Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Home Brasil Ausência de resultados de autotestes de covid estão mascarando estatísticas sobre a pandemia

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A falta de dados sobre os resultados obtidos nos chamados autotestes de covid pode estar mascarando o real número de novas contaminações no Brasil.

O alerta está sendo feito por especialistas em saúde pública, que apontam que o número de novas infecções pelo coronavírus parece estar em níveis muito maiores atualmente do que apontam as estatísticas nacionais.

Essa suposta defasagem nos dados pode representar um risco para o trabalho de planejamento de gestores de saúde; além disso, pode estar levando a população a ter uma visão incompleta sobre o momento da pandemia.

O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde aponta aumento de 12% no número de casos no Brasil na segunda semana de maio (123.564 casos) ante a primeira semana. O boletim também aponta aumento de 19% no total de mortes no período: foram 746 mortes na segunda semana.

Os dados nacionais compilados pelo consórcio de veículos de imprensa também têm apontado alta nos números. Apesar dos aumentos, os dados seguem muito mais baixos do que os do pico registrados em janeiro e início de fevereiro. O ministério e o consórcio se baseiam em dados das secretarias estaduais de Saúde – que computam os casos informados obrigatoriamente pelos laboratórios, hospitais e farmácias.

O problema da nova realidade dos autotestes para as estatísticas é que as pessoas que usam em casa os kits de diagnóstico não são obrigadas a informar os resultados às secretarias de saúde.

E ainda que as estatísticas apontem alguma alta, parecem oferecer um quadro
menos preocupante do que o descrito por especialistas.

“O aumento do número de casos é algo absolutamente indiscutível. Você pergunta para qualquer um na prática clínica e todos estão vendo muito mais casos esses dias. Felizmente, casos mais leves, mas com facílima transmissão”, disse a infectologista Rosana Richtmann, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo.

“E por que os números não estão batendo? Por subnotificação. Claro que o
autoteste ajudou demais em termos de você ter facilidade de detectar se está com covid, no entanto, a subnotificação aumentou demais. A pessoa vê que o resultado positivo e isso não é notificado. Tem inúmeros casos assim. Os números oficiais de casos não correspondem aos números que estamos vendo”.

Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador do InfoGripe, plataforma da instituição que acompanha a evolução de síndromes respiratórias, entre elas covid-19, acrescenta: “A questão dos autotestes acaba gerando um viés nos dados oficiais. Embora haja a recomendação que as pessoas que tenham resultado positivo nesse tipo de exame busque atendimento para cuidados e notificação, é difícil esperar que a maioria das pessoas de fato façam isso, especialmente em casos leves. E aí os dados acabam ficando mascarados”.

Gomes enfatiza a importância dos autotestes, como uma ferramenta prática para detecção em casa de casos de covid. O problema é o que tem sido feito com os resultados.

“Os autotestes têm um papel importante para as ações individuais, no sentido de auto-isolamento e quarentena, por exemplo, mas têm também um impacto no acompanhamento dos dados oficiais.”

Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), reforça a percepção de aumento dos casos. “Está havendo aumento de número de casos, sem sombra de dúvida”, afirmou ele. “Está havendo recrudescimento do que esperávamos ser uma fase endêmica.”

A Anvisa aprovou em fevereiro o primeiro autoteste no País. Hoje são 31 com aval da agência para serem comercializados. São kits fabricados no Brasil, China, Coreia do Sul, Alemanha, EUA e França.

A Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) e a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) montaram o site
meuautoteste.com.br/ para registrar os resultados positivos e negativos – daqueles clientes que decidem partilhar seus diagnósticos.

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