Domingo, 23 de Março de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 26 de abril de 2023
Em 2017, o produto interno bruto (PIB) per capita dos 210 milhões de brasileiros ainda era maior que o do 1,4 bilhão de chineses. No ano seguinte, a nação mais populosa do mundo ultrapassou o Brasil nesse quesito e hoje tem um PIB per capita 40% superior ao nosso.
A China está mais próspera, mais cara, mais digitalizada, mais chinesa e mais silenciosa. Identificados por placas verdes, ônibus elétricos são onipresentes em Pequim e Xangai e os carros do mesmo tipo, cada vez mais numerosos. Além de não produzirem emissões, eles quase não geram ruídos. A BYD, empresa que negocia a compra da ex-fábrica da Ford na Bahia, é líder de mercado, com uma fatia de 30%. Na sequência aparecem as americanas GM e Tesla, com participações de 8,9% e 8,8%, respectivamente.
Veículos elétricos
No ano passado, 1 em cada 4 veículos vendidos na China era elétrico, o que deu ao país asiático participação de quase 60% no mercado global do setor. O apelo do mercado chinês desafia a escalada das tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China.
Em 2019, a Tesla inaugurou uma gigafactory em Xangai, que se transformou na maior unidade produtiva da empresa no mundo em 2022, com capacidade instalada de 750 mil unidades por ano – no Brasil, todas as montadoras juntas venderam 1,9 milhão de veículos no mesmo período.
Os europeus também querem ampliar sua fatia no crescente mercado de mobilidade elétrica na China. No dia 18, a Volkswagen anunciou investimento de € 1 bilhão em um centro de pesquisa e desenvolvimento no país asiático voltado a carros elétricos e automação.
A digitalização da economia chinesa ganhou velocidade com a pandemia e hoje é difícil navegar no país fora dos aplicativos instalados em celulares. O uso do dinheiro é cada vez mais raro e pagamentos são feitos pelas grandes plataformas digitais, como Alipay e WeChat. O QRCode faz parte de todas as operações comerciais cotidianas e uma pergunta frequente na hora do pagamento é: “Você me escaneia ou eu te escaneio?”
Pegar um táxi na rua se tornou tarefa desafiadora, já que todos usam aplicativos para chamar carros. Para estrangeiros não familiarizados com a língua chinesa isso pode ser uma barreira, já que muitos motoristas ligam para o passageiro com o objetivo de confirmar sua localização.
Os que não têm conta bancária na China também enfrentam restrições nos meios de pagamento. O WeChat não aceita cartões de outros países. O Alipay, que foi o aplicativo que eu usei, sim. Mas não consegui realizar pagamentos em alguns estabelecimentos menores, por estar usando um cartão de crédito internacional. Nessas situações, o uso do dinheiro é possível, ainda que nem sempre haja troco disponível.
Para os chineses e os estrangeiros que vivem no país, a digitalização tornou a vida cotidiana super conveniente. Tudo pode ser resolvido nos aplicativos instalados no celular, do pedido de comida à compra de passagens de trem ou avião, passando pelo pagamento de compras e serviços.
Se a bateria acabar, há totens espalhados por Pequim e Xangai com carregadores portáteis, que podem ser retirados com o escaneamento do QRCode da plataforma de pagamento e devolvidos em outros locais, em um modelo de compartilhamento semelhante ao de bicicletas.
Em meu último dia na China, jantei na casa de uma amiga brasileira que vive em um condomínio de apartamentos mobiliados e com serviços em Pequim. Menos de 20 minutos depois de ela pedir nosso jantar pelo aplicativo, ele foi entregue na porta do apartamento por um robô.
A China também ficou mais cara, principalmente para os brasileiros que experimentaram o processo de desvalorização do real nos últimos anos. Jantares em restaurantes ocidentais que costumavam ser mais baratos do que no Brasil, agora vêm com uma conta bem mais salgada. Muitos serviços também subiram de preço. A manicure com esmalte de gel na rede Lily Nails, uma das mais populares de Pequim, custa hoje o equivalente a quase R$ 200.
Trem rápido
A exceção são transportes, que continuam relativamente acessíveis, incluindo táxi, metrô, ônibus e trens. Eu paguei cerca de R$ 450 por uma passagem de trem rápido de Pequim para Xangai, que percorre em 4h10 os 1.200 km que separam as duas cidades.
Desde 2008, quando a primeira linha do tipo foi inaugurada, a China construiu 42 mil km de trilhos de alta velocidade. No Brasil, não há nenhum metro e a extensão das linhas de trem tradicionais é próxima de 30 mil km. Se forem incluídos os serviços de baixa velocidade, o tamanho da rede ferroviária da China chega a 155 mil km.
A infraestrutura é o setor em que a prosperidade do país se traduz de forma mais concreta. Mas o enriquecimento também fica evidente nas lojas de luxo de shopping centers. No dia em que visitei o SKP, no Central Business District de Pequim, havia fila para entrar na Chanel e na Louis Vuitton.
Com o segundo maior número de bilionários do mundo, atrás apenas dos EUA, a China também é um dos principais destinos globais para as marcas de luxo. A consultoria Bain & Company, que publica relatórios anuais sobre esse segmento, prevê que em 2030 o país assumirá a liderança desse ranking e responderá por 25% a 27% das vendas globais.
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