Quinta-feira, 02 de Maio de 2024

Home Ciência Conheça o brasileiro que caça variantes do coronavírus e está no top 10 dos cientistas

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O brasileiro Tulio de Oliveira apareceu no pronunciamento à imprensa, em 26 de novembro, com camisa listrada, cabelos presos e aparência cansada. Reflexo da intensa corrida do cientista e de sua equipe para sequenciar amostras da nova cepa do coronavírus, que ganhou manchetes pelo mundo e foi batizada de Ômicron naquele dia.

Não é a primeira descoberta do pesquisador na pandemia: ele também foi o responsável por sequenciar a Beta, outra versão do Sars-CoV-2 achada na África do Sul e apontada como variante de preocupação pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Oliveira é diretor do Centro para Resposta a Epidemias e Inovação da África do Sul (Ceri). Naquele dia, após ter permissão do presidente Cyril Ramaphosa, o cientista pediu à OMS reunião para discutir a nova variante.

O encontro reuniu cem dos mais importantes cientistas da área, incluindo o renomado imunologista Anthony Fauci, que assessora a Casa Branca no combate à covid-19. “Sou o investigador principal da rede de vigilância genômica na África do Sul. Geralmente fico muito envolvido em falar com os outros chefes dos grupos de pesquisas de genômica no mundo”, conta ele, membro do grupo de evolução viral da OMS.

O alerta sobre a Ômicron e outras variantes levou Oliveira a um grupo ainda mais seleto: foi listado nesta semana entre os dez mais influentes do planeta pela revista Nature, ao lado do engenheiro Zhang Rongqiao, que coordenou uma missão chinesa a Marte, e da climatologista alemã Friederike Otto.

Ser portador de más notícias, porém, não rende apenas glórias. Após alertar a humanidade sobre o novo perigo, ele e colegas chegaram a ser ameaçados de morte. Para seguir trabalhando, aumentaram até a segurança na universidade. “Infelizmente é normal, porque a população em geral ainda tem dificuldade de entender que patógenos e epidemias vão surgir em áreas geográficas distintas”, diz.

Ele também lamenta a resposta de vários países à Ômicron, com muitas restrições aéreas e pouca oferta de envio de mais doses de vacinas aos países pobres. “Na verdade, a Ômicron pode ter vindo de qualquer lugar no mundo. E mesmo banindo voos da África do Sul, ela foi para todo lugar.”

Rastros

Oliveira, que começou os estudos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), está na África do Sul desde 1997 e trabalha com vigilância genômica há quase 20 anos. Tem centenas de publicações em revistas de renome como a própria Nature, Science, Lancet e NEJM. “Antes do mundo todo trabalhar com vigilância genômica”, comenta.

A habilidade para o sequenciamento foi usada no país africano para investigar o vírus da aids. “A gente implementou em grande nível o uso de genômica para identificar mutações em pacientes em que falham as terapias de HIV e tuberculose, para colocá-los em uma linha de terapia mais eficiente”, explica.

Nas últimas duas décadas, o Ceri e o Krisp, instituições que Oliveira dirige, têm recebido pesquisadores brasileiros. “Eles vão e voltam, tanto para trabalhar com a gente aqui, como a gente trabalhando na resposta genômica para vírus emergentes no Brasil”, diz o cientista, que trabalha em parceria com instituições nacionais, como a Fiocruz.

A equipe de Oliveira também esteve por trás do sequenciamento de outros vírus conhecidos dos brasileiros, como o zika, que levou a OMS a decretar emergência internacional em 2016, febre amarela, dengue e chikungunya. Em 2019, a equipe dele instalou laboratórios de sequenciamento de DNA móveis, dentro de motor homes ou ônibus, para seguir o rastro das epidemias pelo Brasil. “Fizemos uma grande viagem. Saímos de Cuiabá e fomos a Campo Grande, de lá fomos para Goiânia, e depois Brasília. Do meio para o fim de 2019, tivemos grandes surtos de dengue e chikungunya no Centro-Oeste”, lembra.

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