Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Home Saúde Quando a demência ataca em idade precoce

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As pessoas não ficam muito preocupadas quando um octogenário às vezes esquece o melhor caminho para sua loja favorita, não consegue lembrar o nome de um amigo ou amassa o carro tentando estacionar em uma rua movimentada da cidade. Com o passar dos anos, até mesmo os cérebros saudáveis funcionam com menos eficiência e a memória, as percepções sensoriais e as habilidades físicas vão ficando menos confiáveis.

Mas e se a pessoa não estiver na casa dos 80 anos, mas sim dos 30, 40 ou 50 anos e esquecer o caminho de casa mesmo estando na esquina? Aí a situação é muito mais preocupante. Mesmo que a maioria dos 5,3 milhões de americanos que vivem com o mal de Alzheimer ou outras formas de demência tenha mais de 65 anos, cerca de 200 mil têm menos e desenvolvem problemas sérios de memória e raciocínio muito mais cedo do que o esperado.

“A demência de início precoce é um diagnóstico particularmente desolador porque afeta indivíduos que estão no auge da vida”, escreveu o Dr. David S. Knopman, neurologista da Clínica Mayo em Rochester, Minnesota, no editorial de julho de 2021 da revista científica JAMA Neurology. Muitos dos acometidos estão na faixa dos 40 e 50 anos, no meio da carreira, mal preparados para aposentar e talvez ainda criando os filhos.

A demência nos adultos jovens é especialmente traumática e desafiadora para as famílias reconhecerem, e muitos médicos não conseguem identificá-la.

“Reclamações sobre névoa cerebral em pacientes jovens são muito comuns e geralmente inofensivas”, disse Knopman. “É difícil saber quando não são atribuíveis a estresse, depressão ou ansiedade, ou então resultado do envelhecimento normal. É raro que até mesmo os neurologistas identifiquem demência precoce logo no início”.

No entanto, estudos recentes indicam que o problema é muito mais comum do que a maioria dos médicos imagina. Em todo o mundo, até 3,9 milhões de pessoas com menos de 65 anos podem estar afetadas, indicou uma análise holandesa de 74 pesquisas. O estudo, publicado na JAMA Neurology em setembro, revelou que para cada 100 mil pessoas com idades entre 30 e 64 anos, 119 apresentavam demência precoce.

O editorial de Knopman qualificou a demência de início precoce como “um problema subestimado”. Seu diagnóstico, escreveu ele, muitas vezes é tardio, e o conhecimento sobre seu gerenciamento também é “escasso”.

As várias causas da demência precoce

O estudo holandês descobriu que, de maneira geral, o mal de Alzheimer era a causa mais comum de demência precoce. Mas, quando os sintomas se desenvolveram antes dos 50 anos, o mal de Alzheimer de início precoce foi uma explicação menos provável do que duas outras causas: demência vascular e demência frontotemporal.

A demência vascular resulta de um bloqueio ou lesão nos vasos sanguíneos do cérebro, interferindo na circulação e privando o cérebro de oxigênio e nutrientes. Além dos problemas de memória, seus sintomas mais comuns são confusão, dificuldade de concentração, raciocínio lento e dificuldade para organizar pensamentos ou tarefas.

Na demência frontotemporal, as partes do cérebro que ficam atrás da testa e das orelhas encolhem, resultando em mudanças dramáticas de personalidade, comportamento socialmente inadequado ou impulsivo e indiferença emocional. Problemas de movimento e memória geralmente se desenvolvem mais tarde no curso da doença.

De acordo com a Clínica Mayo, a demência frontotemporal geralmente começa entre as idades de 40 e 65 anos e pode ser diagnosticada erroneamente como um problema psiquiátrico.

A demência com corpos de Lewy é outra causa de demência em adultos mais jovens. Está associada a depósitos anormais de uma proteína chamada alfa-sinucleína, o que afeta a química do cérebro e leva a problemas comportamentais, de pensamento e movimento. A maioria dos sintomas são semelhantes aos observados em outras demências, e sintomas adicionais, como alucinações, podem se assemelhar à esquizofrenia, mas o declínio da função cerebral ocorre significativamente mais rápido. Um sintoma distintivo da demência com corpos de Lewy é ter sonhos violentos e tentar realizá-los, disse Knopman.

O mal de Alzheimer continua a ser a causa mais comum de demência em adultos mais jovens e mais velhos. Existe uma forma hereditária de Alzheimer que normalmente surge em idades mais jovens, mas esses casos representam menos de 10% das doenças precoces. A maioria dos casos de Alzheimer ocorre esporadicamente, por razões desconhecidas, embora fatores genéticos possam aumentar o risco.

Pessoas com Alzheimer normalmente têm um acúmulo de substâncias anormais – proteínas tau e beta-amilóide – no cérebro. Entre os primeiros sintomas estão memória prejudicada, problemas de linguagem, dificuldade de concentração e finalização de tarefas, julgamento confuso e déficits visuais ou espaciais que resultam em erros ao volante e perda do sentido de localização. Exames de cérebro podem mostrar uma perda de células cerebrais e uma capacidade prejudicada de metabolizar glicose, o que é indicativo de doença cerebral degenerativa.

Provavelmente, o fator mais conhecido por aumentar o risco de demência precoce são lesões repetidas na cabeça, como aquelas experimentadas por boxeadores profissionais, jogadores de futebol e futebol americano e, às vezes, veteranos militares.

Uma vez que as células cerebrais são danificadas ou mortas, não há como voltar atrás. Então, por enquanto a melhor proteção possível é prevenir lesões na cabeça.

Diagnóstico de demência precoce

Diagnosticar com precisão a demência de início precoce pode ser difícil e demorado e deve começar com um histórico médico detalhado, disse Knopman. “Se os médicos não fizerem as perguntas certas, as famílias podem deixar de mencionar um sintoma revelador, como sonhos violentos”.

Também é fundamental uma avaliação cognitiva completa das dificuldades de memória e linguagem da pessoa, disse ele. A pessoa se enrola com as palavras ou diz “branco” quando quer dizer “preto”? Testes neuropsicológicos podem detectar dificuldades sutis com memória, funções visuais e cognitivas.

É necessário fazer exames para descartar a possibilidade de um tumor no cérebro estar causando os sintomas cognitivos da pessoa. Uma punção lombar e a análise do líquido espinhal podem revelar níveis elevados de proteínas tau e beta-amilóide no cérebro. Uma ressonância magnética pode identificar o encolhimento de partes específicas do cérebro.

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