Quinta-feira, 04 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 4 de dezembro de 2025
Uma política de saúde pública incomum no País de Gales pode ter produzido a evidência mais forte até agora de que uma vacina pode reduzir o risco de demência. Em um novo estudo liderado pela Stanford Medicine, pesquisadores que analisaram os registros de saúde de idosos galeses descobriram que aqueles que receberam a vacina contra herpes-zoster apresentaram uma probabilidade 20% menor de desenvolver demência nos sete anos seguintes, em comparação com aqueles que não receberam a vacina.
As descobertas notáveis, publicadas na renomada revista científica Nature, corroboram uma teoria emergente de que vírus que afetam o sistema nervoso podem aumentar o risco de demência. Se confirmadas, as novas descobertas sugerem que uma intervenção preventiva para a demência já está próxima.
Em um estudo subsequente, os pesquisadores descobriram que a vacina também pode beneficiar aqueles já diagnosticados com demência, retardando a progressão da doença.
O herpes-zóster, uma infecção viral que produz uma erupção cutânea dolorosa, é causado pelo mesmo vírus que causa a catapora – o varicela-zóster. Após contrair catapora, geralmente na infância, o vírus permanece latente nas células nervosas por toda a vida. Em pessoas idosas ou com sistema imunológico enfraquecido, o vírus latente pode reativar-se e causar herpes-zóster.
A demência afeta mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo. Décadas de pesquisa sobre a condição têm se concentrado principalmente no acúmulo de placas e emaranhados neurofibrilares no cérebro de pessoas com Alzheimer, a forma mais comum de demência. Mas, sem avanços significativos na prevenção ou no tratamento, alguns pesquisadores estão explorando outras vias.
Estudos anteriores baseados em registros de saúde associaram a vacina contra herpes-zóster a menores taxas de demência, mas não conseguiram levar em conta uma importante fonte de viés: pessoas vacinadas também tendem a ser mais conscientes da saúde em inúmeros aspectos difíceis de mensurar.
“Todos esses estudos associativos sofrem do problema básico de que as pessoas que se vacinam têm comportamentos de saúde diferentes daquelas que não se vacinam”, diz o médico Pascal Geldsetzer, autor sênior do novo estudo.
Experimento natural
Há dois anos, Geldsetzer reconheceu um “experimento natural” fortuito na implementação da vacina contra herpes-zóster no País de Gales, que parecia contornar o viés. A vacina usada na época continha uma forma viva atenuada, ou enfraquecida, do vírus.
O programa de vacinação, que começou em 1º de setembro de 2013, especificava que qualquer pessoa com 79 anos nessa data era elegível para a vacina por um ano.
Essas regras, criadas para racionar o fornecimento limitado da vacina, também significavam que a pequena diferença de idade entre pessoas de 79 e 80 anos fazia toda a diferença em relação a quem tinha acesso à vacina. Ao comparar pessoas que completaram 80 anos pouco antes de 1º de setembro de 2013 com pessoas que completaram 80 anos logo depois, os pesquisadores puderam isolar o efeito da elegibilidade para a vacina.
Proteção
Ao longo dos sete anos seguintes, os pesquisadores compararam os resultados de saúde de pessoas de idade semelhante que eram elegíveis e inelegíveis para receber a vacina. Levando em consideração as taxas reais de vacinação, eles puderam inferir os efeitos da imunização.
Como esperado, a vacina reduziu a incidência de herpes-zóster em cerca de 37% durante esse período de sete anos para as pessoas que a receberam, resultado semelhante ao encontrado nos ensaios clínicos da vacina.
Em 2020, um em cada oito idosos, que na época tinham 86 e 87 anos, havia sido diagnosticado com demência. Mas aqueles que receberam a vacina contra herpes-zóster apresentaram uma probabilidade 20% menor de desenvolver demência em comparação com os não vacinados.
Mulheres
Em outra descoberta, o estudo mostrou que a proteção contra a demência foi muito mais pronunciada em mulheres do que em homens. Isso pode ser devido a diferenças entre os sexos na resposta imunológica ou na forma como a demência se desenvolve, sugere Geldsetzer. As mulheres, em média, têm respostas de anticorpos mais altas à vacinação, por exemplo, e o herpes-zóster é mais comum em mulheres do que em homens.
Ainda não se sabe se a vacina protege contra a demência estimulando o sistema imunológico como um todo, reduzindo especificamente as reativações do vírus ou por algum outro mecanismo. Também não se sabe se uma versão mais recente da vacina, que contém apenas certas proteínas do vírus e é mais eficaz na prevenção do herpes-zóster, pode ter um impacto semelhante ou até maior na demência.
Geldsetzer espera que as novas descobertas inspirem mais financiamento para essa linha de pesquisa. (Com informações do jornal O Globo)