Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Home Você viu? Vincent Van Gogh: a história do pintos holandês que produziu quase 900 telas em menos de 10 anos

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Em 25 de março de 2021, uma tela de Vincent Van Gogh (1853-1890), Cena de Rua em Montmartre (1887), foi vendida por 14 milhões de euros (cerca de R$ 77,4 milhões), em Paris. Seis anos antes, outro quadro do pintor, Les Alyscamps (1888), foi leiloado por US$ 66 milhões (R$ 333,9 milhões), em Nova Iorque.

Muito? Nem tanto. O maior valor já pago por uma de suas obras, Retrato do Dr. Gachet (1890), foi US$ 82,5 milhões (R$ 417,4 milhões), em 1990.

Quem arrematou o quadro, uma homenagem ao médico francês Paul Gachet (1828-1909), que cuidou da saúde mental de Van Gogh em seus últimos dias de vida, foi o empresário japonês Ryoei Saito (1916-1996). Para amigos, Saito chegou a confidenciar que, quando morresse, queria ser cremado com a tela.

Extravagâncias à parte, reza a lenda que, durante sua vida, Van Gogh teria conseguido vender uma única tela, A Vinha Encarnada (1888), por módicos 400 francos, para a pintora belga Anna Boch (1848-1936).

“Não sabemos exatamente quantas pinturas Van Gogh vendeu durante a vida. À época, seu trabalho era considerado moderno demais aos olhos dos negociantes de arte”, explica Nienke Bakker, curadora do Museu Van Gogh, em Amsterdã, na Holanda.

A carreira de Van Gogh durou pouco: de dezembro de 1881 a julho de 1890. Em menos de uma década, pintou 879 telas. Só de autorretratos, foram 37.

Na falta de dinheiro para contratar modelos, recorria a um espelho para pintar a si mesmo: fumando cachimbo (1885), com chapéu de palha (1887), diante do cavalete (1888), com a orelha cortada (1889).

Ou pintava alguns conhecidos que não cobravam cachê para posar, como o carteiro Joseph Roulin, retratado em O Carteiro Joseph Roulin (1888); Julien Tanguy, o dono de uma loja de pintura em Paris, em Retrato de Père Tanguy (1887), ou Marie Ginoux, a dona de um restaurante em Arles, em A Arlesiana (1888).

Em seus últimos anos de vida, trabalhava uma média de 16 horas por dia. Comia mal, dormia pouco, bebia demais.

Das mais de 800 telas a óleo que produziu, seis estão entre as mais famosas da pintura universal: A Cadeira de Van Gogh com Cachimbo (1888), Os Girassóis (1888), Terraço do Café à Noite (1888), Quarto em Arles (1889), A Noite Estrelada (1889) e A Igreja de Auvers (1890).

Se teve algo que Van Gogh gostou de fazer tanto quanto pintar quadros foi escrever cartas. Só para o irmão Theo (1857-1891), quatro anos mais novo, redigiu 652.

A primeira em 29 de setembro de 1872 e a última no dia de sua morte. Todas foram guardadas por Johanna van Gogh-Bonger (1862-1925), cunhada do pintor, e reunidas no livro Cartas a Théo (1914).

Por incontáveis vezes, Theo emprestou dinheiro ao irmão e deu-lhe conselhos em momentos difíceis. Os dois eram tão próximos que, coincidência ou não, Theo morreu apenas seis meses depois de Vincent. Hoje, estão sepultados, lado a lado, no cemitério de Auvers-sur-Oise, na França.

Van Gogh não cresceu numa família de artistas. Seu pai, Theodorus, era pastor calvinista. Tampouco foi um menino prodígio. Só descobriu sua vocação aos 27 anos. Antes disso, trabalhou como negociante de arte, professor de internato e balconista de livraria. Até pregador, igual ao pai, tentou ser.

No campo amoroso, Van Gogh foi tão malsucedido quanto no religioso. Colecionou amores não-correspondidos, como Eugénie Loyer, a filha de sua senhoria, e Kee Vos Stricker, uma prima viúva.

Geniais ou geniosos

Van Gogh morou em diferentes cidades: Bruxelas, Londres, Paris… Na capital francesa, onde viveu por dois anos, fez amizade com outros pós-impressionistas, como Paul Cézanne (1839-1906), Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) e Paul Gauguin (1848-1903).

Depois de uma temporada em Paris, viajou para Arles, no sul da França, em fevereiro de 1888. Lá, tentou fundar uma comunidade de artistas. Chegou a alugar uma casa, eternizada em A Casa Amarela (1888), como sede da colônia.

Em seus últimos anos de vida, Van Gogh foi internado em duas instituições psiquiátricas: uma em Arles, entre dezembro de 1888 e maio de 1889; e outra em Saint-Rémy, entre maio de 1889 e maio de 1890, ambas na França. Na maioria das vezes, seu tratamento consistia em banhos gelados duas vezes por semana.

Num dos sanatórios, transformou a cela em ateliê. Foi lá, aliás, que criou uma de suas obras-primas: A Noite Estrelada. A pintura inspirou o cantor Don McLean a compor Vincent, um de seus maiores sucessos, no outono de 1970.

A razão da loucura

Até hoje, não se sabe ao certo o que Van Gogh tinha. As hipóteses são muitas: de sífilis a epilepsia. Algumas delas, inclusive, já foram refutadas. A mais aceita diz que sofria de um misto de transtornos: bipolar e de personalidade (borderline).

Não bastasse, alguns de seus surtos e delírios teriam sido provocados, segundo estudo recente, por abstinência alcoólica.

Sim, Van Gogh era um bebedor contumaz de absinto e fora obrigado a parar de beber quando internado. Os cientistas chegaram a tal conclusão depois de analisar centenas de cartas e prontuários médicos.

Em maio de 1890, Van Gogh deixou o sanatório de Saint-Rémy e se mudou para o vilarejo de Auvers-sur-Oise. Dois meses depois, pintou sua última tela: Campo de Trigo com Corvos (1890).

Quando soube que Theo, recém-casado e com filho pequeno, estava em dificuldade financeira, entrou em desespero. Afinal, era o irmão quem lhe mandava dinheiro para comprar quadros, tintas e pincéis.

No dia 27 de julho, Van Gogh saiu para passear em um campo próximo ao hotel onde estava e atirou contra si mesmo. O pintor levou quase 30 horas para sucumbir ao ferimento à bala. Morreu no dia 29 de julho de 1890, por volta de uma da manhã.

Como quase tudo relacionado a Van Gogh, o revólver Lefaucheux, calibre 7 mm, supostamente usado no dia do seu suicídio, também foi a leilão, quase 130 anos depois.

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