Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 27 de janeiro de 2023
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem usado o cargo para distribuir um pacote de benesses aos deputados que vão escolher, em 1º de fevereiro, quem comandará a Casa no biênio 2023-2024. Candidato à reeleição, Lira deu aos parlamentares, em menos de um mês, R$ 9,3 mil para gastar com combustível e R$ 4,1 mil para outras despesas, além de aprovar reajuste de mais de R$ 7 mil a partir de abril, quando os salários dos congressistas serão de R$ 41.650,92. O total de desembolso para os cofres públicos chega a R$ 70 milhões.
O auxílio-moradia vai dobrar de R$ 4,2 mil para R$ 8,4 mil para quem não ocupa imóvel funcional. A medida, no entanto, beneficiará os 513 deputados, até mesmo aqueles que já moram em apartamentos cedidos pela Câmara, graças a uma manobra articulada por Lira para aumentar a cota parlamentar. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) impede esse tipo de reajuste.
Expoente do Centrão, Lira é favorito para ganhar novo mandato, mas toda sua estratégia vem sendo montada para obter o maior número de apoios e se tornar o candidato mais bem votado da história da Câmara. Não sem motivo: quanto mais apoio político ele conquistar, mais poder de barganha terá o Centrão nas negociações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em troca da aprovação de projetos de interesse do governo.
Sem orçamento secreto, Lira vem sendo pressionado pelo baixo clero a conceder privilégios aos colegas. O deputado tem apoio de Lula, do PT e de partidos do Centrão. Nos bastidores, porém, os petistas torcem para que o tamanho da possível vitória do presidente da Câmara não seja muito maior do que o de 2021, quando ele obteve 302 votos na disputa contra Baleia Rossi (MDB-SP). A avaliação no Palácio do Planalto é a de que, se isso ocorrer, Lira e o Centrão vão criar problemas para o governo.
O único candidato lançado para desafiar Lira, até agora, é o deputado eleito Chico Alencar (PSOL-RJ), que já foi filiado ao PT e deixou o partido após o escândalo do mensalão. “Essas medidas tomadas por Arthur Lira fogem à regra. Poderiam ser discutidas pela nova Mesa Diretora da Câmara e também pelo colégio de líderes”, disse Alencar.
“Alguns itens do pacote ficaram acima da inflação. Nesse momento do País, precisamos ter austeridade. A Câmara quer um presidente democrático, não um imperador”, completou. Levantamento do PSOL indica que os valores reajustados por Lira subiram “acima da inflação acumulada entre 2019 a 2022”.
Disputa
Até mesmo uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) entrou nas negociações de Lira, empenhado em eleger o deputado Jonathan de Jesus (Republicanos-RR) para ter um aliado na Corte. O tribunal é um órgão de controle externo do governo e tem a tarefa de auxiliar o Congresso na missão de acompanhar a execução orçamentária.
A votação para a vaga aberta com a aposentadoria da ministra Ana Arraes no TCU deve ocorrer na próxima quinta-feira, um dia depois das eleições para a presidência da Câmara e também do Senado, que é comandado por Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Os deputados empossados no dia 1º vão escolher quem ficará com a cadeira de Ana Arraes no TCU, em votação secreta. Além de Jonathan, concorrem à vaga a deputada Soraya Santos (PL-RJ) e Fábio Ramalho (MDB-MG), que não foi reeleito e pode ser lançado por outro partido, o Patriota. O deputado Hugo Leal (PSD-RJ) desistiu do páreo após assumir a Secretaria de Óleo e Gás do governo fluminense.
Lira quer que Soraya retire a candidatura e deixe o caminho aberto para Jonathan, pois fez um acordo prévio com o Republicanos, partido do deputado. O acerto prevê o apoio da legenda, que também integra o Centrão, a novo mandato para Lira. Como retribuição, Lira prometeu emplacar Jonathan no TCU, além de dar ao Republicanos uma vaga na Mesa Diretora da Câmara. O presidente do partido, Marcos Pereira (SP), pleiteia a primeira-vice, mas o cargo é disputado com o PL de Jair Bolsonaro e com o PT.
Em cafés, almoços e jantares na residência oficial da presidência da Câmara, Lira pede votos não apenas para ele, mas também para Jonathan no TCU. Fez isso novamente ontem, em almoço com a bancada do Rio, que contou com a presença da própria Soraya.
“Ele está pedindo para arrancar minhas crenças e isso eu não vou fazer. Não posso abrir mão de algo que é tão caro para nós, que é o direito das mulheres de ocupar espaços de representação. Minha candidatura está mantida, não importa a dificuldade”, afirmou Soraya ao Estadão. Apesar de animada com a campanha, a deputada não esconde a decepção com o modelo que deve ser adotado na votação para o TCU. “Nunca houve eleição para o tribunal sem debate na Câmara”, protestou ela. “Isso é até um desrespeito com os deputados novatos.”
No Ar: Pampa Na Tarde