Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Home Brasil Baixos estoques e desinformação travam imunização infantil: País só vacinou 10% do público de 5 a 11 anos

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A aplicação de vacinas contra a covid em crianças de 5 a 11 anos avança em ritmo lento no Brasil. Desinformação, problemas de planejamento e escassez de imunizantes dificultam o avanço da campanha, iniciada só um mês depois da aprovação das autoridades sanitárias. Levantamento feito pelo jornal Estadão junto aos governos estaduais mostra que, até a última segunda-feira (31), cerca de 1,9 milhão de crianças tinham sido vacinadas no Brasil – o que equivale a apenas 10% do público-alvo.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse em mais de uma oportunidade que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem capacidade para vacinar 2,4 milhões de pessoas por dia.

Há salas e profissionais suficientes para isso e o número já foi batido diversas vezes durante a campanha de imunização contra a covid. Considerando que o Brasil vem aplicando metade disso, cerca de 1,2 milhão de doses por dia, há espaço para vacinar mais de um milhão de crianças diariamente.

A falta de vacinas é um dos principais motivos para a lentidão na campanha – até a última terça-feira (1º), o governo federal tinha distribuído 8 milhões de doses para imunizar as 20 milhões de crianças brasileiras.

Esse foi o fator que fez a campanha infantil começar atrasada no País: as primeiras doses só chegaram na maioria das cidades em 17 de janeiro, um mês após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso da vacina pediátrica da Pfizer.

O contrato do governo com a farmacêutica americana, assinado no fim de novembro, prevê a entrega de 20 milhões de doses da vacina entre os meses de janeiro e março. Isso é suficiente para aplicar as duas doses em apenas metade do público-alvo. No cenário de falta de imunizantes, algumas cidades têm adotado critérios específicos e priorizado crianças mais velhas ou com comorbidades.

Já a Coronavac, vacina contra a covid fabricada no Brasil pelo Instituto Butantan, foi aprovada pela Anvisa para uso em crianças de seis a 11 anos em 20 de janeiro. Isso não transformou o cenário nos Estados, já que a maioria tem baixo estoque do imunizante.

As exceções são o Distrito Federal e São Paulo, locais onde há doses suficientes para vacinar todo o público infantil – e que lideram o ranking. O Ministério da Saúde afirmou ter seis milhões de doses em estoque e estima haver mais três milhões com os Estados. Se as projeções estiverem corretas, o total é suficiente para imunizar cerca de 4,5 milhões de crianças. Outras 5,5 milhões ainda não têm vacina garantida.

Nesta semana, o Ministério da Saúde consultou o Butantan sobre a possibilidade de encomendar mais 10 milhões de doses da vacina. O instituto diz ter o quantitativo à pronta entrega e afirmou que pode fornecer outras 20 milhões de doses em um prazo de até 25 dias após a assinatura do contrato. O último contrato entre as duas partes encerrou em setembro e não foi renovado pela gestão Bolsonaro. A última grande remessa de Coronavac foi enviada aos Estados e ao Distrito Federal em 16 de setembro.

Além da falta de doses, que já paralisou a vacinação em cidades como o Rio de Janeiro, a desinformação trava a campanha de imunização infantil. A divulgadora científica Ana Arnt acompanha a disseminação de informações falsas nas redes sociais e diz que a situação tem piorado. “A quantidade de informações erradas e a crueldade delas (fake news) estão muito maiores do que no ano passado”, afirma.

Ela diz que a desinformação gerada pelos movimentos antivacina estão muito mais sofisticadas e as reações adversas – raríssimas – são um dos principais focos. Se no ano passado notícias falsas diziam que o imunizante injetaria um chip em você, hoje elas falam que a vacina pode causar miocardite ou mal súbito nas crianças. “O movimento antivacina se alimenta dessa hesitação com crianças desde os anos 2000”, afirma.

Arnt também culpa o governo federal pela baixa adesão à campanha de vacinação. Ela afirma que as propagandas do Ministério da Saúde direcionadas ao público infantil colocam um “ponto de interrogação” e “incentivam a hesitação vacinal”. As publicações da pasta nas redes sociais dizem que a vacinação de crianças “é uma escolha dos pais e responsáveis” e precisa de autorização.

O órgão não incentiva a vacinação das crianças de maneira direta em seus canais. “É o que a gente chama de incentivar a hesitação vacinal, o que é muito sério e inédito em nosso País”, diz a professora.

O médico Guilherme Werneck, doutor em Saúde Pública e Epidemiologia pela Universidade de Harvard (EUA), afirma que tanto a Coronavac quanto a Pfizer foram aplicadas em milhões de crianças de vários países e os efeitos colaterais são raríssimos. “O risco que a criança tem de desenvolver um problema pela vacinação é ínfimo em relação ao risco de ser hospitalizada pela covid. O custo benefício é excelente. Não tem nenhum motivo para não vacinar as crianças”, diz.

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