, mas no metabolismo, na imunidade e até no humor. A hidratação também é essencial: beber água regularmente impacta desde a elasticidade da pele até o desempenho cognitivo.

Outro ponto-chave é manter o corpo em movimento. A rotina intensa pode reduzir o tempo para exercícios, mas é nesse momento que a disciplina faz diferença. A recomendação é combinar atividades aeróbicas, fortalecimento muscular e alongamento para preservar massa magra, proteger articulações e melhorar o equilíbrio. Não há fórmula única: caminhada, musculação, corrida, natação ou esportes coletivos valem, desde que haja regularidade.

A exposição ao sol merece atenção especial. A luz solar é essencial para a síntese de vitamina D, mas deve ser aproveitada de forma responsável, em horários adequados e com proteção, já que o excesso acelera o envelhecimento da pele e aumenta o risco de câncer.

A saúde mental também deve ser preservada. Práticas como meditação, mindfulness ou hobbies criativos ajudam a reduzir o estresse e equilibrar emoções. Psicoterapia e atividades artísticas podem oferecer novas formas de lidar com pressões e melhorar relacionamentos.

Dormir bem é outro pilar indispensável. O ideal é manter de sete a nove horas de sono por noite, cuidando da chamada higiene do sono: evitar cafeína, álcool e telas luminosas antes de dormir, manter horários regulares e não realizar atividades físicas intensas perto da hora de deitar.

A médica reforça ainda a necessidade de evitar tabaco, álcool e drogas. Essas substâncias comprometem a saúde em qualquer idade e trazem riscos cumulativos a longo prazo, desde doenças cardiovasculares até cânceres e demências.

A automedicação e o excesso de exames também podem ser prejudiciais. Suplementos só devem ser usados com indicação médica e comprovação de deficiência. Check-ups são importantes, mas feitos de forma equilibrada e direcionada para prevenção.

Karla destaca, ainda, que manter o cérebro ativo é tão essencial quanto cuidar do corpo. Aprender coisas novas, ler, cultivar hobbies ou investir em experiências culturais fortalece a memória e ajuda a prevenir declínio cognitivo. A leitura, em especial, ativa áreas cerebrais de maneira mais intensa do que o consumo rápido em telas, cujo uso excessivo ainda prejudica postura e pode gerar dores crônicas.

Por fim, as relações sociais são apontadas como um dos fatores mais relevantes para um envelhecimento saudável. O isolamento aumenta riscos para a saúde mental e física, enquanto a manutenção de vínculos familiares e amizades sólidas funciona como uma rede de proteção. Participar de atividades coletivas, como esportes, trabalhos voluntários e grupos culturais, une convivência, saúde física e propósito. “De tudo o que sabemos até agora, são as relações sociais a nossa maior sustentação na velhice”, resume a geriatra.

(Com O Estado de S.Paulo)