Segunda-feira, 12 de Maio de 2025

Home Saúde Uso exagerado de corticoides pode enfraquecer os ossos, reforça estudo; entenda a relação

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O que começou como um tropeço inofensivo em um sítio levou o consultor de imóveis Ney Borges, então com 29 anos, direto ao hospital. E quase deixou o homem, hoje com 63 anos, paraplégico. A simples queda resultou em múltiplas fraturas na coluna. No atendimento, veio a surpresa: apesar da pouca idade, os ossos estavam anormalmente frágeis, indicando uma osteoporose avançada. Após diversas investigações, os médicos apontaram que a causa teria sido o uso diário, sem prescrição, e durante anos, de um spray nasal à base de corticoides para rinite alérgica.

“Normalmente, as pessoas associam a osteoporose a mulheres idosas, que é o mais comum. Mas existe um fator importante, que é o uso de corticoide, principal causa secundária dessa condição. Mesmo jovens que usam corticoides por muito tempo têm maior risco de fraturas”, explica o endocrinologista e pesquisador Leonardo Costa Bandeira.

Os corticoides, ou corticosteróides, são hormônios produzidos naturalmente pelo corpo, como o cortisol. Sinteticamente, são usados no tratamento de diversas doenças, como artrite reumatoide, esclerose múltipla, asma e alergias graves. São considerados os medicamentos mais eficazes para conter processos inflamatórios. Por isso, eles salvam vidas todos os dias. Mas seu uso, apesar de seguro, deve ser feito sob prescrição e sem exageros.

Sabendo que doses elevadas de corticoides podem causar perda óssea, um time de pesquisadores liderado por Bandeira resolveu investigar o cenário entre pacientes com deficiência na produção natural do hormônio cortisol. Nesses casos, um corticoide é administrado para repor essa substância que o corpo não fabrica de forma adequada.

“Esse não é o mesmo quadro de quem toma corticoide para tratar uma inflamação. Aqui, o paciente precisa repor o hormônio porque o organismo não o produz. Mas, mesmo nesse contexto, queríamos entender se há impacto nos ossos”, explica o médico. O estudo, inédito, será apresentado no 16º Congresso Paulista de Endocrinologia e Metabologia (COPEM), que começa hoje e vai até 10 de maio.

Para avaliar os riscos ao esqueleto, os pesquisadores usaram um tipo específico de tomografia, uma tecnologia nova e ainda pouco difundida. “No Brasil, só existem três aparelhos como esse”, aponta o médico.

Eles descobriram, então, que mesmo entre os pacientes com deficiência hormonal, o uso contínuo de corticoides pode, sim, levar à perda de massa óssea. O motivo está na dose: “Mesmo quando usamos (o medicamento) como reposição, as doses são, em geral, maiores do que as que o corpo normalmente produziria. E quanto maior a dose, maior a perda óssea”, descreve o médico.

Além disso, os medicamentos podem provocar perda de massa muscular, o que também foi observado entre os participantes do estudo. “Por isso, é importante que esses pacientes façam musculação e tenham uma boa ingestão de proteína”, recomenda.

Ação nos ossos

Essas substâncias ativam os osteoclastos, que são as células que promovem a reabsorção óssea – ou seja, “destroem” o osso. Ao mesmo tempo, reduzem a atividade dos osteoblastos, que são responsáveis pela formação do osso. Em resumo, o uso prolongado resulta em uma combinação de menos formação e mais destruição.

Fora isso, os corticoides contribuem para a excreção de cálcio na urina – o mineral é considerado essencial para a formação e o fortalecimento dos ossos. Há ainda um aumento do hormônio da paratireoide, que também promove reabsorção óssea.

A farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pondera que medicamentos do tipo inalatório ou pomadas tendem a ser menos danosos, já que promovem uma ação local. Mas, ela reforça, é preciso cautela em relação à frequência de uso. No caso de Borges, foram 10 anos de consumo contínuo.

Outros riscos

Os efeitos dos corticóides vão além dos ossos. A especialista aponta, por exemplo, para a possibilidade de aumento nos níveis de açúcar no sangue, o que pode ser um risco para pessoas com diabetes ou pré-dispostas a desenvolver a doença.

Em conteúdo elaborado para o Estadão, a assessoria técnica do Conselho Federal de Farmácia (CFF) também chama a atenção para eventuais problemas no sistema imunológico, especialmente entre pessoas que já têm a imunidade baixa.

Por causar retenção de sódio, os corticoides podem provocar inchaço e ainda levar ao aumento da pressão arterial, explica Amouni. No fim das contas, o uso inadequado tem relação com um maior risco de hipertensão, AVC (acidente vascular cerebral) e insuficiência cardíaca.

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