Terça-feira, 30 de Abril de 2024

Home Brasil Políticos e especialistas criticam governo por inércia sobre tentativa de aquisição da empresa brasileira Avibras por grupo australiano

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A postura mantida pelo governo de não querer interferir na negociação da venda da Avibras — indústria brasileira de produção de equipamentos bélicos, como mísseis e lançadores de foguetes — para uma empresa australiana, tem gerado críticas de políticos, especialistas e sindicalistas. Eles avaliam que há riscos de desnacionalização da empresa e que o Planalto facilitando a entrega de um ativo ao capital estrangeiro.

Embora seja privada, a Avibras — que hoje acumula uma dívida de mais de R$ 600 milhões e em 2022 pediu recuperação judicial, aprovada no ano seguinte — integra o grupo de Empresas Estratégicas de Defesa (EED) do Brasil. Por lei, elas são consideradas essenciais para a promoção do desenvolvimento científico e tecnológico do país e fundamentais para a preservação da segurança e defesa nacional contra ameaças externas. Se o negócio com a australiana DefendTex for fechado, a Avibras deixaria de ser considerada uma EED, o que a faria perder benefícios fiscais e, os brasileiros, assentos em reuniões do conselho da empresa.

Em nota, o Ministério da Defesa afirmou que, por ser privada, a empresa não precisa de aval da pasta: “No momento, trata-se de uma relação comercial entre a empresa privada e o grupo interessado em comprá-la”, diz um trecho do comunicado. “Posteriormente, iremos avaliar se a Avibras continua sendo enquadrada como Empresa Estratégica de Defesa ou não”, conclui a nota.

Questão nacional

O ex-senador e ex-governador do Paraná Roberto Requião, recém-desfiliado do PT, disse que a venda da Avibras “é um erro” e que trata-se de “uma proposta a favor da internacionalização do Brasil, transformando o Exército Brasileiro num exército desdentado”.

Ciro Gomes, ex-presidenciável e ex-governador do Ceará, escreveu em seu perfil do Instagram, que a venda da empresa é “a tentativa do governo Lula de pôr um fim trágico à agonia da Avibras”.

Autor de estudos sobre indústria aeroespacial e de defesa, o professor da Unicamp Marcos Barbieri lembra que o governo é um credor importante da empresa e é o grande demandante de serviços na área da Defesa. Portanto, tem a prerrogativa de impedir a venda e deveria fazê-lo:

Crise financeira

A Avibras vem passando por uma série de dificuldades financeiras agravadas durante a pandemia, devido ao redirecionamento dos recursos da Defesa para a Saúde. A situação financeira ainda reproduz as condições que derrubaram ou deixaram em dificuldade outras firmas do setor, como a Imbel, Engesa e a Embraer. E esse quadro não é novo. Em 1981, a Avibras sofreu um calote do ditador iraquiano Saddam Hussein, morto em 2006, que nunca pagou a compra de equipamentos militares da empresa. Além disso, ela já havia pedido concordata em 1990, com um rombo avaliado em US$ 200 milhões na época, após perder um contrato bilionário com a Arábia Saudita.

Professor aposentado da UFF e pesquisador do Núcleo de Estudos de Defesa, Inovação, Capacitação e Competitividade Industrial, Eduardo Siqueira Brick também atribui o montante das dívidas da empresa ao “desmonte do parque industrial militar brasileiro” e à falta de um órgão que possa direcionar os projetos relacionados à Defesa.

Para Brick, é necessário um órgão responsável pela coordenação e planejamento de projetos e atividades a longo prazo dessas empresas — um órgão que seja subordinado ao governo, por meio do Ministério da Defesa.

Salários atrasados

Apesar da polêmica, a Avibras trata a negociação com a empresa australiana como um “potencial investimento voltado à recuperação econômico-financeira”, conforme nota divulgada. De acordo com o comunicado, o objetivo da negociação é “manter suas instalações fabris no Brasil, retomando as operações o mais breve possível, e garantindo o cumprimento de obrigações contratuais com o governo brasileiro e outros clientes”.

Com sede em São José dos Campos e instalações industriais no Vale do Paraíba, em Jacareí e Lorena, a Avibras emprega cerca de 1.400 pessoas. Com salários atrasados há 11 meses, 800 funcionários estão em greve, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Weller Gonçalves, diz que a “postura do governo federal é vergonhosa” e acusou o Planalto de “entreguismo”. A categoria defende a estatização da Avibras.

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