Domingo, 05 de Maio de 2024

Home Mundo Brasil e Argentina celebram reaproximação, mas proximidade entre Fernández e Lula ainda pode atrapalhar

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A troca de farpas foi deixada de lado, o comércio bilateral vem crescendo em ritmo sustentado, todas as barreiras comerciais foram derrubadas e os dois presidentes, Jair Bolsonaro e Alberto Fernández, não fazem mais malabares para evitar encontros. Na comemoração organizada na noite de quarta-feira pela Embaixada da Argentina em Brasília para celebrar o Dia da Amizade entre os dois países, o clima foi de idílio e descontração.

Os convidados se divertiram com o show dado pelo embaixador da Coreia do Sul, Lim Ki-mo, que deleitou a plateia cantando tangos como Caminito. Foi uma festa e tanto, que contou com a presença de altas autoridades dos dois governos. Em 30 de novembro de 1985, os então presidentes Raúl Alfonsin e José Sarney determinaram que aquele seria o dia da amizade entre os dois países, marco histórico que buscou deixar atrás décadas de desconfiança e disputa regional. Anos depois nasceu o Mercosul, em 1991, e posteriormente os dois países viveram épocas de glória no vínculo bilateral.

Mas tudo isso pareceu ir por água abaixo quando Fernández foi eleito presidente da Argentina, em dezembro de 2019. O comércio já vinha em queda e o vínculo bilateral passou por várias turbulências, mas com Bolsonaro e o retorno do peronismo ao poder a relação viveu uma crise que, por momentos, pareceu terminal. O presidente brasileiro, num primeiro momento, orientou seu governo a não se relacionar com a Casa Rosada.

Os motivos da discórdia foram variados, mas um dos mais importantes foi a proximidade entre o presidente argentino e o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Fernández visitou na prisão. O chefe de Estado brasileiro, por sua parte, não perdeu oportunidade de atacar a Argentina publicamente e usar o país como exemplo de modelo esquerdista e socialista que, segundo Bolsonaro, seu governo evitaria que fosse implementado no Brasil.

A situação de extrema frieza e distanciamento começou a melhorar em meados de 2020, quando o embaixador argentino, Daniel Scioli, ex-governador da província de Buenos Aires e ex-candidato presidencial (derrotado pelo ex-presidente Mauricio Macri, aliado de Bolsonaro, em 2015), chegou ao Brasil afirmando que seu desafio era “desestressar a relação”.

Lula em Buenos Aires

Na noite da última quarta-feira, ficou claro que a meta traçada por Scioli, que parecia impossível há um ano e meio, foi alcançada. O desafio agora, reconhecem fontes dos dois países, é preservar essa conquista durante a campanha eleitoral brasileira. Lula planeja uma viagem a Buenos Aires para antes da próxima cúpula de presidentes do bloco, no dia 17 de dezembro, em Brasília. Assim, temem as fontes ouvidas pelo GLOBO, “o clima pode azedar”.

A intenção de Scioli e do Itamaraty é que Fernández e Bolsonaro finalmente tenham um encontro bilateral, no âmbito da reunião presidencial –os dois governos estão trabalhando para isso. Mas, segundo fontes do PT, está previsto que Lula seja recebido por Fernández em 10 de dezembro, e essa visita preocupa o governo brasileiro. O clima de pré-campanha eleitoral no Brasil e a disputa central entre Lula e Bolsonaro são uma pedra no sapato da relação, que nem Scioli nem os articulares que o ajudaram do lado brasileiro podem garantir que não atrapalhará a relação ao longo de 2022.

O evento na embaixada contou com a participação dos ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, de Minas e Energia, Bento de Albuquerque, e do secretário especial de Assuntos Estratégicos do Palácio do Planalto, almirante Flávio Viana Rocha, um dos que mais se empenharam em recompor o vínculo bilateral. Viana Rocha foi o primeiro funcionário de alto escalão que visitou Buenos Aires, em janeiro de 2021, e, em dobradinha com Scioli, vem trabalhando nos bastidores para aparar arestas e reaproximar os dois países.

Do lado argentino, veio de Buenos Aires o secretário de Assuntos Estratégicos, Gustavo Beliz, que na tarde desta quarta se reuniu com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e também foi recebido por Bolsonaro. No encontro, o ministro brasileiro expressou o apoio do Brasil à Argentina nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), cruciais no atual momento para a Casa Rosada e o futuro do desgastado governo Fernández, entre vários outros assuntos da agenda bilateral que foram conversados num clima de extrema cordialidade.

Céu azul

Os presidentes do Brasil e da Argentina enviaram saudações por vídeo e destacaram a importância da relação bilateral. Bolsonaro assegurou que “sempre estaremos juntos”, e Fernández disse que “trabalhamos todos os dias para que esta união seja crescente e de benefício mútuo”.

O céu está azul e Scioli conseguiu que o Brasil volte a ser o principal sócio comercial da Argentina, que acumula três meses consecutivos de superávit comercial na balança bilateral.

Os dois governos fecharam recentemente um acordo importante para reduzir a Tarifa Externa Comum (que taxa produtos de fora do Mercosul), menos do que Guedes queria, mas mais do que a Argentina pretendia, e agora esperam que o Uruguai aceite o entendimento na próxima cúpula presidencial. O governo do presidente Luis Lacalle Pou está fazendo exigências, a principal delas é que o Brasil apoie explicitamente sua decisão de negociar acordos por fora do bloco – começando pela China. Mas entre Brasil e Argentina hoje predominam entendimentos.

Bolsonaro e Fernández foram convencidos da necessidade de reconstruir a relação, apesar das diferenças ideológicas e de certa antipatia mútua. Resta saber se a eleição brasileira provocará novos sobressaltos entre os dois principais sócios do Mercosul.

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