Terça-feira, 04 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de março de 2024
Preocupado com pesquisas que indicam o crescimento da desaprovação do governo entre evangélicos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a ministros uma ação mais efetiva para se aproximar das igrejas. Além de articularem a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade tributária para instituições religiosas, auxiliares de Lula têm mantido reuniões reservadas com pastores, até mesmo com os críticos do governo.
Esta semana, por exemplo, quem esteve no Palácio do Planalto foi o pastor Anderson Silva, que se encontrou com o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência, Paulo Pimenta. Líder da igreja Vivo por Ti e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Silva chegou a pedir a Deus que “arrebentasse a mandíbula de Lula”.
O governo nega que a reunião tenha ocorrido por causa da mais recente pesquisa Genial/Quaest. Recorte do levantamento mostra que a reprovação da gestão Lula aumentou de 36% para 48%, em três meses, justamente no segmento evangélico. O grupo representa um terço da população e a maior parte é eleitora de Bolsonaro. “Recebo todos que querem conversar e dialogar para o Brasil dar certo. É meu trabalho”, disse Pimenta ao Estadão.
Compareceram à reunião no Planalto, no gabinete do chefe da Secom, o apóstolo Léo Fuzaro, o ator Sandro Rocha e o secretário de Comunicação Institucional, Emanuel Hassen. Um interlocutor de Lula observou que foi uma reunião pedida, mas não deixa de ser “uma tentativa de aproximação”.
Arrependimento
Em vídeo publicado nas redes sociais, recentemente, o pastor disse ter se arrependido de apoiar Bolsonaro e dos ataques feitos a Lula. “Foi desnecessária aquela fala, num momento sensível”, afirmou ele, numa referência a um podcast veiculado em 17 de maio de 2023.
Durante a gravação, Silva estava ao lado do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), escolhido nesta semana para presidir a Comissão de Educação da Câmara. A certa altura da conversa, o pastor aumentou o tom contra Lula e ministros do Supremo Tribunal Federal.
“Senhor, mata meus inimigos, quebra os dentes dos meus inimigos. Senhor, arrebenta a mandíbula do Lula. Senhor, prostra enfermos os ministros do STF, para que eles te conheçam no leito da enfermidade”, pediu Silva, em oração. Nikolas riu. O então ministro da Justiça, Flávio Dino, hoje magistrado do Supremo, encaminhou o podcast para investigação da Polícia Federal.
“Eu não sou bem-visto nem pela direita nem pela esquerda em seus extremos. Sou um pastor e me arrependo da bolsonarização do meu ministério”, insistiu ele.
Silva também usou as redes sociais para pedir a eleitores que não comparecessem ao ato político convocado por Bolsonaro na Avenida Paulista, no último dia 25. “O Evangelho não é o bolsonarismo”, resumiu. O ex-presidente é alvo de investigações da PF que o apontam como mentor dos atos golpistas de 8 de janeiro do ano passado.
Gesto concreto
Autor da PEC que amplia a imunidade tributária para templos de qualquer culto, o deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) disse, por sua vez, que o governo Lula precisa fazer um “gesto concreto” na direção dos evangélicos, se quiser aumentar sua popularidade.
“A PEC é um grande passo nessa direção”, avaliou Crivella. “Igreja forte é crime fraco”, afirmou ele, ao defender o trabalho social feito pelas igrejas.
“O governo deveria lançar o programa ‘Meu Filho, Minha Vida’, com creche para todas as crianças.” Na próxima terça-feira, o deputado tem reunião marcada com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir “ajustes” na PEC, que já foi aprovada por duas comissões da Câmara e deve ser analisada em plenário nos próximos dias.
Nos bastidores, auxiliares de Haddad se queixam da perda de arrecadação num momento em que a equipe econômica faz de tudo para cumprir a meta de déficit zero. Além disso, mesmo aliados do governo têm ressalvas à proposta, sob o argumento de que, sendo o Estado laico, a concessão de vantagens fiscais a instituições religiosas não tem explicação.
Lula, porém, está empenhado na aprovação da PEC, que proíbe a cobrança de impostos sobre bens ou serviços necessários à formação do patrimônio de todas as religiões. De acordo com o texto, organizações assistenciais e beneficentes, como creches, asilos e comunidades terapêuticas, também não podem ser tributadas.