Segunda-feira, 28 de Abril de 2025

Home em foco Uma análise feita pela Polícia Federal do perfil dos alvos do programa espião da Agência Brasileira de Inteligência revela que a maior parcela de monitorados, 31%, é composta por empresários

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A Polícia Federal investiga se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob a gestão de Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL, levantou informações de inquéritos sigilosos envolvendo políticos do Rio e se ampliou o volume de consultas ao sistema de espionagem FirstMile durante as eleições municipais em 2020. Uma análise feita pela Polícia Federal do perfil dos alvos do programa espião da Agência Brasileira de Inteligência revela que a maior parcela de monitorados, 31%, é composta por empresários.

A ferramenta israelense monitorou durante o governo de Jair Bolsonaro a localização de parlamentares, ambientalistas, jornalistas, professores e advogados.

Investigadores descobriram indícios de que, em fevereiro de 2020, Ramagem imprimiu na sede da Abin, em Brasília, uma lista com os números dos inquéritos relacionados a 66 políticos que foram candidatos nas eleições de 2018, mas não se elegeram. As informações foram extraídas de um sistema da superintendência da PF no Rio de Janeiro — e apontam ainda dados sobre “valores em apuração”.

“A impressão de relatório de informações com referências à data 28/02/2020, a priori sigilosas, relacionadas a Inquéritos Policiais Federais da DELINST, unidade responsável pelas apurações eleitorais, da Superintendência da Polícia Federal, demonstra o interesse ‘eleitoral’ no ano de 2020”, aponta o relatório da PF em referência à atuação paralela da Abin sob a gestão de Ramagem.

A maioria dos nomes relacionados na planilha da Abin pertencia às siglas hoje extintas, como PMB e Patriota. As duas legendas chegaram a ser cotadas para abrigar o então presidente Jair Bolsonaro, que na época estava sem partido após deixar o PSL, em 2019. O documento também destaca integrantes do PSL, PP, MDB , DEM e PDT, todos do Rio, reduto eleitoral de Ramagem.

Na lista constam ainda uma ativista de movimentos culturais do PCdoB, uma socióloga do PDT, um ex-policial militar do extinto DEM (atual União Brasil) e um ex- bombeiro do Patriota detido na Operação Lesa Pátria por envolvimento com os atos de 8 de janeiro.

De olho nas eleições

No mesmo período em que levantou informações sobre inquéritos envolvendo políticos no Rio de Janeiro, a Abin comandada por Ramagem aumentou o volume de consultas ao sistema FirstMile, que monitorava os passos de alvos selecionados por meio da conexão de rede do celular. As buscas pela localização de alvos selecionados aumentaram 2.500% em outubro de 2020, período das campanhas para as eleições para prefeito e vereador em todo o país.

“O uso do sistema FirstMIle em outubro de 2020, período eleitoral, apresentou discrepância na distribuição das consultas posto que das 60.734 (sessenta mil, setecentos e trinta e quatro) consultas constantes na tabela target, 30.344 (trinta mil, trezentos e quarenta e quatro consultas) foram realizadas no período eleitoral de 2020”, diz relatório da PF.

Os dados apontam que o sistema foi utilizado pela Abin entre fevereiro de 2019 e abril de 2021. Nos demais meses, fora do pico eleitoral, a média mensal foi de 1.168 buscas.

Em manifestação feita no âmbito do inquérito que investiga o uso do sistema espião, a Procuradoria- Geral da República (PGR) classificou o pico de buscas no período eleitoral como “concentração desarrazoada”, “corroborando a suspeita de instrumentalização da Abin para fins políticos”.

A ferramenta de espionagem foi adquirida pela Abin com a justificativa de ser utilizada no “Plano Rio”. No entanto, o programa israelense passou a ser usado como principal foco em Brasília. Foram monitoradas regiões próximas ao Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal de Contas da União (TCU) e ao aeroporto internacional, segundo a investigação da PF. O Rio concentrou apenas 7% das buscas.

Em Brasília, de acordo com a PGR, o uso do FirstMile “alcançou as Asas Sul e Norte, o Lago Sul e a região central da capital federal, notadamente na sensível região da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes”.

Em diferentes estados, como Mato Grosso, São Paulo e Ceará, a ferramenta foi utilizada pela Abin para monitorar caminhoneiros e representantes da categoria envolvidos em manifestações. No entanto, a PF descobriu que nessas operações também era vigiados professores, sindicalistas e jornalistas.

Uma análise feita pela PF do perfil dos alvos do programa espião revela que a maior parcela de monitorados, 31%, é composta por empresários. Servidores públicos, professores, pesquisadores e militares representam 14% das buscas feitas no sistema.

Além disso, 8% dos monitoramentos foram contra alvos ligados a associações e empresas privadas. Um exemplo é o da pesquisadora Luiza Alves Bandeira, responsável por um estudo que mapeou páginas bolsonaristas que difundiam notícias falsas e realizavam ataques coordenados nas redes sociais. Outros 3% dos alvos eram advogados, mesmo patamar dos políticos.

Um deles foi o ex-deputado federal Jean Wyllys. No início de 2019, ele optou por não assumir o novo mandato como parlamentar para o qual havia sido eleito. Ele fez oposição pública ao clã Bolsonaro, colecionou embates judiciais com os filhos do ex-presidente e decidiu morar no exterior. Foi substituído na Câmara por David Miranda, morto em maio de 2023.

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