Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

Home em foco Saiba o que a China tem a perder ao apoiar a Rússia na guerra contra a Ucrânia

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Antes mesmo da invasão russa na Ucrânia se tornar realidade, uma possível aliança entre Rússia e China já vinha se desenhando.

Os líderes das duas potências se reuniram em Pequim no início de fevereiro e deram mostras de sua proximidade. O encontro, que aconteceu às margens das Olimpíadas de Inverno, foi marcado por declarações de apoio de Xi Jinping a Moscou e suas preocupações com a segurança nacional.

Em um comunicado divulgado após a reunião, os dois países afirmaram que “a amizade entre [Rússia e China] não tem limites, não há áreas ‘proibidas’ de cooperação” e que pretendem “combater a interferência de forças externas em assuntos internos de países soberanos”.

Mas desde que Vladimir Putin reconheceu oficialmente a independência das províncias ucranianas de Donetsk e Luhansk e deu início à operação militar no país vizinho, as declarações de apoio da China se tornaram menos consistentes e mais discretas.

Segundo analistas, a forma cautelosa com que Pequim vem lidando com a guerra na Ucrânia é reflexo dos temores do país em relação a possíveis retaliações econômicas e políticas.

Posição da China

Desde que a Rússia iniciou o envio de suas tropas para a fronteira com a Ucrânia, no final de 2021, a China vem adotando um comedido discurso pró-Moscou.

Nas semanas que antecederam a invasão, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, classificou as preocupações de Moscou em relação à sua segurança nacional como “legítimas”, afirmando que elas deveriam ser “levadas a sério e discutidas”.

Por meio da imprensa estatal, o governo em Pequim também afirmou que a Otan adota uma posição agressiva ao se recusar a respeitar o direito soberano de outros países – como Rússia e China – de defender seu território.

“Tanto a Rússia quanto a China desejam criar uma posição de antagonismo em relação aos Estados Unidos e encontram nessa ambição uma posição em comum”, diz Alexandre Uehara, coordenador acadêmico do Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais da ESPM.

Para Vicente Ferraro Jr., cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da USP, há também um componente ideológico envolvido na aproximação entre as duas potências.

“Ambas contestam em parte o liberalismo político e acusam o Ocidente de tentar ‘exportar’ seus modelos políticos, de maneira inapropriada, a outras sociedades e contextos culturais. O liberalismo político e, indiretamente, a democracia representativa são apresentados por ambas não como valores universais, mas como construções do Ocidente instrumentalizadas para fins geopolíticos”, diz.

Consequências

Segundo especialistas em política internacional, o maior receio da China ao apoiar Moscou é prejudicar seus laços econômicos com a Europa e os Estados Unidos.

“A China tem interesses econômicos gigantescos na Europa e tem que tomar cuidado para que seu apoio a Putin não fique tão óbvio a ponto de provocar reações negativas da França, Alemanha ou do continente em geral”, diz o americano Bruce Jones, diretor do Projeto sobre Ordem Internacional e Estratégia do think tank Brookings Institution.

Ao todo, a China exportou cerca de US$ 420 bilhões (R$ 2,1 trilhões) em bens para a Europa em 2020, segundo a própria União Europeia (UE), e foi a principal fonte de origem das importações do bloco. O montante só fica atrás do que foi comercializado pela potência chinesa para os Estados Unidos, que chegou a US$ 452 bilhões (R$ 2,2 trilhões).

Já o mercado chinês foi o terceiro principal destino das exportações europeias em 2020, responsável por 10,5% das exportações da UE.

O governo chinês teme que um apoio vigoroso e vocal à operação militar russa possa desencorajar seus parceiros comerciais na Europa e América a expandir ainda mais os negócios.

Ao mesmo tempo, receia que uma piora nas sanções aplicadas contra Moscou possa prejudicar sua própria relação econômica com o mercado russo.

A Rússia também é um parceiro comercial importante para a China e os dois países vêm estreitando ainda mais os laços nos últimos anos.

O comércio total entre as potências saltou 35,9% no ano passado, segundo dados da alfândega chinesa, e Moscou serve como uma importante fonte de petróleo, gás, carvão e commodities agrícolas para Pequim.

“Há uma expectativa de que o aprofundamento das relações comerciais com a China poderá amortizar, ao menos em parte, o impacto das sanções econômicas impostas pelo Ocidente contra a Rússia”, diz Vicente Ferraro Jr. “Contudo, o alcance dessa amortização ainda é uma incógnita e não é descartável um efeito colateral das sanções para empresas chinesas que têm relações comerciais tanto com a Rússia quanto com países do Ocidente”.

Segundo o especialista, as sanções econômicas contra a Rússia podem gerar o encarecimento de commodities devido às tensões, sobretudo petróleo e gás.

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