Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Home Mundo Armas dos EUA para a Ucrânia e expansão da Otan acirram relação com a Rússia

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A quem interessa a possibilidade de um conflito armado na Ucrânia? De imediato, ganha quem fatura com a venda de armas. E o Congresso dos Estados Unidos se prepara para votar um projeto de lei chamado “Proteger a Ucrânia”, no valor de US$ 500 milhões, para fornecer armamento ao país vizinho da Rússia.

Bem armada, a Ucrânia teria alguma chance de vencer uma disputa militar com a Rússia de Vladimir Putin?

Especialistas cravam que não. Além da superioridade militar, a Rússia é uma potência atômica, o que torna impossível um confronto direto dos aliados do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, com Moscou. Mas quase todos os países da região estão comprando armas, equipamentos militares e munição.

O risco de um enfrentamento e o aumento da tensão dão aos políticos, em Washington, o ingrediente necessário para unir o que as discussões da política interna não permitem. Republicanos e Democratas costumam abandonar as diferenças quando precisam tomar decisões sobre guerras e conflitos distantes. É o que se vê agora.

O Congresso americano está discutindo a aprovação de um pacote de sanções à Rússia e a liberação de verba para enviar mais armas à Ucrânia e aos países do leste europeu.

O Senador Bernie Sanders, de 80 anos, é um veterano da dissidência. E confirmou a postura esta semana, na tribuna do Senado, quando trouxe à tona o histórico que, segundo ele, levou o mundo ao conflito que agora ocupa as manchetes do planeta.

“A América pode fazer algumas coisas para cutucar Putin e levá-lo a mudar de rumo”, disse Sanders. Ele argumentou, como muitos historiadores, que a rápida expansão da Otan até a fronteira da Rússia, nos anos 1990, puxada pelos Estados Unidos, foi um erro estratégico que desestabilizou as relações entre os países.

“Mesmo que não fosse governada por um líder autoritário e corrupto como Vladimir Putin, a Rússia, assim como os Estados Unidos, teria interesse nas políticas de segurança de seus vizinhos. Ou alguém acredita que os Estados Unidos não teriam nada a dizer caso, por exemplo, o México formasse uma aliança militar com um adversário da América?”, perguntou Sanders aos colegas do Senado.

John Joseph Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago, PhD em relações internacionais pela Universidade Cornell, escreveu um artigo nesta semana que sustenta a tese defendida por Sanders.

Mearshemeir conta que a primeira rodada de expansão da Otan aconteceu em 1999 com a inclusão da República Tcheca, da Hungria e da Polônia. Em 2004, foi a vez de Bulgária, Estônia, Lituânia, Letônia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia.

Em 2008, a Otan considerou ir mais longe e incluir também Georgia e Ucrânia, já na fronteira com a Rússia. França e Alemanha foram contra, argumentaram que seria antagonizar demais os russos.

E a decisão final foi intermediária: o processo formal de inclusão dos dois países não começou, mas em comunicado, naquela época, a Otan apoiou as aspirações da Georgia e da Ucrânia e garantiu que os dois se tornariam membros no futuro.

Em uma década ou duas os livros de história vão contar o que foi esse conflito. Se ele vai se materializar em troca de tiros e estatísticas tristes de mortos e feridos ainda é uma dúvida.

Mas a guerra de informações, versões e narrativas já está em pleno andamento. E ela pode causar problemas econômicos nos quatro cantos do mundo ou produzir uma nova configuração da segurança mundial, caso o espaço reduzido da saída diplomática produza resultados.

Em Moscou, depois de um encontro com a Ministra das Relações Exteriores da Grã Bretanha, Sergei Lavrov disse que a conversa parecia ineficaz. Essa é a reclamação central da Rússia. E está fazendo a Ucrânia refém para forçar o debate e mudanças no equilíbrio de forças vigente.

Divulgação

O presidente da França, Emmanuel Macron, vai enfrentar as urnas em abril e se posicionou como possível negociador da paz nesse conflito. Ele tem dito que a Rússia não está interessada em anexar a Ucrânia e sim em mudar a situação da segurança na Europa.

Mas a ameaça à soberania da Ucrânia é palpável. São mais de 100 mil soldados russos se movimentando em diferentes pontos da fronteira. Em Belarus, país na fronteira norte da Ucrânia e parceiro da Rússia, outros 30 mil soldados fazem exercícios militares que só terminam no dia 20 de fevereiro.

Manobras navais, com navios de guerra, no Mar Negro, costa sul da Ucrânia, completam um quadro do cerco militar ao país. Mas a Rússia insiste que não tem a intenção de invadir o vizinho.

Em conversa com o Secretário de Estado Anthony Blinken, Lavrov disse que o Kremlin está terminando de escrever a resposta da Rússia às propostas americanas. Talvez um sinal de que o país não tem a intenção de invadir a Ucrânia, ao menos no curto prazo, já que ainda está engajado nas negociações.

Os Estados Unidos e as principais potências europeias, que já têm tropas estacionadas nos países do leste europeu, em sistema de rodízio, aumentaram o contingente militar na região fazendo exatamente o oposto do que Putin gostaria de ver como resultado de todo esse conflito.

E mais: Estados Unidos e Europa estão armando não só a Ucrânia como os países bálticos e o Leste Europeu. Se a economia mundial sofre com a pandemia, a indústria armamentista, aparentemente, não tem o que temer. As vendas estão em alta.

A semana terminou com um alarme generalizado. O assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, deu uma entrevista na Casa Branca e garantiu ter acesso a informações do serviço de inteligência americano que indicação a iminência de uma invasão.

Pressionado pelos jornalistas que relembraram as informações falsas da CIA a respeito da produção de armas de destruição em massa no Iraque, Sullivan disse que agora é diferente.

“Não estamos tentando começar uma guerra, estamos tentando evitar uma guerra”, disse. Mas deixou o dito pelo não dito quando completou: “Não estamos dizendo que Putin já tomou a decisão de invadir”.

Quando tomou posse em 1993, o então presidente americano, Bill Clinton, decidiu que não haveria uma corrida da Otan rumo à Rússia. Mas no ano seguinte os republicanos deram uma surra nos democratas nas eleições que renovaram o Congresso.

E uma das bandeiras do partido, naquela época, era justamente a expansão mais rápida possível da Otan. Clinton trocou de lado na questão. Agora, o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, vê o próprio cargo ameaçado por conta das festas que aconteceram na sede do governo, em plena pandemia. Nos Estados Unidos, a popularidade de Joe Biden despenca.

E a movimentação de tropas russas e dos aliados da Otan ganha volume em torno da Ucrânia. Difícil saber quem ganha essa queda de braço. Mas quem tem mais chances de perder, e muito, são os ucranianos.

Biden e Putin conversam

Biden e Putin realizaram ontem uma ligação telefônica. O presidente americano alertou a Putin que os EUA e seus aliados responderão “decisivamente e imporão consequências rápidas e severas” à Rússia caso Putin decida invadir a Ucrânia.

A ligação entre os dois líderes ocorreu horas depois que os EUA retiraram algumas de suas forças da Ucrânia e ordenaram a evacuação da maioria de seus funcionários da embaixada no sábado, devido ao temor de que uma invasão russa do país possa ocorrer nos próximos dias. As medidas são vistas por especialistas como mais um sinal de que os EUA temem que Putin possa ordenar uma invasão a qualquer momento.

Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia tem afirmado que os países ocidentais estão espalhando uma “campanha de desinformação em larga escala”, que promove a tese sobre uma suposta invasão iminente da Rússia à Ucrânia.

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