Sexta-feira, 31 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de novembro de 2023
 
A Polícia Federal (PF) investiga o monitoramento pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de um representante de uma das principais entidades de caminhoneiros do País. Carlos Alberto Litti Dahmer é um dos dirigentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) e convocou protestos contra o governo de Jair Bolsonaro. Segundo a PF, ele pode ter sido alvo de um sistema de rastreamento de localização de celulares.
A Abin utilizou um programa secreto chamado FirstMile para monitorar a localização de alvos pré-determinados via aparelhos de telefone celular. A Polícia Federal abriu um inquérito e identificou que a ferramenta foi utilizada para rastrear políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo Bolsonaro. Em nota, a agência diz colaborar com as investigações e que o uso do sistema foi encerrado em maio de 2021.
Já em maio deste ano, foi revelado que a Abin produziu, em abril de 2020, um relatório com o fichamento de oito lideranças nacionais dos caminhoneiros. O levantamento, enviado para a Casa Civil, classificava o perfil de Dahmer como de alta “vinculação a grupos políticos de oposição”, “representatividade nacional” e “proliferação de mensagens em redes sociais”.
Filiado ao PT, Dahmer se candidatou a vereador em Ijuí (RS) nas eleições de 2012, mas não foi eleito. Ao longo de 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro, o caminhoneiro demonstrou irritação com a nova tabela do frete rodoviária e chegou a convocar a categoria para aderir a uma paralisação nacional para contestar o valor do diesel e do preço do gás de cozinha.
Em fevereiro de 2020, a (CNTTL) divulgou nota afirmando que os caminhoneiros que representa fariam protestos para pedir que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgasse a constitucionalidade do piso mínimo do frete.
Na ocasião, Dahmer estava na BR-040 quando anunciou que trechos da estrada poderiam ser fechados no dia seguinte. Em janeiro do ano seguinte, a liderança novamente se posicionou pela adesão da CNTTL, que tinha cerca de 800 mil motoristas em sua base, ao movimento grevista.
A lista completa das pessoas espionadas irregularmente a partir do programa First Mile ainda não é conhecida, mas a PF já identificou indícios de que adversários políticos do ex-presidente foram alvo, entre eles, o ex-deputado Jean Wyllys. Há ainda a suspeita de que foram feitas vigilâncias durante as eleições municipais e em regiões próximas ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), além de áreas nobres em Brasília e no Rio de Janeiro. A ferramenta FirstMile foi produzida por uma empresa israelense e era operada, sem qualquer controle formal de acesso, pela equipe de operações da agência de inteligência.
No último dia 20, a PF realizou uma operação para cumprir dois mandados de prisão e 25 de busca e apreensão contra o monitoramento ilegal. Os alvos da investigação podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.