Segunda-feira, 17 de Junho de 2024

Home Brasil População de Roraima cresce 41%, com a fuga de venezuelanos de seu país

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A população do Estado de Roraima cresceu 41,2% nos últimos 12 anos, segundo os dados mais recentes do Censo divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta, que fez o total de habitantes pular de 450 mil para 636 mil no período, foi a maior proporcionalmente entre todos os Estados brasileiros. Um fator foi preponderante para essa tendência: a migração venezuelana.

A crise no país vizinho levou milhares de venezuelanos a deixarem a terra natal em busca de melhores condições de vida em outros pontos do continente. No Brasil, em razão da proximidade geográfica, o Estado mais afetado por esse deslocamento foi Roraima, que passou a ver os estrangeiros nas ruas de Pacaraima, cidade mais próxima da fronteira, e da capital Boa Vista.

A migração é marcada pelo contexto de pobreza e precariedade de serviços na Venezuela, o que demandou mais serviços de apoio em território brasileiro. Conforme dados do Ministério da Justiça, entre 2017 e 2022, 702 mil venezuelanos entraram no Brasil por Roraima, Amazonas (via aérea) e São Paulo (via aérea). Desses, 325,7 mil permaneceram em território brasileiro. As entradas foram mais volumosas sobretudo em 2018 e 2019, quando superaram os 220 mil registros anuais. Em 2021, o número ficou em 62 mil.

Jose Leonardo Villalobos Ramos, de 26 anos, veio da cidade de Tigre, no Estado de Anzoategui, na Venezuela. De morador de rua, virou estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e agora trabalha com ajuda humanitária a outros venezuelanos. “Quando cheguei, não tinha dinheiro nenhum e não conhecia ninguém, por isso morei na rua. Foi um período muito desafiador, mas eu tinha esperança de que aqui teria a chance de recomeçar.”

Ramos pesquisa na universidade as mudanças na identidade dos migrantes em Roraima.

“Roraima me deu a oportunidade de continuar meus estudos e de trabalhar para conquistar meus objetivos. Me sinto grato, pois quando cheguei aqui não conhecia ninguém, fui morador de rua até conseguir me regularizar. Não tinha luz nem internet e estudava na rua, pelo celular.”

O empresário Wilfredo Millán, venezuelano de 26 anos que veio acompanhado de sua mulher e dois filhos, encontrou em Roraima não apenas uma nova moradia, mas também um ambiente propício para desenvolver o seu negócio. Ele trabalhou com serviços gerais e como motorista de aplicativo e aproveitou as oportunidades que surgiram, fundando a própria empresa de exportação e importação de gêneros alimentícios. Ao longo dos anos, expandiu as atividades e hoje emprega seis pessoas.

Refugiados

Entre 2017 e 2022, 702 mil entraram no País; 325,7 mil deles ficaram em território brasileiro atrás do que queria para minha família e mesmo sem emprego nunca deixei de acreditar e sempre tive um foco de ser empresário. Montei relacionamentos e, quando abri minha empresa, fui crescendo e recebi suporte do setor empresarial e hoje me sinto integrado ao Brasil”, diz.

O caminho de Ramos e Millán, porém, não se repete com todos que cruzam a fronteira. A capital Boa Vista viu crescer o número de pessoas morando nas ruas sem assistência, o que agravou problemas sociais vistos em diferentes cidades do Estado. A recepção brasileira aos migrantes também não foi homogênea, e o preconceito direcionado a eles cresceu.

O empresário do ramo de eletrodomésticos Wagner Santos destacou a dedicação característica de funcionários venezuelanos. No entanto, ele diz enfrentar resistência por alguns clientes, que “relutam em receber venezuelanos em suas residências”.

Saúde

A chegada repentina de um grande número de pessoas demandou investimentos em infraestrutura, saúde, educação e segurança, a fim de garantir a integração adequada dos imigrantes. A saúde é uma das áreas mais demandadas. São cerca de 600 venezuelanos atendidos diariamente só nas unidades de saúde da fronteira. No Hospital Geral de Roraima, os atendimentos foram de 30 para 300. Na maternidade eram 5 partos diários e hoje chegam a 100.

A enfermeira Vitória Cruz, que atua em postos de saúde de Boa Vista, relata o aumento significativo na demanda. “A saúde materno-infantil é uma das áreas mais afetadas, com um aumento expressivo na quantidade de consultas para gestantes venezuelanas, assim como atendimentos a diabéticos e hipertensos”, afirma.

Para Américo Lyra, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR), o Estado não estava preparado para receber tantos imigrantes. “Além dos serviços, incluindo os públicos, os demais não dão conta. Houve aumento em questões básicas, como no aluguel e no preço dos imóveis e terrenos.”

O professor lembra que não foram apenas refugiados que se mudaram para Roraima. “A chegada dos venezuelanos acarretou, igualmente, maior entrada de recursos e aquecimento econômico. Pense que organizações internacionais se deslocaram para a cidade (Boa Vista) e, com elas, veio um público consumidor.”

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