Segunda-feira, 08 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de setembro de 2025
O recuo de preços ao consumidor em agosto da carne bovina e do café, alimentos presentes no dia a dia dos brasileiros que foram alvos do tarifaço dos Estados Unidos, deve durar pouco. Mas isso não compromete a trajetória, ainda que lenta, de desaceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação, nem do custo da alimentação no domicílio esperada para os próximos meses, segundo economistas.
Anunciada em 9 de julho para entrar em vigor em 6 de agosto, a tarifa de importação de 50% sobre produtos brasileiros imposta pelos EUA abriu a possibilidade de que poderia haver um aumento da oferta no mercado interno de itens super tarifados que não seriam exportados. A expectativa era de que essa “sobra” de produtos poderia ter impacto negativo nos preços domésticos e, consequentemente, na inflação.
Em alguns itens, a queda de preços no atacado por conta do tarifaço ocorreu em julho e chegou ao consumidor em agosto, conforme aponta um estudo da consultoria 4intelligence.
A cotação média mensal da arroba do boi gordo, por exemplo, recuou para cerca de R$ 300 em julho deste ano, o menor nível desde outubro de 2024, segundo o estudo, com base nos dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP (Cepea).
No caso da laranja, matéria-prima do suco importado pelos EUA — inicialmente tarifado em 50% e que depois entrou para a lista de exceções — as cotações despencaram num primeiro momento. O preço do quilo da fruta no atacado da Central de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp), que estava em quase R$ 2,5 no início de junho, recuou para cerca de R$ 2 no final de julho.
Movimento semelhante ocorreu com o café. A cotação do produto do tipo arábica na bolsa de Nova York, cotado a 340 centavos de dólar por libra-peso no início de junho, havia recuado para menos 300 centavos de dólar por libra-peso no fim de julho.
Essas retrações no atacado apareceram nos preços no varejo em agosto. Segundo o IPCA-15 de agosto, a prévia da inflação do mês, as carnes bovinas ficaram 0,94% mais baratas, o café moído teve queda 1,47% e o preço das frutas caiu 1,32%. O destaque foi para a manga, produto perecível amplamente exportado, cujo preço recuou 20,99% em agosto, segundo o IPCA-15. No caso da laranja, a queda foi de 3%.
Rearranjos
Segundo economistas, no entanto, o efeito da sobretaxa americana na queda de preços domésticos desses alimentos ficará limitado ao mês de agosto. Desde que foi anunciado o tarifaço, houve vários rearranjos no comércio internacional, que tiveram desdobramentos sobre os preços no atacado, observa Fabio Romão, economista sênior da 4intelligence.
O suco de laranja deixou de ser super tarifado. Com isso, a queda no preço da laranja estancou. E, mais recentemente, a cotação da fruta registrou alta por conta do clima mais quente e da maior procura.
Nesse rearranjo, as vendas de carne bovina foram ampliadas para o México, lembra o economista. O país assumiu, em agosto, a vice-liderança das importações de carne do Brasil, com um pouco mais de 10 mil toneladas, atrás da China e no lugar dos EUA, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Com isso, a cotação da arroba do boi gordo voltou a subir e, na terceira semana de agosto, girava em torno de R$ 310.
Além do aumento da exportação para mercados não tradicionais, Romão destaca que a oferta mais apertada por causa do ciclo do boi, com a redução de matrizes, contribuiu para elevação de preço. Junta-se a isso o fato de que, normalmente, a demanda é mais aquecida nos meses finais do ano, por causa da entrada do 13º salário. Esses fatores combinados devem sustentar daqui para frente as cotações da carne no atacado e no varejo, aponta o economista.
No caso do café também houve mudanças. A China habilitou 183 empresas brasileiras para exportação a partir do final de julho. Também a safra brasileira deste ano do café arábica teve rendimento 10% menor. Além disso, houve fechamento de contratos de exportação do grão para Europa e Ásia. Todos esses fatores combinados voltaram a impulsionar os preços do grão em agosto, quando a cotação do arábica em Nova York superou 360 centavos de dólar por libra-peso.
“O efeito desinflacionário do tarifaço na alimentação é pontual: afetou o IPCA-15 de agosto e vai afetar o IPCA fechado do mês, mas deve ficar para trás em setembro”, prevê Romão. A consultoria projeta para o grupo alimentação no domicílio do IPCA cheio de agosto queda de 0,85%. Em setembro, segundo as previsões, a variação de preço desse grupo deve voltar para o terreno positivo, com alta de 0,21%. Com informações do portal Estadão.