Domingo, 22 de Junho de 2025

Home em foco Saiba por que Lula escolheu Haddad

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A pergunta de dez entre dez calls no mercado financeiro é “por que Lula escolheu Fernando Haddad como ministro da Fazenda?”A resposta é simples, mas inconclusiva: Haddad foi selecionado por ter uma relação quase filial com Lula da Silva, num sentimento que combina lealdade, cumplicidade e admiração recíproca.

A análise é do jornalista e consultor de comunicação, Thomas Traumann, que desenvolveu o assunto em artigo publicado originalmente na Veja. De acordo com ele, Lula escolheu Haddad porque acredita que o futuro ministro será seu longa manus, alguém que vai tocar a economia do Brasil pensando no que o presidente faria se estivesse no seu lugar. Como no slogan da derrotada campanha de 2018, Haddad é Lula e Lula é Haddad.

Mas a resposta, embora correta, é simplificadora. Haddad não será Lula porque é obediente ao chefe, mas porque concorda com ele. Os dois tocam de ouvido. Assim como o presidente, Haddad acredita num estado de bem-estar social, parcerias público-privadas e a economia privada livre, mas regulada. É que academicamente se chamaria de neokeynesianismo, aquele autor que o atual ministro da Economia disse ter lido “três vezes na língua da rainha”, mas não entendido em nenhuma delas.

Para Traumann, o político Haddad é uma invenção de Lula, que em 2012 tirou do colete o nome do então ministro da Educação para ser candidato a prefeito do PT por ele ter “esse jeito de tucano”. Chamado de “poste” de Lula, Haddad ganhou aquela eleição, perdeu a reeleição e, quando o ex-presidente foi preso, foi a terceira opção como herdeiro político (por motivos opostos, Ciro Gomes e Jaques Wagner recusaram ser o falso candidato a vice-presidente até o esgotamento de todos os recursos judiciais). Na campanha de 2018, Haddad reforçou a imagem de poste participando de um clip de TV com uma máscara de Lula. Esse tempo acabou. Haddad não é mais um poste.

Foi ele quem intermediou por cinco meses as conversas sigilosas de Lula e de Geraldo Alckmin para formar uma chapa entre os dois ex-adversários. Também foi ele que, no meio da campanha, ajudou a cicatrizar as mágoas que separavam Lula de sua ex-ministra Marina Silva. Foi Haddad quem trouxe para a campanha Lula o PSOL e convenceu Marcio França a um inédito acordo em São Paulo. Por fim, mas não menos importante, foi a campanha de Haddad a governador que fez Lula chegar a 45% dos votos no Estado de São Paulo, resultado decisivo para a vitória nacional. Aos olhos de Lula, Haddad deixou de ser um cumpridor de missões para ganhar tamanho como articulador e como político.

Esse novo patamar de Haddad aos olhos do presidente poderia leva-lo à Casa Civil, para coordenar as ações de governo, ou a um ministério vitrine para ser candidato à sucessão em 2026. Por que a Fazenda?

Como Haddad era candidato a governador, embora com chances pequenas de vitória, Lula pensou em outros nomes. Havia uma premissa: no seu governo não haveria um Posto Ipiranga, um ministro da Fazenda que assumiria a condução da economia e teria em suas mãos a credibilidade do governo. Isso nunca funcionaria com Lula. Como repete o ex-presidente, quem manda no governo é quem tem 60 milhões de votos. Por isso, Lula não permitiu ao longo da campanha que houvesse um porta-voz ou único interlocutor seu junto ao mercado. A rede de WhatsApp dos economistas que fizeram o programa de governo lulista, coordenado pela Fundação Perseu Abramo, tinha 101 nomes. É óbvio que quem tem 101 nomes, não tem nenhum.

Lula chegou a citar em conversas a possibilidade de chamar nomes fora do PT, como Henrique Meirelles e Luiz Carlos Trabuco, mas depois de eleito se concentrou em pouco nomes: na conversa com o governador da Bahia, Rui Costa, concluiu que era melhor tê-lo na Casa Civil; o senador Wellington Dias foi descartado pelos equívocos na condução da PEC da Transição e o deputado Alexandre Padilha terminou vítima do próprio sucesso. Sabendo que a opção estava entre Padilha e Haddad, vários banqueiros e empresários passaram a elogiar Padilha ostensivamente. Vários comparavam Padilha com o ex-ministro Antonio Palocci, que no primeiro governo Lula manteve uma política ortodoxo. O que para eles era um elogio, para Lula era um despautério, uma vez que Palocci virou uma ofensa depois que o ex-ministro fez uma delação premiada acusando Lula de corrupção.

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