Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Home Comportamento Aprenda a investir com o cérebro, não com o coração

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Quem desse uma espiada naquela sala de eventos com mais de 30 pessoas espalhadas, em um sábado nublado em São Paulo, dificilmente imaginaria que tipo de curso estaria acontecendo ali. Dentre os participantes, os perfis eram bem diversificados, assim como os sotaques.

A atividade era se imaginar tomando um vinho. Primeiro a professora colocou o líquido em uma taça. Depois, o despejou da taça em uma garrafa plástica, que jogou em um balde onde se lia “lixo”. Neste momento, as faces dos estudantes apresentavam uma combinação de nojo com perplexidade. Alguns minutos depois, a ficha caiu.

Nosso cérebro cria associações que não controlamos, associadas à memória. Se o cheiro do vinho lembra uma comemoração, quando colocado em um balde de lixo, o valor muda completamente.

“É a associação que traz a sensação de coisas positivas”, explicou a professora Danielle Gurgel, que ministra o curso “NeuroTrading”.

O curso se propõe a colocar os alunos — traders (operadores de alta frequência no mercado financeiro) ou aspirantes a traders — a pensarem sobre o que, de fato, controlam e o que é simplesmente ditado pelo cérebro.

Falar sobre neurociência para investidores não é algo comum. Apesar de as finanças comportamentais terem ganhado cada vez mais adeptos, são raros os cursos que entram em temas da biologia celular, psiquiatria, psicologia e, ao mesmo tempo, finanças. É isso que Danielle se propõe a entregar.

Formada em administração de empresas, com especialização em finanças corporativas e mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, Danielle ainda passou 10 anos dedicados a sistemas de negociação para investidores.

Nesse período, teve contato direto com inúmeros profissionais que se viciam na adrenalina de operar ações, minicontratos, criptomoedas, câmbio, entre outros ativos, em uma frequência alta, abdicando, muitas vezes de uma boa noite de sono e de uma refeição.

Somos irracionais

Vendo aquilo e se incomodando, em um daqueles momentos que a vida gira e mostra outros caminhos, ela decidiu largar o mercado financeiro e ir estudar biologia, tendo se encantado pelo cérebro humano. Decidiu, então, que era com isso que iria trabalhar.

Em um primeiro momento, as frases parecem ter pouco contexto, mas as aulas são pensadas para levar as pessoas a entenderem como, biologicamente, o cérebro funciona, mostram – e compravam – como somos seres irracionais, e dá dicas preciosas para os investidores conseguirem se dar melhor nas aplicações, seja controlando impulsos ou mudando sua maneira de pensar.

Ela defende que, quando o investidor aprende a ler corretamente o que está acontecendo com suas emoções, fica apto a tomar decisões que podem conduzi-lo ao que realmente quer. Explica que a ação final (atitude a partir da decisão) é sempre a resposta de um processo prévio, que aconteceu antes e que está longe do consciente.

Analisar as emoções, como raiva e medo, é uma das “disciplinas” ensinadas. Parte do contexto do curso vem do que o Nobel Daniel Kahneman apresentou no seu best seller “Rápido e devagar”: os seres humanos têm duas formas de pensar que trabalham juntas, um lado que controlamos, mas pensa devagar, e um lado que é intuitivo, que pensa rápido, mas que muitas vezes nos leva a tomar decisões precipitadas. Isso porque na história da evolução humana, o cérebro percebeu que só daria para tomar a quantidade de decisão que o humano toma se poupasse energia e, por isso, pegar “atalhos”, buscar padrões, virou uma questão de sobrevivência.

Vieses comportamentais

Parte importante dos ensinamentos estão ligados aos vieses comportamentais. Na opinião da especialista, dois vieses que acometem os investidores são o efeito manada, em que as pessoas seguem o comportamento dos outros, e o FOMO (fear of missing out, ou, na tradução, medo de ficar de fora).

“O efeito manada é um processo absolutamente biológico; nossa máquina cerebral tende a copiar”. Ela cita, porém, que no caso dos investidores, o FOMO é ainda mais presente. “Neste caso, não é nem a cópia; é o medo de não participar”, pontua. É por isso, diz, que muita gente, vendo que a operação não está dando certo, posterga ao máximo a saída da aplicação, porque teme que vai haver uma virada no mercado e ele pode ficar de fora. “E se vender e o papel subir?”, pensa.

Outro ponto que, na visão de Danielle, é o maior desafio do investidor que se aventura a cuidar sozinho de toda sua carteira é a imprevisibilidade. A incerteza com relação ao que vem por aí deixa as pessoas sem parâmetros, o que se viu durante a pandemia, com seis ‘circuit breakers’ (parada da negociação da bolsa de valores por quedas acima de 10%) na B3.

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