Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Home em foco “Russofobia”, o outro efeito devastador da guerra de Putin

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As forças russas comandadas por Vladimir Putin avançam na Ucrânia na mesma proporção em que cresce a russofobia contra a diáspora espalhada pelo Ocidente, num fenômeno semelhante ao que vivenciou a comunidade muçulmana após os atentados de 11 de Setembro.

Atos hostis aos expatriados chegam ao extremo do contrassenso. Estudantes enfrentaram boicotes e foram excluídos de palestras em universidades na República Tcheca, onde vivem 50 mil russos. O deputado conservador Tom Tugendhat, que preside o Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Comuns, defendeu a expulsão dos cidadãos russos do Reino Unido.

A onda de cancelamentos tem efeitos devastadores na cultura. Filmes russos foram banidos de festivais; artistas, de exposições que já estavam programadas, disseminando, desta forma, a ideia de que o russo comum é o verdadeiro inimigo.

Nem Dostoiévski, que morreu há 141 anos e foi preso sob acusação de conspirar contra o Czar Nicolau I, escapou da censura: a Universidade Bicocca achou por bem suspender o curso de quatro aulas que o escritor Paolo Nori daria sobre a obra do autor russo.

O objetivo da reitoria era evitar confusão pelo momento tenso, mas a medida atraiu tanta polêmica que a universidade acabou por voltar atrás e manter o curso. O Carnegie Hall e o Metropolitan Opera de Nova York anunciaram que não apresentarão mais artistas que apoiaram Putin.

“Um novo macarthismo está perseguindo a América: o cancelamento, ou ameaça de cancelamento, de artistas, músicos e atletas russos”, atestou o economista Tyler Cowen, colunista da Bloomberg, ao referir-se à perseguição de simpatizantes do comunismo que foram banidos da cena cultural dos EUA na década de 1950. “Há alguma evidência clara de que boicotar artistas russos fora da Rússia vai ajudar a Ucrânia?” questionou.

Para os muçulmanos esta relação com o Ocidente é familiar e teve no 11 de Setembro de 2001 um divisor de águas. A chamada Guerra ao Terror e atentados terroristas em capitais europeias desencadearam sentimentos de desconfiança e medo do Islã e, por consequência, atos violentos e discriminatórios contra a comunidade, que se intensificaram nas duas últimas décadas e se enraizaram nos discursos políticos.

O sentimento antirrusso se misturou com estereótipos e aversão ao comunismo disseminados durante a Guerra Fria. Pouco mudou em relação ao momento atual. Uma pesquisa realizada para a ABC News e o Washington Post após a invasão da Ucrânia revelou que 80% dos americanos veem a Rússia como hostil ou inimiga dos EUA, o maior índice registrado em 40 anos.

O “frenesi russofóbico” relatado na semana passada pelo chanceler Sergei Lavrov, durante a Conferência sobre o Desarmamento da ONU, juntava no mesmo contexto, e de forma intencional, as ações do Ocidente para deter a Rússia e o ódio aos cidadãos russos.

A generalização é tóxica, mas interessa a Putin: mistura os interesses do Kremlin e os da população russa, que não teve a mínima ingerência na invasão da Ucrânia, criando, assim, uma realidade paralela à guerra que se desenrola há duas semanas.

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