Terça-feira, 08 de Outubro de 2024

Home Brasil Vacinação da primeira infância contra covid tem análise lenta no Brasil

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Enquanto o Ministério da Saúde amplia o público elegível ao reforço contra a covid, crianças com menos de 5 anos continuam sem imunizante disponível para iniciar a cobertura vacinal. Já nos Estados Unidos as vacinas da Pfizer e da Moderna receberam aval para aplicação em bebês a partir dos 6 meses, mas nenhuma das farmacêuticas submeteu pedido para essa faixa etária no País. A solicitação de uso da Coronavac em crianças de 3 a 5 anos, por sua vez, aguarda decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) há cerca de cem dias.

Pediatras destacam que essa imunização se mostra cada vez mais importante. Isso porque o Brasil vive uma “epidemia” de vírus respiratórios na população pediátrica, e embora adultos tenham sido mais acometidos, a covid também leva jovens a óbito. Ao mesmo tempo, o País enfrenta nova alta de casos, por causa de variantes mais transmissíveis.

O Instituto Butantan, parceiro do laboratório chinês Sinovac, protocolou a solicitação de aplicação da Conovac em crianças de 3 a 5 anos no dia 11 de março, mas segue sem uma resposta. Essa é a terceira vez que o centro de pesquisa tenta a liberação do imunizante nessa faixa etária.

A vacina já é aplicada em pessoas a partir de 3 anos em China, Chile, Colômbia e Equador. As últimas atualizações dadas sobre o processo foram de que, em 1.º de junho, o Butantan submeteu dados adicionais para análise, e de que, no dia 8, a agência fez reunião com especialistas externos.

O órgão regulatório informou ter recebido “pareceres das sociedades médicas” e que “vai dar continuidade ao processo”.

A primeira solicitação de dados complementares foi feita em 14 de abril. Em 11 de maio, o instituto disse ter submetido novos dados para dar suporte ao pedido de extensão do uso pediátrico da Coronavac. No material, foi anexado um relatório que calculou quantas mortes teriam sido evitadas se a vacina tivesse sido aprovada para essa faixa.

“Demonstra que ao menos 1.471 vidas teriam sido poupadas se as crianças de 3 a 5 anos tivessem sido vacinadas entre 1.º de dezembro e 21 de março 2022, que teríamos 58% menos hospitalizações, 57% menos mortes e 599 hospitalizações evitadas”, aponta o site do órgão.

Demora

O pediatria Eduardo Jorge da Fonseca Lima, ligado à Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), diz confiar na Anvisa, mas que, de fato, a decisão “tem demorado mais do que o esperado”. Na visão dele, a agência pode estar esperando pela publicação dos dados de segurança e eficácia da vacina em crianças de 3 a 5 anos em revista científica, com revisão por pares.

Lima destaca que os dados apresentados, enviados pelo Ministério da Saúde do Chile, são “bem convincentes”. A SBP, assim como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), foram consultadas pela agência.

O pediatra afirma que não pode falar sobre o teor do parecer apresentado pela associação à qual é ligado, no entanto, diz esperar que a inclusão em bula seja aprovada. “Por ser uma vacina de plataforma inativada, portanto, muito usada na pediatria, muito segura.”

Marcelo Otsuka, infectologista e vice-presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), concorda que a agência nac ional está demorando para se posicionar. “É um atraso que não procede, que não deveria ocorrer. São situações que acabam prejudicando a população, até porque nós temos muito mais facilmente a Coronavac aqui do que outras vacinas.”

“A partir do momento que nós temos uma infecção grave, todos os fatores que forem benéficos para o controle ou tratamento dessa infecção devem ter agilidade”, explica ele. “É lógico que nós precisamos de dados robustos. É uma liberação que precisa ser embasada em uma teoria, em uma confiabilidade muito grande. Nós temos isso para Coronavac? Temos. Inclusive, no Chile tem sido feita a utilização da vacina acima de 3 anos há um bom tempo.”

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