Domingo, 19 de Maio de 2024

Home Economia Uso do rotativo mais que dobra com pandemia, e juros chegam a quase 1.000%

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O uso do rotativo do cartão de crédito, linha de financiamento mais cara do Brasil, amplamente disseminada entre a população de baixa renda, mais do que dobrou nos últimos três anos.

De acordo com dados do Banco Central (BC), a concessão cresceu 108% no período entre junho de 2020 e o mesmo mês de 2023, quando alcançou R$ 30,2 bilhões.

O consumidor cai no rotativo toda vez que opta por pagar apenas uma parte da fatura do cartão até o vencimento. Conforme o BC, os juros médios estão em 437% ao ano, mas instituições chegam a cobrar quase 1.000%.

Nesse cenário, a inadimplência alcançou o recorde de 53% em maio. Atualmente está em 49%. Com isto, governo e Congresso iniciaram pressão pela queda dos juros.

Temendo um tabelamento, como ocorreu com o cheque especial, que hoje tem teto de 8% ao mês, os bancos aceleraram as negociações com varejistas e empresas do setor. O objetivo é encontrar uma “solução de mercado” e evitar medidas mais intervencionistas.

Essa disparada na concessão do rotativo, de acordo com especialistas, tem diversas raízes. Elas vão desde o impacto da pandemia no orçamento das famílias até a proliferação no número de cartões e o maior acesso a esse tipo de crédito, passando pela falta de educação financeira.

“Muitas pessoas, principalmente as que estavam na informalidade, tiveram períodos de perda de renda durante a pandemia”, afirma a coordenadora do programa de Serviços Financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim. Ela explica que, por falta de opção, as famílias de baixa renda acabam recorrendo a linhas de crédito sem garantias, que têm juros mais elevados. “A grande oferta de cartões atende a essa necessidade, mas isso vem acompanhado da maior taxa do mercado”, diz.

No fim do ano passado, pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre FGV) analisaram o superendividamento das famílias mais pobres, por meio das modalidades mais caras de crédito, e também fizeram conexões com a pandemia.

“O impacto das quarentenas e do fechamento da maior parte do setor de serviços foi enorme no orçamento das famílias, especialmente as de baixa renda”, escreveu, à época, José Júlio Senna, coordenador do Centro de Política Monetária do Ibre FGV.

Em 2022, a quantidade de cartões de crédito representava quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil, segundo o BC. Ele ponderou que o auxílio emergencial mais do que compensou a perda de renda do salário durante certo período da pandemia, mas “de maneira descontínua, de forma a gerar insegurança e momentos de privação”. Além disso, nesse intervalo de três anos, houve um repique da inflação, que foi acompanhado de uma forte alta da Selic, a taxa básica de juros da economia, a qual saiu de 3% ao ano para 13,75% – fazendo com que as dívidas crescessem mais rapidamente.

A proliferação de cartões de crédito, com a entrada de novos players no segmento, também ajuda a explicar o maior uso do rotativo. Dados do BC apontam que 20 milhões de pessoas passaram a ter acesso a um ou mais cartões entre 2019 e 2022. Uma expansão positiva, do ponto de vista de inclusão financeira, mas que tem potencial de aumentar o nível de endividamento das famílias, alerta a autoridade monetária.

Segundo o documento, em junho de 2022, a quantidade de cartões de crédito (190,8 milhões) representava quase o dobro da população economicamente ativa no Brasil (107,4 milhões).

“O número de plásticos aumentou muito nos últimos anos. Logo, também há mais pessoas usando o rotativo”, afirma Rafael Schiozer, professor da FGV EAESP.

 

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