Terça-feira, 02 de Dezembro de 2025

Home Saúde “Speed watching”: saiba por que algumas pessoas têm o desejo de consumir conteúdo das redes sociais de forma rápida

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A possibilidade de ouvir uma longa mensagem de áudio do WhatsApp em menos tempo ou de avançar rapidamente por uma série em plataformas como Netflix ou Prime Video deixou de ser apenas um recurso adicional: tornou-se um hábito generalizado conhecido como “speed-watching”.

Essa prática consiste em reproduzir conteúdo audiovisual em velocidade superior à original para reduzir sua duração. Seu uso se disseminou por quase todos os formatos digitais, desde podcasts e vídeos curtos até obras culturais mais longas.

O fenômeno se normalizou em um contexto no qual o ritmo acelerado da vida cotidiana e a necessidade de acompanhar o ritmo influenciam até mesmo a forma como os produtos culturais são consumidos. Da leitura superficial à visualização de filmes em velocidade dupla, a tendência reflete um padrão de comportamento marcado pela pressa e pela otimização do tempo.

A disseminação dessa prática está ligada a um senso de urgência para não ficar de fora da conversa social. A pressão para ter ouvido “o último álbum”, assistido “o filme do momento” ou lido “o livro premiado do ano” transforma o consumo cultural em uma lista de tarefas. Isso é agravado pelo medo da exclusão, um impulso relacionado ao conhecido FOMO (medo de ficar de fora).

Segundo Lucía Vidorreta Ballesteros, neurologista e coordenadora da Unidade de Enxaqueca do Hospital Quirónsalud San José, embora possa parecer eficiente, esse hábito tem profundas implicações para o processamento cognitivo, a atenção e o aprendizado. Seu alerta se concentra em como o cérebro reage à exposição contínua a estímulos acelerados.

Evidências científicas sugerem que o aumento da velocidade de reprodução prejudica a atenção sustentada e a capacidade de processar informações de forma eficaz. A experiência cotidiana reflete isso: muitas pessoas precisam rever ou ouvir conteúdo acelerado porque não o compreenderam completamente.

Vidorreta destaca que, quando o cérebro se acostuma a receber informações em ritmo acelerado, a necessidade de novos estímulos aumenta e a capacidade de concentração sustentada diminui. Em jovens, o grupo que mais frequentemente utiliza essa prática, os efeitos podem ser mais significativos devido ao estágio de desenvolvimento cerebral em que se encontram. Isso pode impactar o desempenho acadêmico, a capacidade de atenção em sala de aula e a profundidade da aprendizagem.

A obsessão por assistir a vídeos em alta velocidade não afeta apenas a função cognitiva. Também pode gerar distúrbios emocionais relacionados à frustração e à redução da tolerância à espera. A exposição constante a atividades aceleradas alimenta uma busca compulsiva por novos estímulos e diminui a capacidade de desfrutar de atividades de lazer.

O especialista do Serviço de Neurologia do Hospital Quirón Salud San José explica que reproduzir vídeos um pouco mais rápido, por exemplo, a 1,25× ou 1,5×, pode ser útil em contextos específicos, mas o seu uso excessivo pode alterar funções como a concentração, a atenção sustentada e a consolidação da memória.

Embora atividades como assistir a uma série, ouvir um podcast ou ler um livro já tenham sido formas de lazer, hoje elas correm o risco de se tornarem processos acelerados associados à produtividade. A questão que se coloca é se a pressa para terminar um conteúdo realmente libera tempo ou simplesmente leva ao consumo de outro, também em ritmo acelerado.

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