Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Home Saúde Primeiro tratamento individualizado contra o câncer ganhará espaço no SUS

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O tratamento mais moderno que existe hoje no Brasil contra leucemia e linfoma é uma realidade acessível a poucos. Apenas dez pacientes tiveram acesso à sofisticada terapia de “células CAR-T”, técnica totalmente individualizada. Os profissionais extraem glóbulos brancos do paciente, submetem o material a alterações genéticas, e o reinserem no organismo para atacar o tumor. Um projeto liderado pelo Hemocentro de Ribeirão Preto (SP) espera que até 2025 o procedimento seja oferecido a 300 pessoas por ano no Sistema Único de Saúde (SUS), mas os cientistas esperam recrutar pacientes a partir de maio deste ano.

O Hemocentro recebeu no fim do ano passado uma autorização da Anvisa para ampliar a capacidade de produção das células usadas no tratamento, que hoje são produzidas apenas em escala experimental. Junto com o Instituto Butantan e a USP, o Hemocentro está montando dois centros laboratoriais para processar esse material, treinando equipes para atender uma demanda maior.

Os pesquisadores esperam recrutar a partir de maio um grupo de 75 voluntários que devem se submeter ao tratamento com as células CAR-T produzidas pelo projeto. Passando pelo crivo da Anvisa depois de um ano, a estrutura de capacidade ampliada já poderá oferecer a terapia em caráter regular, com capacidade ampliada. O ensaio clínico vai envolver quatro unidades: os hospitais de clínicas de São Paulo, Ribeirão Preto e Campinas, além do Hospital Beneficência Portuguesa na capital.

Para criar infraestrutura física e treinar equipes, o projeto batizado de Nutera (Núcleo de Terapia Celular) mobilizou cerca de R$ 180 milhões, captando recursos em diversas fontes, incluindo Fapesp, CNPq, Finep, Ministério da Saúde e investimento direto do orçamento dos centros de pesquisa envolvidos. Os prédios onde as células serão produzidas ficam em dois campi da USP, na capital e em Ribeirão.

Segundo o diretor do Hemocentro, Rodrigo Calado, o projeto necessitou juntar diferentes instituições porque a variedade de especialistas necessários para o tratamento é muito grande.

“O projeto envolve um investimento em pessoal desde o desenvolvimento do estudo clínico até o treinamento de médicos e enfermeiros, além de biólogos, biomédicos, farmacêuticos e geneticistas no laboratório e em todas as etapas da produção de produção das células”, conta médico e cientista. “É mais complicado que um remédio convencional, porque a terapia usa células vivas.”

Segundo Diego Villa Clé, diretor de patologia clínica do Hospital das Clínicas de Ribeirão, o esforço e o investimento se justificam em razão dos resultados que vem sendo obtidos com as CAR-T no resto do mundo e nos primeiros tratamentos realizados no Brasil.

“Dos dez pacientes que nós tratamos até agora, seis estão livres de doença”, diz, explicando os tratamentos disponíveis hoje só apresentam boa resposta em cerca de 20% dos pacientes. “Ainda é muito cedo para a gente chamar de cura, mas as respostas são muito boas, porque esse perfil de paciente tem a sobrevida estimada em algumas semanas ou meses, apenas.”

Clé ressalta que esse número é ainda mais significativo quando se leva em conta que no Brasil a terapia está sendo aplicada apenas a pacientes que não reagiram bem a outras terapias. Por enquanto, todos os pacientes selecionados receberam o atendimento na categoria de uso compassivo.

O anúncio do Nutera sai ao mesmo tempo em que chegam ao Brasil linhas de terapias celulares em hospitais da iniciativa privada, incluindo uma da multinacional Gilead e outra da Novartis. A aplicação desse produtos, porém, pode sair por até US$ 500 mil o tratamento (R$ 2,5 milhões) para um paciente no Brasil.

O Nutera, porém, espera que com a nacionalização da mão de obra e os royalties na mão de instituições públicas brasileiras, o custo de seu tratamento ao SUS saia por algo entre 15% e 20% do valor comercial.

A indicação da terapia, por enquanto, é apenas para leucemia linfoide e linfoma não-Hodgkins, doenças que atacam células B do sistema imune. Juntas acometem entre 2.000 e 3.000 pessoas anualmente no país.

O sucesso do projeto na fase inicial do Nutera, porém, provocou uma enxurrada de mensagens e telefonemas ao Hospital das Clínicas de Ribeirão com pedidos de familiares para inclusão de pacientes no projeto. Nesses casos, a instituição informa que paciente não se encaixa no perfil.

Segundo Calado, porém, existe no futuro a possibilidade que a lista de doenças na mira das células produzidas pelo Nutera aumente.

“Existem já pesquisas sendo feitas para uso contra mieloma e outros tipos de câncer, e a mesma plataforma que usamos para as CAR-T pode vir a ser usada para terapias gênicas que corrigem defeitos genéticos”, conta o médico.

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