Sábado, 20 de Abril de 2024

Home em foco Presidente da França desconvida o Reino Unido de reunião sobre crise migratória

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A tensão entre Reino Unido e França causada pela morte de 27 imigrantes em um naufrágio no Canal da Mancha, na última quarta-feira (24), se aprofundou após o governo francês retirar o convite para que os britânicos participassem de uma reunião sobre o assunto neste domingo (28).

A decisão foi um repúdio a uma carta aberta de Boris Johnson ao presidente Emmanuel Macron, publicada pelo premier britânico em uma rede social. Macron acusou Boris de não levar a situação “a sério”.

Segundo Macron, os ministros europeus usarão o encontro deste domingo “seriamente para resolver assuntos sérios com pessoas sérias”. Além do ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, participarão da reunião representantes da Alemanha, da Holanda, da Bélgica e da Comissão Europeia, o órgão Executivo da União Europeia (UE).

“Depois nós veremos como seguir em frente de modo eficiente com os britânicos, se eles decidirem levar o assunto a sério”, disse Macron em uma entrevista coletiva em Roma, onde assinou um acordo bilateral com a Itália.

O ponto central da fissura mais recente na já conturbada relação entre os dois países foi a correspondência “inaceitável e incompatível com o discutido” publicada por Boris no Twitter na noite de quinta, na qual ele diz que Paris deve se comprometer a receber de volta todos os imigrantes que cruzam a Mancha a partir da costa francesa.

A opinião do Palácio do Eliseu é que o governo britânico tenta culpar a França pela crise, esquivando-se de sua própria responsabilidade e de problemas causados pelo Brexit, o divórcio britânico da UE, finalizado em janeiro deste ano.

“Eu me surpreendo quando as coisas não são feitas com seriedade, nós não nos comunicamos entre líderes por meio de tuítes ou cartas abertas, não somos informantes. Vamos lá, vamos lá”, criticou o presidente francês, horas após seu porta-voz, Gabriel Attal, afirmar que a correspondência vai contra o pedido francês para que o naufrágio do bote com imigrantes, o pior já registrado na região, não fosse “instrumentalizado”.

Questionado se Boris se arrepende de ter publicado a carta em suas redes sociais, o porta-voz do governo britânico disse que não, afirmando que o texto foi redigido “no espírito da parceria e da cooperação” e que o público tem o direito de saber o que está sendo discutido. Ele também negou que Downing Street não leve o assunto a sério.

Atritos políticos

Além de uma questão humanitária, a disputa é também política: os franceses creem que Londres não quer se associar à situação no Canal da Mancha devido a uma série de escândalos que minam a popularidade de Boris. Ele é acusado de tentar bloquear a suspensão de um deputado criticado por suas atividades de lobby, apoiando uma reforma das regras parlamentares para evitar as punições.

Londres, por sua vez, acusa Macron de agir com intransigência de olho nas eleições presidenciais de abril de 2022, buscando driblar as críticas de adversários anti-imigração, que o acusam de leniência. O mesmo sentimento anti-imigração é apontado como uma das razões para a aprovação do Brexit, há cinco anos, e até hoje serve de combustível para o premier britânico.

O ponto em particular que causou descontentamento nos aliados de Macron foi a proposta de um acordo de readmissão de imigrantes e solicitantes de asilo, similar a pactos existentes com a Rússia e a Bielorrússia. Na carta endereçada ao “querido Emmanuel”, o premier britânico disse que seu governo irá compartilhar o rascunho de um documento para este fim com seus pares franceses:

“Eu proponho que coloquemos em funcionamento um acordo bilateral de readmissão para permitir que todos os imigrantes ilegais que atravessam o Canal sejam retornados”, escreveu o premier, defendendo também patrulhas marítimas recíprocas nas águas territoriais uns dos outros.

Boris afirmou que seria o “principal passo” para que os dois países contenham cruzamentos clandestinos, mas Paris insiste que o assunto deve ser negociado diretamente com a União Europeia. Se França e Reino Unido acumulam atritos desde que o Brexit se concretizou em janeiro, no entanto, a relação entre Londres e Bruxelas também não é das mais fáceis.

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