Domingo, 05 de Maio de 2024

Home Tecnologia Vida em frente às telas é uma realidade, mas crianças requerem atenção no mundo real

Compartilhe esta notícia:

A vida em frente às telas é uma realidade. Vivemos entre aparelhos conectados em rede e, quando bem aproveitada, a tecnologia facilita o dia a dia das pessoas.

Pesquisa da Fundação Getulio Vargas divulgada na semana passsada revela que o Brasil tem uma média de 2,1 dispositivos digitais – entre televisores, computadores, tablets e smartphones – por habitante, número que leva em conta tanto o uso doméstico quanto corporativo. Ao todo, são 447 milhões de aparelhos, sendo 52% celulares.

Outra pesquisa recente, a Vigitel Brasil, realizada pelo Ministério da Saúde, aponta que 66% dos adultos passam ao menos três horas do seu tempo livre em frente às telas, além do uso durante o trabalho. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a média sobe para 83,2%.

Antes de concluir que a hiperconexão e o tempo dedicado a ela são prejudiciais por si só, o pedagogo Marcelo Neves questiona que tipos de uso se faz desses aparelhos. Para ele, que é professor dos cursos de Tecnologia da Fadergs, essa tendência só tende a aumentar com a chegada do 5G e a popularização do Metaverso.

Será que esses dados indicam que os adultos dedicam menos tempo a atividades físicas, potencializando riscos para o desenvolvimento de doenças crônicas? Ou podem ficar mais ansiosos na expectativa de recompensa por likes e comentários nas redes sociais? Para o especialista, não necessariamente. “As pessoas se relacionam, jogam, se exercitam, assistem a filmes, leem, estudam em frente às telas. São as mesmas atividades do mundo físico. Na vida real, também existe sedentarismo e aquela tendência de se matricular na academia e frequentar só por alguns dias, sempre existiu fofoca e fake news – boatos, mentiras –, e a expectativa de sermos notados quando nos arrumamos para um evento social”, argumenta.

O ser humano é sociável por natureza e ele encontra sociabilidade nas tecnologias. Hoje, é a internet, mas já foi o telefone e mesmo a troca de cartas. Mas por que as pessoas escolhem fazer suas atividades de lazer sem sair de casa? Marcelo sinaliza dois componentes importantes em nossa sociedade: a economia e a insegurança. “Os custos de vida aumentaram muito e tem a violência urbana também. Para uma família, sair para um passeio envolve pagar condução ou gastar gasolina e em estacionamento, comprar um lanche. O contato humano é importante sim, mas acaba sendo uma questão de custo-benefício”, equaliza.

A pandemia de coronavírus potencializou esse comportamento pela necessidade do isolamento físico, e a crise social decorrente dela deu sequência a isso, enquanto em alguns países mais ricos vemos a população tentando voltar ao mundo real.

Pais têm responsabilidades fora das telas

São necessárias políticas ostensivas de segurança e oferta de lazer acessível para reverter um pouco desse quadro em países como o Brasil. Mesmo programas gratuitos, como a maioria dos museus de Porto Alegre, por exemplo, têm custos embutidos, com transporte e eventual alimentação.

“E também não criamos esse hábito, pois os pais delegam muito às escolas a questão da leitura e de interesses culturais”, diz Marcelo, lembrando que a educação deve ser um dever partilhado entre Estado e família, que não pode abrir mão de participar dos processos de aprendizagem e de relações familiares. Essa é a grande problemática que o pedagogo enxerga nos números apresentados pelas pesquisas: o tempo para o exercício da parentalidade.

Adultos podem optar por usarem seu tempo livre em frente às telas, mas quando são pais de filhos pequenos têm responsabilidades com esses cérebros ainda em formação. “Não se pode replicar esse comportamento às crianças, elas precisam de atenção e interação para se desenvolver. Infelizmente, vemos muito isso: é difícil ir a um restaurante e não observar pais dando tablets para entreter os filhos. Cada vez mais vemos crianças com atraso na fala ou na mobilidade por falta de interação, pois são habilidades que se desenvolvem com conversa, com estímulos”, aponta.

Marcelo, porém, lembra que o problema, mais uma vez, não está na tecnologia: “Tudo que é desconhecido gera receio, desconfiança. Mas falhas de comunicação e falta de interação entre pais e filhos sempre existiram”.

Pai de três filhos, o pedagogo reconhece que a paternalidade exige dedicação e esforço. “As pessoas chegam do trabalho exaustas e só querem relaxar. É difícil mesmo dedicar a atenção necessária às crianças, mas ela é fundamental, principalmente na primeira infância, e é responsabilidade dos pais”, reforça. Existem muitas opções para ter um tempo de lazer e interatividade com as crianças sem depender das telas: podem ser atividades ao ar livre, introdução a livros, outras opções culturais ou jogos de tabuleiro. Mas a brincadeira deve ocorrer entre pais e filhos, com as crianças como protagonistas.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Tecnologia

Os desafios das energias renováveis usadas no Brasil
Legião da Boa Vontade completa 67 anos de trabalho socioassistencial em Porto Alegre
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa Na Madrugada