Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Home Curiosidades Saiba como um agente do FBI enganou casal de espiões que tentava vender segredos nucleares em um pacote enviado ao Brasil

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Em abril de 2020, integrantes do governo brasileiro receberam uma correspondência misteriosa. Lacrado com quatro selos postais dos Estados Unidos e envolto em um envelope pardo, o pacote continha documentos da Marinha americana, um cartão de memória, instruções sobre como acessar informações secretas e um recado: “Peço desculpas por esta má tradução para o seu idioma. Por favor, encaminhe esta carta para a sua agência de inteligência militar. Acredito que essa informação será de grande valor para a sua nação. Isso não é uma farsa”. E de fato não era.

Oito meses após analisar o material, em dezembro de 2020, integrantes da área de inteligência do governo brasileiro decidiram compartilhar o caso com um representante do FBI, a polícia federal americana. Ao apurar os fatos, investigadores dos Estados Unidos descobriram que por trás da trama estava um engenheiro naval da Marinha americana e sua mulher.

A tentativa de os espiões venderem para o Brasil documentos de projetos de submarinos nucleares – que custam cada um mais de U$ 3 bilhões de dólares (R$ 15 bilhões) – foi revelada pelo jornal The New York Times. A reportagem mostrou que o casal Jonathan e Diana Toebbe foi preso em outubro de 2021 e se declarou culpado no mês passado.

De acordo com um relatório do FBI entregue à Justiça americana, o agente especial Justin Van Tromp foi escalado para a missão de desvendar quem estava tentando vender informações sigilosas dos EUA para o Brasil. Ex-integrante do serviço secreto americano, Tromp tem uma ampla experiência em contrainteligência.

O FBI iniciou a investigação em 23 de dezembro de 2020, analisando as chaves de criptografia que estavam no cartão de memória enviado no envelope misterioso enviado para o governo brasileiro.

O dispositivo continha um endereço eletrônico do ProtonMail – serviço conhecido por contar com criptografia de ponta a ponta – para manter contato com o remetente desconhecido. Uma primeira análise no material, com ajuda de um especialista da Marinha dos EUA, identificou que os dados eram reais e restritos.

Três dias depois, o FBI decidiu simular uma negociação, em nome do Brasil, e enviou o primeiro de vários e-mails para “Alice”, nome fictício usado por Jonathan Toebbe para se comunicar sob anonimato. A mensagem, assinada por “Bob”, pseudônimo criado pelo agente, declarava o interesse em ter acesso à integra dos dados sigilosos. “Já se passaram muitos meses, então precisamos saber se você ainda está por aí. Por favor, responda a esta mensagem, então forneceremos instruções de como proceder”, dizia o policial disfarçado.

Duas semanas depois, em 10 de fevereiro de 2021, “Alice” respondeu que “estava ali” e disposta a negociar. O agente do FBI escreveu, em tom amistoso, que gostaria de uma amostra dos documentos sigilosos e que teria um amigo de confiança nos EUA para compensar os esforços pelo vazamento dos dados. Mas, para isso, seria necessário um encontro pessoal.

Com receio, Toebbe propôs que o contato continuasse de forma eletrônica e pediu um “presente” de US$ 100 mil (R$ 530 mil) do governo brasileiro para comprovar o interesse no material. “Quando eu confirmar o recebimento do seu presente, fornecerei o link para download”, escreveu o espião, indicando que o modo de pagamento deveria ser por meio de uma criptomoeda que possibilita o anonimato das partes envolvidas na transação.

Em 18 de março de 2021, o agente do FBI, ainda se passando por um representante do governo brasileiro, fez uma proposta: o código para o recebimento das criptomoedas ficaria no mesmo local onde o engenheiro naval deveria deixar parte dos documentos.

Ao longo das trocas de e-mails, o casal solicitou uma prova física de que o suposto interlocutor brasileiro existia de fato, pois temia estar conversando com algum “inimigo”.

Sugeriu então que fosse colocada uma bandeira ou algum sinal “fácil de detectar” no prédio da representação brasileira nos EUA, em Washington. O pedido foi atendido. Toebee confirmou por e-mail que, a partir daquele momento, estava mais confortável em fazer a entrega física dos cartões de memória.

Em 10 de junho de 2021, o FBI pagou US$ 10 mil em criptomoeda. O espião agradeceu e declarou que estava “esperando ansiosamente por suas instruções”. Oito dias depois, o agente disfarçado propôs que Toebbe deixasse um cartão de memória com o material sigiloso num determinado endereço.

No dia combinado, o FBI observou o engenheiro naval, acompanhado de sua mulher, no local indicado. O casal, monitorado pelos investigadores, deixou um cartão de memória, de cor azul, de 16 GB, envolto em plástico e colocado entre duas fatias de pão de manteiga de amendoim.

Em 28 de junho de 2021, Toebbe enviou um e-mail fornecendo o código para o pagamento de mais US$ 20 mil em criptomoeda, o que foi devidamente efetuado. No dia seguinte, o engenheiro compartilhou a senha com o FBI, de forma criptografada, para a abertura do cartão deixado dentro do pão. A Marinha dos EUA analisou o material e verificou que vários documentos no cartão SD continham dados restritos do governo americano sobre reatores submarinos da classe Virginia.

Outras entregas de cartões de memória foram sendo realizadas, seja dentro de um chiclete pregado em um contêiner ou em um Band-Aid num saco transparente, sempre seguidas de pagamentos que totalizaram mais de US$ 100 mil. Com o passar do tempo, o casal disse que se sentia seguro para conhecer seus novos parceiros.

“Um dia, quando for seguro, talvez dois velhos amigos terão a chance de se encontrar em um café, compartilhar uma garrafa de vinho e rir das histórias de suas façanhas compartilhadas”, escreveu. Não deu tempo. Os Toebbe foram presos em outubro – e se declararam culpados das acusações de espionagem.

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